O Ibama começou, na última segunda-feira (25), uma operação de desintrusão (retirada de quem não é originário do lugar) de garimpo na Terra Indígena Sararé, em Mato Grosso.
“No mês de junho, a Hutukara recebeu denúncias sobre a movimentação de garimpeiros nos rios Apiaú e Couto Magalhães”
Em dois dias, já foram destruídas 14 escavadeiras hidráulicas e uma balsa utilizada por garimpeiros. Em julho, quando uma primeira ofensiva no local foi realizada, já haviam sido desabilitadas mais de 20 escavadeiras.
A TI Sararé é atualmente a segunda com mais alertas para exploração ilegal do solo em todo o Brasil, mas não faz parte do grupo de territórios considerados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) como prioritários para as operações do governo federal.
As terras categorizadas como mais urgentes pelo Supremo são aquelas que registraram aumento exponencial da atividade predatória ao meio ambiente durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), junto com a violência contra os povos indígenas.
No entendimento de pessoas ligadas à operação, a terra em Mato Grosso vem servindo de refúgio justamente para garimpeiros expulsos de outros territórios pelas ações de repressão do Ibama, da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) e de forças de segurança como Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Força Nacional.
Desde o início do ano, o governo federal realiza uma megaoperação contra o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Também já foram realizadas ações no Pará.
Após meses da operação do governo Lula na terra yanomami, no entanto, associações de lideranças da região afirmam que houve o retorno de garimpeiros e que a fiscalização não conseguiu alcançar algumas áreas. Além disso, apontam aumento de casos de malária.
As conclusões constam de um relatório, publicado no início de agosto, com base nesses relatos. O documento foi elaborado pelas associações Hutukara, Wanasseduume Ye’kwana e Urihi.
“No mês de junho, a Hutukara recebeu denúncias sobre a movimentação de garimpeiros nos rios Apiaú e Couto Magalhães”, diz o documento.
Em relação ao primeiro local, por exemplo, indígenas disseram não ter visto operações contra a exploração ilegal de ouro. No segundo, onde inclusive já houve conflito entre agentes federais e garimpeiros, a atividade voltou a ser registrada.
Segundo o relatório, a assistência humanitária falhou na logística de distribuição de cestas básicas e, por isso, a situação da desnutrição ainda é grave na região.
Outro ponto abordado na área de saúde é a precarização da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) causada pelo governo Bolsonaro. De acordo com o documento, esse quadro ainda não foi revertido, o que faz com que doenças como a malária não só persistam, mas avancem na região.
Mesmo assim neste cenário, a situação na TI Sararé chamou a atenção dos agentes de fiscalização, que entenderam ser urgente uma operação de repressão ao garimpo na região.
Segundo dados da plataforma Brasil Mai, compilados pelo Ibama, entre janeiro e setembro de 2022 foram registrados 150 alertas de garimpo ilegal na TI Sasaré, contra 1.104 no mesmo período deste ano, um aumento de 636%.
O território mato-grossense fica em segundo lugar nacionalmente para alertas de garimpo, à frente do yanomami, em Roraima, e do munduruku, no Pará, e atrás apenas do também paraense Kayapó, que teve mais de 1.300 registros.
Chamou a atenção dos agentes também o fato de que o território sararé é consideravelmente menor que os outros: pouco mais de 67 mil hectares, contra 2,3 milhões da munduruku e 9,6 milhões da yanomami, segundo dados do ISA (Instituto Socioambiental).
“Esse aumento dos alertas de garimpo na TI Sararé pode ser explicado pela intensificação da atuação do Ibama nas demais áreas de garimpo, como na TI Yanomami e região do Tapajós, forçando a migração da atividade garimpeira para áreas que estavam fora do foco da fiscalização”, afirmou o Ibama, em nota.
“A facilidade logística para acesso à TI Sararé também é fator chave para a ampliação rápida da atividade ilegal na área”, completa o instituto.