Dia 4 de junho de 1874, em festa, com a presença de parte da população cuiabana e varzeagrandense, com bandeirolas, foguetes, girândolas e roqueiras (antigos canhões de ferro cujos projéteis eram pedras) e sob os acordes instrumentais da Banda de Música do Arsenal de Guerra, a primeira “balsa” foi inaugurada.
Após as solenidades de inauguração, em pleno Império, a balsa cruzou o rio, superlotada, pois todos queriam participar dessa travessia inaugural, realizada da margem esquerda para a direita.
A balsa permitiu maiores volumes de transportes de mercadorias de Várzea Grande, Livramento, Poconé e região para a capital mato-grossense. E a balsa fez história.
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A balsa permitiu maiores volumes de transportes de mercadorias de Várzea Grande, Livramento, Poconé e região para a capital mato-grossense. E a balsa fez história.
Constituía um sonho para os moradores situados às margens do Rio Cuiabá que dessem início, o quanto antes, ao funcionamento de uma balsa ligando a capital Cuiabá a Várzea Grande e todos os municípios localizados à direita do rio, o que sem nenhuma dúvida seria fator de maior desenvolvimento para todos.
O primeiro balseiro foi Luiz Monteiro de Aguiar, descendente de bandeirante de Nossa Senhora do Livramento, que adquiriu um casco de ferro em 1870, e sobre ele mandou construir a balsa.
Mais tarde transferiu os direitos adquiridos por Lei ao Estado, que passou a arrendá-la a diversos.
Em 1888, a balsa encontrava-se em mãos de Virgílio Carneiro Leão, com o porto situado na atual Rua Maria Metelo, Bairro da Alameda, nas proximidades da casa do senhor Licínio Monteiro da Silva. Por 18 anos a barca pêndula permaneceu com ele, a fim de que melhorasse seus acessórios: cabos e boias.
Ao final do século XIX, Joaquim Polido SEABRA adquiriu o arrendamento da balsa, passando mais tarde para a direção do senhor Francisco Cláudio.
Por muito tempo esteve como arrendatário da balsa, Sebastião Teodorico, que ficou até o final do século. Depois dessa administração, a balsa passou para o domínio de Antônio de Arruda Pinto, conhecido como Totó Bichinho, que a colocou sob a direção de Delfino Monteiro de Aguiar, filho do primeiro proprietário. Já em 1918, achava-se nas mãos do arrendatário Francisco de Arruda Pinto, por cinco anos.
PONTO DE ENCONTRO
Em 1924, sob administração direta de Benedito Leite de Figueiredo, o Didito, que estava sempre de gravata e paletó, posto ao leme e ouvia sempre as suas gostosas piadas ou palestras, quando se via na presença de pessoas graduadas. Foi o último arrendatário subvencionado pelo Estado, que a remodelou, mudando o sistema de boias para o de cabo movido a carretilha.
A moderníssima barca-pêndulo veio com bancos para passageiros e havia um lugar aberto destinado às carroças e animais. Era um verdadeiro ponto de encontro entre amigos e conhecidos, sob os olhos atentos do senhor Didito. As conversas eram mantidas em clima de camaradagem, respeito e alegria. O fundo da balsa (barca) era feito de tubos enormes. Na hora de aportar, devido ao lugar raso, as zingas empurravam a balsa até o local ideal para o desembarque de passageiros.
Às 6 horas da manhã saía à primeira balsa de Várzea Grande a Cuiabá e às 18 horas era a última viagem.
Aos sábados, quando havia festa em Várzea Grande, os canoeiros se alegravam com a arrecadação extra após a última viagem da “barca-pêndulo”, pois só havia jeito de recorrer aos eficientes canoeiros.
IMPREVISTO
Um caso bem raro aconteceu em certa ocasião, quando a barca com excesso de lotação aproximava-se do porto do lado de Várzea Grande e a vontade de desembarcar rapidamente pelos ocupantes daquele serviço de transportes, provocaram desequilíbrio e a embarcação pendeu de um lado e virou. No momento causou pânico, principalmente entre as mulheres.
A surpresa levou muita gente às águas do rio Cuiabá, felizmente o local era raso, não houve consequência negativa, a não ser o susto e depois muito riso.
Durante as grandes enchentes, algumas vezes as enxurradas forçavam o pêndulo da balsa e causava surpresas aos ocupantes, descendo o rio Cuiabá, levada pela correnteza furiosa, mas não muito além da “boca do valo”, pois era logo manobrada para uma das margens e, com sacrifício, aportada no devido lugar.
Graças ao aparecimento da balsa, Várzea Grande pôde abastecer melhor Cuiabá de leite, carne, lenha, chinelos e dos cereais vindos de Livramento, que eram revendidos nas carroças-mascates pela gente humilde do município.
Morosamente, mas acompanhando o ritmo lento daqueles tempos, a balsa durou até o início de novos transportes em nosso Estado. Os caminhões começaram a trafegar com intensidade, quando em 1935 os governos viram que a balsa já era um entrave ao desenvolvimento do Norte, devido à lentidão e as poucas toneladas que comportava.
A balsa parou de circular, mas deixou saudades a muita gente.
Didito Figueiredo foi o último arrendatário da balsa, pois, quando estava à frente desse negócio, inaugurava-se a ponte Júlio Muller, em 20 de janeiro de 1942.

 

*WILSON PIRES DE ANDRADE  é jornalista, locutor e mestre de cerimônia  em Mato Grosso. Foi Secretário de Comunicação de Várzea Grande; e fundador e presidente da Associação Mato-Grossense de Colunistas Sociais (Amacos).

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