Nos últimos tempos, diante dessa hecatombe que é a pandemia, pensei que, por ser do grupo de risco, caso contraísse a “peste”, não sobreviveria. Pra quem acreditava piamente que seria tragado pelo coronavírus; quase virei adubo por conta de um acidente automobilístico. Mas o objetivo desta missiva não é relatar o sinistro (muito bem o fizeram os meios de comunicação social da Cidade Verde); todavia, pretendo tentar, mesmo que de forma imperfeita e particular, externar minhas percepções e sensações pós-acidente.

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Antes de falar do fatídico e seus desdobramentos, é mister que eu agradeça e pretendo fazê-lo sem nomear ninguém. Não seria justo. Do meu núcleo familiar até amigos e grupos de WhatsApp, passando pelo excelente atendimento dos profissionais da saúde do Pronto Socorro de Cuiabá e do Hospital Santa Rosa; como não destacar a rapidez e eficiência do SAMU; como não agradecer os inúmeros amigos que se predispuseram a ficar comigo no hospital, e a preocupação dos colegas do TCE, em especial da presidência, de muitos servidores e de alguns deputados da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, de alguns edis da Câmara Municipal de Cuiabá, de centenas e centenas de professores da capital e do interior, alunos e ex-alunos aos borbotões, da Prefeitura de Cuiabá, de amigos espalhados em diversos estados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Goiás, além do Distrito Federal, de amigos virtuais (Facebook, Instagram e WhatsApp) e de amigos físicos de tempos imemoriais, de inúmeros jornalistas que labutam em diversos veículos de comunicação social. Enfim, a palavra Solidariedade adquire novas nuanças. Bom saber-se estimado, admirado, respeitado e querido; Portanto, muitíssimo obrigado pelas demonstrações de apreço, de consideração e de presteza. Nenhuma palavra é suficiente para expressar minha gratidão: Gratias maximas tibi ago.
Durante o tempo em que estive hospitalizado, conversei bastante com meus filhos e com alguns amigos sobre vários assuntos, além de ler um pouco (só não mais porque os olhos foram afetados: diplopia); após as cirurgias na face, tive alta e ainda estou em casa me recuperando, também tive muito tempo para pensar sobre a maneira como vivemos e corroborei algumas conclusões: 1. A vida é frágil: em um segundo estamos rindo e no segundo seguinte podemos estar mortos; 2. O Acaso (peirciniano) deve ser considerado, como diria o poeta marginal Paulo Leminski: “atrasos do acaso/ cuidados/ que não quero mais// o que era pra vir / veio tarde/ e essa tarde não sabe/ do que o acaso é capaz”; 3. O bom combate deve ser o nosso norte, não é necessário um princípio divino ou metafísico para termos atitudes altruístas: basta que pensemos sobre o mundo que recebemos e que mundo queremos deixar para as próximas gerações; 4. Carpe diem, literalmente “colhe o dia”, sim… aproveite a vida: sorria mais; chore menos, diga mais “nós” e menos “eu”, divida mais e some menos, enfim, alastre alegrias e contenha tristezas. Atitudes fáceis de se colocar em prática e, infelizmente, tão ausentes nesse mundo cada vez mais distópico.
Dias antes dessa desventura, estava eu em um supermercado finalizando uma compra, evidentemente no caixa para idosos, quando duas garotinhas, de doze ou treze anos, sorridentes, felizes e desatentas, entraram na fila, logo atrás de mim, para passar um pacote de biscoitos, olhe bem, apenas um pacotinho de biscoitos; nisso, chegou um senhor, mau humorado, de voz grave e áspera, indagando de maneira rude as duas jovens: – Vocês são preferenciais?! Ambas olharam assustadas para ele e saíram rapidamente e muito envergonhadas. Claro que elas nem perceberam que estavam em um caixa preferencial. Será que aquele senhor (aliás, continuou com grosserias com as funcionárias) não poderia esperar um ou dois minutos e ter deixado aquelas menininhas pagarem o pacote de bolachas? Não, “Dura lex, sed lex”! São essas atitudes tacanhas, mesquinhas e avaras que tornam a existência tão pobre. Como diria Parmênides: “Ex nihilo nihil fit”, em tradução livre, “Nada vem do nada”, ou seja, pobre senil que precisa exteriorizar sua casmurrice mastodôntica contra duas crianças felizes e ingênuas e por quê? Simplesmente por que a existência dele foi inócua e infeliz. Façamos nossos dias mais ditosos para quando chegar a hora derradeira possamos dizer: – Mais semeie do que colhi e só por isso já valeu a pena…

*SÉRGIO EDUARDO CINTRA  é professor de Linguagens e de Redação em Mato Grosso. Foi vereador em Cuiabá e Diretor Executivo da Funec. 

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