Um documento preservado na Faculdade de Letras da Universidade de Göttingen, na Alemanha, supostamente datado de 1266, revelou a ação de um falsificador. A análise histórica, divulgada no último dia 19, apontou inconsistências no texto, que datava, na verdade, do século 18.
Os pesquisadores concluíram que o documento foi criado pelo falsificador italiano Domenico Cicci, que produzia falsificações nos anos 1700 para favorecer a entrada da própria família dele na nobreza.
Para realçar o conteúdo do documento, permitindo sua leitura, os pesquisadores utilizaram análise multiespectral, uma técnica que explora além da faixa visível do espectro eletromagnético para revelar textos desbotados.
O documento menciona que um casal de Pisa, na Itália, havia prometido seu filho para uma ordem religiosa que possuía uma igreja na cidade. Porém, a igreja em questão foi construída no século 14, não no 13, como colocava o texto. Essa e outras inconsistências levaram a equipe a atribuir a autoria do texto a Cicci, um já conhecido farsante.
“Essa falsificação do século 18 por um falsificador italiano quase levou os historiadores ao caminho errado: poderia ter resultado na redatação da igreja, por exemplo”, observa Boris Gübele, historiador da Universidade de Göttingen, em comunicado. “Na verdade, muitas de suas falsificações ainda podem estar escondidas em vários arquivos.”
Nascido em 1858 e falecido em 1930, estima-se que Cicci tenha falsificado ou manipulado mais de 200 documentos, todos atribuídos à Idade Média. Essas falsificações visavam reescrever a história de sua família, retratando seus antepassados como bispos, notários, proprietários de terras e até como cruzados e cavaleiros de uma ordem.
O propósito dessas alterações era garantir o ingresso da família de Cicci na nobreza — objetivo que ele conseguiu alcançar. Na época, o processo de entrada para a aristocracia italiana era marcado por uma burocracia rigorosa.
As famílias interessadas precisavam apresentar uma solicitação formal ao governo, acompanhada de documentos que comprovassem os títulos e privilégios concedidos a seus antepassados. Caso a legitimidade das origens familiares não fosse comprovada, o pedido poderia ser recusado. Muitas famílias antigas e nobres que haviam perdido seus documentos originais acabaram não tendo reconhecimento por conta disso. Cicci, porém, soube driblar esse sistema.
(Por Redação Galileu)