Gabriel Magalhães vive a expectativa de ser o 84ª jogador diferente a ser utilizado pelo técnico Tite no comando da Seleção. Dentre os 26 convocados para as primeiras partidas do Brasil em 2022, o zagueiro do Arsenal é o único que ainda não entrou em campo com a amarelinha.
A estreia pode acontecer nesta terça-feira, no Mineirão, onde o Brasil enfrenta o Paraguai, pela 16ª rodada das Eliminatórias. Com familiares e amigos nas arquibancadas do estádio, o jogador de 24 anos começará o jogo na reserva de dois de seus ídolos, Marquinhos e Thiago Silva.
Embora calouro no grupo de Tite, com apenas duas convocações, Gabriel Magalhães desponta como favorito a ocupar a quarta vaga da zaga brasileira na Copa do Mundo do Catar – além dos defensores titulares nesta noite, Éder Militão é outro que tem lugar praticamente assegurado na lista de jogadores que irão ao Mundial.
Atuando no exterior desde os 20 anos, o zagueiro revelado pelo Avaí vem se destacando no Campeonato Inglês, mas ainda é um desconhecido para parte do público brasileiro, que o viu jogar por pouco tempo no País. Afim de “apresentar” Gabriel Magalhães, o ge conta abaixo dez fatos e curiosidades sobre ele. Confira!
1 – Suspeita de ser gato
Com 1,90m, o zagueiro se destaca pela estatura. E não é de hoje. Desde a infância, ele sempre foi muito alto, o que no passado chegou a levantar suspeitas de que teria adulterado o registro de nascimento:
– O Gabriel era muito grande, bem maior do que os meninos da mesma idade. Quando ele tinha uns 12 ou 13 anos, eu o acompanhava muito e lembro que pais de alguns garotos achavam que ele era “gato” – comenta Marcelo Magalhães, pai do jogador.
O porte físico acabava sendo um diferencial para o jovem, como conta o primo dele, Vinicius Magalhães:
– Por ser grande, ele jogava com a categoria dele e também com a categoria acima. Tinha sábado que o Gabriel ficava o dia inteiro disputando campeonatos.
2 – Atacante na infância
Quando criança, Gabriel Magalhães gostava de jogar como atacante. Era goleador, fominha e sempre pedia para bater faltas, pênaltis e escanteios, segundo relatos.
Porém, num desses deliciosos e quase inexplicáveis acasos da vida, ele mudou de posição ainda na juventude. Gabriel faria teste em uma escolinha de futebol na cidade de Osasco, onde estaria um olheiro do São Paulo. Porém, o pai dele se confundiu e acabou levando-o para o lugar errado.
– Cheguei na escolinha e procurei o Ale. Aí me falaram: “Que Ale? Aqui não tem ninguém com esse nome”. Quando percebi que tinha me confundido, o professor, chamado Zé Silva, me perguntou em que posição o Gabriel jogava. Eu nem falei atacante, disse que era lateral-esquerdo. Aí ele: “Nossa, lateral desse tamanho?”. Depois de uma meia hora do Gabriel jogando com os meninos, o professor me chamou e falou: “Ele é zagueiro, volante ou centroavante.”
A partir desse dia, Gabriel passou a jogar como defensor e pegou gosto pela função.
3 – Saudades de casa
Nascido e criado em Pirituba, bairro humilde da região noroeste da cidade de São Paulo, Gabriel sempre foi caseiro e apegado à família. Por isso, sofreu quando teve de se mudar para Santa Catarina, para defender o Avaí, quando estava prestes a completar 14 anos.
Com outros três filhos para criarem, os pais do jogador não puderam abandonar os empregos para se mudarem a Florianópolis junto com ele.
O zagueiro viajou sozinho, de ônibus, mas uma semana depois já não aguentava de saudade. Chorando, ele ligou para os parentes pedindo para voltar.
– Eu não quis forçar, mas quando ele chegou em casa eu falei: “Vida de jogar é assim, ralar, ficar longe da família, dos amigos. Se você quiser ter sucesso no futebol, vai ter que passar por isso”. O Gabriel ouviu, colocou essa ideia na cabeça, foi novamente para Santa Catarina e nunca mais desistiu – conta o pai dele.
Gabriel Magalhães em ação pelo Avaí no começo da carreira — Foto: Arquivo pessoal
4 – Truco
O calouro da Seleção é fã de videogame e tênis de mesa, mas não há passatempo que mais o agrade do que um bom carteado. O comentário é unânime entre quem o conhece:
– O Gabriel é viciado em truco, gosta de roubar e gritar seis – reforça Rodrigo Tavares, um dos melhores amigos dele.
