Das muitas histórias que conheço, essa é muito especial. Maria, com grande amor desempenha a função de cuidar de bebês. Não possuía conhecimento de que era soropositivo. Quando descobriu, uma avalanche de problemas passou a enfrentar.
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Todavia, consciente de que o coquetel de remédios seria primordial para a sua saúde, passou a fazer o tratamento regularmente. Anjos surgiram em sua vida! O primeiro foi o companheiro que por ela se apaixonou. Antes de qualquer coisa, Maria informou ao seu “Amor” ser soropositivo. Qual o problema? Casaram-se. Vivem felizes!
Quanto ao labor, ficou sabendo de uma jovem mãe que estava à procura de alguém para cuidar do bebê recém-nascido e se ofereceu para a vaga. Foi entrevistada com outras mulheres. A empregadora, de pronto, gostou do seu currículo. Foi contratada. Entretanto, não havia dito ser soropositivo à novel empregadora.
Sincera como é, jamais deixaria de mencionar o fato. Na primeira semana conversou contando tudo. A mulher então, após se comover com a história de Maria, também foi extremamente franca. Afirmou que gostou muito da forma como desempenha o trabalho, mas não conseguiria deixar o seu bebê com apenas um mês aos seus cuidados, tendo em vista o vírus da Aids. Maria em muito tinha se identificado com Joana, sua empregadora. Havia ficado imensamente triste em ter que sair do emprego conquistado.
Porém, entendia completamente as razões dela. Seu filho era totalmente desprovido de qualquer forma de defesa. Ademais, ninguém é obrigada a conviver com outra que não deseja por perto, seja qual for o motivo.
É sabido que o vírus da Aids não se contrai com o simples contato. As formas de transmissão acontecem através de relações sexuais, transfusões sanguíneas ou com a exposição de feridas que possam ter contato com o sangue da pessoa contaminada. De mais a mais, aqueles e aquelas que fazem uso constante do coquetel de remédios não transmitem a doença. Se formos parar para pensar, a forma mais comum é a relação sexual com pessoas que não se encontram em tratamento. É sempre muito bom lembrar: abraço, compartilhamento de objetos pessoais, toque, aperto de mão etc. não conduzem ao HIV.
Passada uma semana que Maria havia sido dispensada do trabalho, o seu telefone celular toca. Era Joana. Maria imediatamente atende, preocupada com o bebê. A interlocutora, aos prantos, pede desculpas. Maria, sem nada saber, pergunta o que foi, pois não estava entendendo aquela ligação. Joana pedia desculpas insistentemente, rogando que voltasse a trabalhar com ela nos cuidados com o filho recémnascido.
Disse ela que a ignorância e preconceito falaram mais alto, afirmando que, como a maioria das pessoas, foi contaminada pela falta de conhecimento. Maria disse que entendia toda a situação e que aceitaria voltar a com ela trabalhar. A história narrada é real. Apenas os nomes das personagens foram modificados. A desinformação faz inúmeras vítimas diárias.
Antes de qualquer julgamento é muito importante pesquisar sobre o assunto. Maria e Joana, além de empregada e empregadora, se tornaram grandes amigas. Dividem os preciosos cuidados com um bebê que se tornou a existência das duas. Pequenas atitudes mudam conceitos e preconceitos e podem fazer feliz inúmeras pessoas. Joana, dias atrás, segundo Maria, compartilhou com ela uma colher de sorvete. E, dessa maneira, não pode imaginar o amor transmitido naquele momento… É essa sororidade que o mundo está a rogar…
*ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública no Estado de Mato Grosso e