Médicos e médicas, vivemos os últimos dois anos uma luta árdua. Palavras até então desconhecidas do cotidiano, como pandemia, Covid 19 e quarentena, passaram a fazer parte de nosso vocabulário. Fomos impactados por uma nova realidade, um novo normal, e entendemos a gravidade daquele momento quando começamos a perder pacientes, amigos, familiares e, principalmente, colegas de profissão.
Enquanto médico e atuante durante a pandemia, vi muitos companheiros de profissão se tornando bravos heróis. Os heróis de branco, passamos a chamar.
Ainda no começo da pandemia, no primeiro semestre de 2020, acompanhei profissionais da saúde que se doaram integralmente a salvar vidas. Ora desamparados pela própria saúde física, pois foram os primeiros a se infectarem com a doença e tiveram que se afastar de seus lares para se cuidarem e, depois já curados, se dedicarem novamente a cuidar de seus pacientes.
Ora desamparados pelo Poder Público, que muitas vezes não conseguiu oferecer as condições de trabalho adequadas para que o médico, a médica e demais profissionais da área pudessem exercer com dignidade sua missão.
É familiar a cena dos profissionais que tiveram os rostos marcados pelas máscaras, o corpo cansado pela luta diária – e muitas vezes cobrindo o colega que estava doente. Em todos, percebi sempre o mesmo sentimento: exerceram com altruísmo sua missão, defenderam a condição humana e a sociedade. Jamais se acovardaram.
Ainda que pudessem esmorecer perante a falta de insumos, de leitos e de condições mínimas, os médicos continuaram. Não esmoreceram nem quando viram alguns governantes, com felizes exceções, transformarem a saúde em balcão de negócios obscuros e de trocas de favores.
Hoje, voltando à normalidade, penso, é quase irrealista esperar que os médicos praticassem dignamente sua profissão durante a pandemia quando os instrumentos lhes eram subtraídos por interesses diversos. Mas, ainda assim, praticaram.
A pandemia, no entanto, não é uma exceção. Seguimos nossa missão diariamente e, hoje, 18 de outubro, quando é comemorado o Dia do Médico, fico reflexivo. A data me faz questionar sobre nossa carreira e a valorização do profissional.
Precisamos lutar diariamente para garantir a todos os profissionais de Medicina condições para exercerem a profissão de forma justa e íntegra. E quando faço esta reflexão não me refiro apenas do ponto de vista financeiro, que é uma consequência, mas principalmente moral e social.
Em nome de todos os médicos, em especial aos meus filhos Felipe e Maria Eduarda, que escolheram seguir nessa profissão, desejo um Feliz Dia do Médico a todos os colegas. Que todos nós possamos exercer a profissão de forma digna, respeitosa e crítica em uma sociedade mais justa para todos.
CARLOS BOURET é médico urologista em Cuiabá