A Polícia Civil de Minas Gerais se pronunciou sobre o inquérito concluído das investigações do Cruzeiro e já entregues ao Ministério Público de Minas Gerais. Delegados do Departamento de Investigação de Fraudes da PCMG detalharam as irregularidades e os crimes nos quais os indiciados irão responder, em caso de denúncia do MPMG. As autoridades identificaram a prática de rachadinha entre empresários e ex-dirigentes do Cruzeiro.

Na coletiva de imprensa, os delegados Gustavo Xavier e Domiciano Monteiro conduziram as explicações das investigações. Dividiram as explanações em tópicos: contrato de empréstimo entre Cristiano Richard e Cruzeiro, contrato de venda do lateral Mayke, contrato de trabalho com o jogador Bruno Silva, contrato de renovação do goleiro Fábio, pagamento retroativos para ex-dirigente e utilização de verbas do clube para pagar serviços pessoais de advocacia.

O Ministério Público já tem o relatório da investigação “Primeiro Tempo” em mãos e irá analisar. Ao fim do exame, o órgão pode propor denúncia dos envolvidos pelos crimes de falsificação de documentos, falsificação ideológica, apropriação indébita, organização criminosa e lavagem de dinheiro. No caso específico de Wagner Pires de Sá, os delegados o caracterizaram como omisso ao não impedir que tais práticas irregulares fossem cometidas sob sua gestão.

“A gente apura fato criminoso, prejuízo que a gente conseguiu confirmar foi em torno de R$ 8 milhões, só que isso não quer dizer que toda dívida é proveniente de crime, há a má gestão”(Delegado Gustavo Xavier, 2a Delegacia Especializada na Investigação de Fraudes)

Cristiano Richard

Segundo Domiciano Vieira, sempre omitindo nomes, Cristiano Richard teria emprestado R$ 2 milhões ao Cruzeiro e, antes mesmo da data de vencimento do empréstimo, as partes refizeram o acordo com o clube oferecendo dação em pagamento com direitos econômicos de jogadores.

Posteriormente, este empresário fora do ramo do futebol teria feito pagamento de R$ 3,7 milhões a uma construtora para pagar um apartamento em nome de um ex-dirigente. Outro ex-dirigente da Raposa teria sido o responsável por levar Cristiano Richard ao clube e, assim, teria recebido aumentos salariais consecutivos.

“Nessa primeira parte da investigação, então, foi demonstrado pagamento desse empresário em beneficio de um ex-dirigente” (Domiciano)

Contrato da venda de Mayke

O Cruzeiro negociou o lateral Mayke ao Palmeiras em definitivo meses antes de o contrato de empréstimo acabar. A polêmica foi a participação do empresário Carlinhos Sabiá na negociação, recebendo comissão de R$ 800 mil mesmo sem ser agente do jogador. O valor, segundo a investigação da PCMG, teria sido usado para a “rachadinha”. O agente teria repassado parte do pagamento para um ex-dirigente pagar dívida pessoal com um ex-treinador do clube.

– Esse valor foi utilizado por esse intermediário para pagar dívida particular de ex-dirigente investigado com antigo treinador do clube que ele dirigia.

O mesmo teria acontecido na contratação do volante Bruno Silva pelo Cruzeiro. O empresário envolvido – não citado pelas autoridades, mas Carlinhos Sabiá é agente do jogador – recebe comissão e repassa parte do valor a um ex-dirigente sanar dívida pessoal com um profissional liberal.

Contrato de Fábio

Na questão envolvendo duplicata de comissão na renovação contratual do goleiro Fábio – o que acabou indiciado João Ramalho (agente de Fábio) e outro empresário (Wagner Cruz), o pagamento do Cruzeiro foi avaliado pela Polícia Civil com danoso ao clube, sem necessidade de existir. “Um deles nunca representou o goleiro, ele mesmo confirmou, esse mesmo empresário repassa valor de 750 mil aproximado pra um então dirigente do clube”, disse Domiciano.

O delegado Gustavo Xavier explica que a defesa de Wagner Cruz foi afirmar que Fábio teria dado a sua palavra para um clube do exterior – em proposta de trabalho – e o fato de o goleiro ter voltado atrás daria a ele (Wagner Cruz) direito de receber tal comissão. A Polícia Civil não teve acesso a nenhuma prova concreta da existência de tal proposta internacional, bem com consultou empresários do ramo, que negaram ser uma prática comum o recebimento de comissão por um negócio não ter ido para frente. Fábio prestou depoimento na polícia e negou os fatos apresentados pelo agente indiciado.

Pagamentos retroativos e serviços jurídicos

Novamente sem citar o nome dos envolvidos, a Polícia Civil levantou que o Cruzeiro teria feito pagamento de forma retroativa a um ex-dirigente do clube, e por serviços que o presidente Wagner Pires de Sá afirma não ter sido contratados. “Teria sido pago sob alegação de serviços prestados entre outubro a dezembro de 2017, datas anteriores a efetiva participação desse dirigente”, diz Domiciano Monteiro.

Por fim, o último tópico apontado pela PCMG como irregular foi o fato de ex-dirigentes celestes terem usado verbas do clube para contratar serviços de advogados que legislaram em causas pessoais dos cartolas investigados e indiciados. (Globo Espoorte)