Há menos de três anos o Brasil se dividiu, os mais de 50 milhões de eleitores que reelegeram Dilma Roussef (PT) para a presidência em 2014, denunciavam que estava em marcha um golpe contra a presidenta, e que isso maculava a nossa democracia. De outro lado os eleitores do candidato derrotado Aécio Neves (PSDB) – que logo em seguida seria desnudado perante a opinião pública como um farsante nato -, que tratavam o impeachment como sendo algo necessário, em razão das tais “pedaladas fiscais”.

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Pois bem, no último final de semana a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL), que subscreveu a petição que gerou o impeachment de Dilma Rousseff, admitiu que não foram as tais pedaladas fiscais a causa para o cassação do mandato presidencial. Igualmente o ex vice-presidente Michel Temer (MDB), alçado ao cargo principal graças à queda de Dilma com a simulação de impeachment, admitiu em entrevista ao vivo no programa Roda Viva, da TV Cultura (edição de 16/09), que o Golpe de fato ocorreu e que ele foi contra.

Mas a verdade é que o Golpe de 2016 foi um dos primeiros de uma série de fatos criminosos, praticados por gente “de bem”, contra a nossa população, ferindo o Brasil e sua autonomia. Setores da mídia corporativa, do sistema financeiro e da maçonaria, unidos com alguns servidores públicos de alto escalão, tiveram funções específicas e decisivas para o esfacelamento da soberania do Brasil. O resultado são o empobrecimento galopante e o desemprego de milhões de irmãos brasileiros, a destruição da indústria nacional, da nossa construção civil e as graves ameaças contra as universidades.

Cada um dos atores teve uma função definida no Golpe. Os rapazes elegantes da chamada Lavajato tratavam de violar o devido processo, ridicularizar pessoas, destruir a crença no processo democrático, faturar dinheiro com palestras e com a criação de um fundo bilionário com dinheiro da Petrobrás. Ao mesmo tempo que “investigavam” os crimes contra a maior empresa do Brasil, ajudaram o Departamento de Justiça dos Estados Unidos e acionistas locais com informações vitais. Isso alterou a situação da Petrobrás, que foi condenada a pagar indenizações bilionárias “nas gringas”, saiu da posição de vítima da corrupção para ser condenada em gigantescos processos indenizatórios.

A série de fatos noticiados pela investigação “Vazajato” e divulgados pelo site Intercept Brasil bem demonstra o volume de crimes que foram cometidos nas entranhas da tal Lavajato.

Com o esquartejamento do estado democrático de direitos a população se revolta contra a política, e acaba elegendo uma fauna exótica para o governo e congresso, criando um retrocesso destruidor de qualquer política social. Os programas de habitação popular recebem 5% do orçamento que Dilma destinava ao mesmo setor, não há nenhum programa de fomento ao crescimento do país, fim de programas sociais como o “Mais Médicos”, Farmácia Popular e completa paralisia de políticas de fomento à agricultura familiar.

Paralelo ao fim das leis trabalhistas e do Ministério do Trabalho, e do esgarçamento da justiça trabalhista, o governo liberou mais de 300 tipos de veneno somente em 2019. Essas armas químicas serão jogadas ao vento, se fixarão nos alimentos, e já se transformam uma das causas da diminuição dos negócios com países europeus. Teremos uma população doente, sem emprego, sem remédio, perambulando pelas ruas como se vê nos filmes de zumbis.

As notícias diárias são cada vez piores e demonstram que o presidente eleito intervém na polícia e na receita federal como forma de proteger familiares, amigos e milicianos de investigações criminais que estão em curso. Fim das aposentadorias, dos empregos formais, e ameaça à lei do salário mínimo, somados às altas dos preços dos combustíveis, da cesta básica e do custo de vida se somam ao cardápio de maldades.

E tudo isso tem a ver com o Golpe!

*VILSON PEDRO NERY  é  advogado em Cuiabá; especialista em Direito Público.

CONTATO:   www.facebook.com/Vilsonery

Ex-president Dilma Rousseff  (PT), cassada pelo Congresso Nacional em maio de 2016