Um dos maiores crimes cometidos contra Cuiabá e Mato Grosso é o pouco caso com que se tratou o complexo gasoduto /termelétrica, o maior projeto implantado no estado, no valor de 1,0 bilhão de dólares e inaugurado em 2002.
Leia Também:
-Bom, ainda que injusto
-Verticalização, atrair e não espantar
-Cuiabá, a próxima parada
-O estádio do Liceu
-Caecae, a pracinha e a capela
-Ferrovia: esperar ou trazer?
-O príncipe da minha rua
Crime com interesses diversos que vão desde a velha mania da política brasileira, em especial a mato-grossense, de um político não dar continuidade a obras de outros governos, até aqueles contrários à consolidação de Cuiabá como principal polo político e econômico unificador de Mato Grosso, passando por outras motivações também menores, mas poderosas.
Casos semelhantes são, por exemplo, a conexão ferroviária da capital mato-grossense e a linha aérea até Santa Cruz de La Sierra, ambos até com empresas interessadas em suas implantações, mas que mesmo assim não avançam.
A chegada de um gasoduto disponibilizando com fartura uma fonte de energia limpa e barata como o gás natural sacode as regiões por onde passa impulsionando a economia e elevando a qualidade de vida de suas populações com a geração de amplas alternativas de novos empregos e maiores rendas. Aqui chegou e ficou por isso mesmo.
Para os políticos e gestores mato-grossenses parecia ter chegado em Marte. Especialista em Planejamento Urbano, não entendo nada sobre gás ou geração de energia, mas sei o quanto é importante a disponibilidade energética para o desenvolvimento de uma cidade ou região. Aliás, a qualidade de uma cidade em uma sociedade de mercado é aquela que sua população pode bancar com sua renda.
Relembrando, com sua extraordinária visão de futuro o saudoso ex-governador Dante de Oliveira anteviu a grande produção agropecuária atual de Mato Grosso, de alta tecnologia e grande produtividade. Percebeu, então, ser fundamental a criação das condições para a verticalização no estado dessa produção primária, agregando-lhe valor. Gerar empregos aqui em vez de exportá-los.
Entendia que a Baixada Cuiabana poderia ser a base propulsora desse processo de verticalização da economia estadual com apoio da ZPE de Cáceres. Para esse salto, energia e transporte seriam essenciais. Arrancou assim das barrancas do Paraná os trilhos da Ferronorte, criou o FETHAB, implantou o Porto Seco e internacionalizou o Aeroporto Marechal Rondon, viabilizando sua ampliação a quatro mãos com o também saudoso Orlando Boni, cuiabano então presidente da Infraero.
Quanto à energia, destravou a APM de Manso então com obras paralisadas e trouxe a ex-poderosa Enron para implantar o complexo termelétrica/gasoduto.
Implantado o complexo do gás viriam com ele as vantagens regionais comparativas atraindo novas indústrias e outros investimentos. Só que o plano não avançou. Ao invés, o gás aqui foi desmoralizado com sucessivas suspensões de fornecimento até perder a confiança do mercado consumidor.
Sugiro ao leitor buscar no Google pelo gás de Mato Grosso do Sul. Sentirão o mesmo que senti: inveja! Lá bombando o futuro em Campo Grande e cidades do interior para uso veicular, residencial, comercial e cogeração, enquanto aqui …
Na última quinta-feira, em Santa Cruz de La Sierra com a presença do presidente Evo Morales, o governador Mauro Mendes assinou com a estatal boliviana Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos um contrato para fornecimento do gás natural até dezembro de 2020, com renovação automática por mais 10 anos caso nesse período não se concretize uma sociedade entre a estatal boliviana e a MTGás para a expansão da cadeia do gás natural no estado. Fruto destas tratativas a termelétrica já está operando em potência máxima.
Que venha então o gás, mas que venha com firmeza, confiável e para ficar. Aleluia!
*JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS é arquiteto e urbanista; conselheiro do CAU/MT, acadêmico da AAU/MT e professor universitário aposentado.
CONTATO: www.facebook.com/joseantonio.lemossantos