– Toda as vezes que ele está no Brasil, ele reúne os mesmos amigos e gosta de jogar truco. É um cara 100%, que faz questão da presença dos amigos e de alguns familiares, não deixa ninguém tirar um real do bolso – conta Rafael Gonçales Maciel, conhecido como Bu, que é empresário da Elenko Sports e conhece o jogador desde os tempos em que atuava como produtor musical.
Bu também destaca a humildade e o lado solidário de Gabriel, que costuma ajudar projetos sociais e, por meio da família, contribui com ações da “obra da piedade” da igreja Congregação Cristã do Brasil.
5 – Não sabe perder
Não importa se é numa pelada com os amigos ou numa final de campeonato: Gabriel Magalhães tem dificuldades em aceitar a derrota, característica que o marca desde a infância.
– Ele é muito focado, muito determinado, isso o ajuda muito na carreira, mas ele não aceita derrota. Quando mais novo, a gente chegou a ter até discussões porque ele não pagava aposta depois de perder no ping-pong – relembra o primo Vinícius Magalhães.
– Se o Gabriel joga mal, mesmo que o time vença, ele chega em casa extremamente chateado – comenta o pai do jogador.
6 – Reação em assalto
O caso aconteceu em agosto do ano passado. Gabriel, um amigo e a noiva saíram para jantar em um restaurante de Londres e, ao voltarem para casa, foram abordados por assaltantes. Um deles portava um saco de beisebol.
No primeiro momento, o zagueiro não entendeu bem o que estava se passando. Depois, entregou a chave do seu carro aos ladrões, mas logo na sequência desferiu um soco em um dos bandidos.
– A gente sentiu que os caras não foram preparados para o assalto. Por sorte, não estavam com armas de fogo. O Gabriel não gosta de briga, mas ele reagiu por preocupação com a noiva dele, que está grávida. Ela estava dentro do carro, e ele ficou com medo de acontecer algo de pior – relata Rodrigo Tavares, que estava no momento do ocorrido.
7 – Fã de Van Dijk
Gabriel Magalhães tem muitas inspirações do futebol, algumas delas com quem já teve oportunidade de jogar por clubes e seleção. Mas atualmente a maior referência para o zagueiro é o holandês Virgil van Dijk, de 30 anos, que defende o Liverpool.
Rivais no Campeonato Inglês, eles já trocaram camisas em duas ocasiões.
O português José Fonte, com quem Gabriel jogou no Lille, da França, também é apontado como alguém que ele admira e que o ensinou bastante.
8 – Pai pela primeira vez
Em abril vai nascer Maya, a primeira filha do jogador. Recentemente, ele a homenageou na comemoração de um gol marcado no Campeonato Inglês.
9 – Decepção olímpica
Uma das grandes dores na carreira de Gabriel foi ter ficado fora da Olimpíada de Tóquio. Convocado pelo técnico André Jardine, ele chegou a se apresentar à Seleção, mas acabou cortado por um problema no joelho direito.
O zagueiro sofreu com uma tendinite patelar, chegou a fazer infiltrações no local, mas concordou que era melhor não ir ao Japão do que correr o risco de agravar o problema.
– É normal para os jogadores sentir dores, ainda mais na Premier League, você chega desgastado no final da temporada, com o corpo pedindo socorro. Os profissionais da Seleção, no primeiro momento, até queriam manter o Gabriel, mas ele falou: prefiro me recuperar 100% e dar chance a outro jogador. A Olimpíada era o sonho dele, mas ele poderia aumentar o problema e até ficar fora do início da temporada pelo Arsenal – explica Rodrigo Tavares.
10 – Lado B
Antes de brilhar pelo Arsenal, time no qual é titular absoluto, Gabriel Magalhães passou por clubes de pouca expressão na Europa.
A porta de entrada foi o Lille, da França, que o contratou em 2017. Percebendo que não teria espaço, ele pediu para ser emprestado e foi jogar no Troyes, do mesmo país.
As coisas não andaram como previsto e, mesmo percebendo que tinha mais potencial que outros companheiros de equipe, Gabriel tinha poucas oportunidades. Assim, foi emprestado novamente, desta vez para o Dinamo Zagreb, da Croácia.
No segundo semestre de 2018, o jogador voltou para o Lille e, após passagem pelo time B, passou a ter mais espaço no plantel principal. Titular nos seis jogos do clube na Liga dos Campeões, ele passou a despertar interesse de gigantes europeus, entre eles o Arsenal, que em 2020 desembolsou 30 milhões de euros (R$ 198,62 milhões na cotação da época) para contratá-lo.
O resto é história… que ainda está sendo escrita, e pode ganhar uma nova página, em verde e amarelo, nesta terça. (GE)