No futebol, êxito e dinheiro quase sempre caminham lado a lado. Quanto mais capacidade de investimento um clube tem, a tendência é que mais qualificado seja o seu elenco para chegar mais longe nas competições. Mas o Fluminense tem contrariado essa lógica no Campeonato Brasileiro de 2020. Com a menor folha salarial entre os oito melhores colocados, o time do técnico Odair Hellmann tem se destacado na relação custo-benefício e fechou o primeiro turno no G-4 com 32 pontos, apenas três pontos atrás dos dois primeiros colocados, Inter e Flamengo.

De acordo com o balancete tricolor do segundo trimestre, o Fluminense teve um gasto de R$ 37.242.561,00 com “salários, encargos e benefícios com funcionários” de janeiro a junho, o que dá um custo de R$ 6,2 milhões por mês de sua pasta do futebol profissional. Considerando só a remuneração do elenco, com CLT, direitos de imagem e encargos, o ge apurou que o custo mensal é de aproximadamente R$ 4,3 milhões, valor que seus concorrentes por título e G-4 gastam pelo menos o dobro.

Os líderes Internacional e Flamengo, com 35 pontos, têm custos bem mais elevados. O Colorado divulgou em seu site oficial que gastou R$ 120.873.266,00 de janeiro a agosto, o que dá R$ 15.109.158,00 por mês com toda a sua estrutura do futebol (não especificado apenas o elenco). Já o Rubro-Negro não discrimina os custos entre futebol e outros esportes na pasta “atividades sociais e esportivas”, cujos gastos foram de R$ 229.163.000,00 no balancete do terceiro trimestre, até setembro, uma média de 25,4 milhões. A reportagem não teve acesso aos números referentes aos gastos só com o elenco, mas apurou que ambos gastam acima dos R$ 12 milhões mensais, o que supera com folga o Flu.

Fluminense chegou a vencer o líder Inter no Maracanã — Foto: Agência Estado

Fluminense chegou a vencer o líder Inter no Maracanã — Foto: Agência Estado

Terceiro colocado com os mesmos 32 pontos do Fluminense, o Atlético-MG divulga balanços apenas anuais. Com base nos números do clube de 2019, o Galo teve uma despesa aproximada de R$ 277.000.000,00 com toda a pasta do futebol, o que deu uma média mensal de 21,3 milhões por mês no ano passado, incluindo 13º salário. Considerando só o elenco profissional, a reportagem apurou que o clube gasta atualmente de CLT 6,5 milhões, mas com direitos de imagem e encargos o valor passa dos R$ 10 milhões por mês.

A maioria dos clubes reduziu as folhas salariais com os elencos durante alguns meses do ano, em função da pandemia do Covid-19. Desta forma, a média das folhas neste ano tende a ser um pouco menor do que o que seria normalmente.

São Paulo, quinto colocado com 30 pontos, e o Palmeiras, em sétimo com 28, também só divulgam balanços anuais e incluem as categorias de base nos custos do futebol. O Tricolor Paulista divulgou uma despesa aproximada de R$ 179.234.000,00 em 2019, o que deu uma média de 13,7 milhões contando com o 13º salário. O Alviverde, por sua vez, informou o custo aproximado de R$ 264.704.000,00 no ano passado, equivalente a 20,3 milhões mensais. O valor apenas com o elenco profissional não é divulgada, mas a folha de ambos, com encargos, ultrapassa os R$ 10 milhões, segundo apurado pelo ge.

Em sexto lugar com 30 pontos, o Santos divulgou em seu balancete do segundo trimestre uma despesa de R$ 67.326.662,00 com “remunerações de CLT, direitos de imagem, encargos e benefícios” do elenco, o que dá uma média de aproximadamente R$ 11 milhões mensais. Enquanto o Grêmio, oitavo colocado com 27 pontos, apresentou em seu balancete, também de janeiro a junho, um custo aproximado de R$ 54.881.000,00 com “remuneração de atletas profissionais, encargos e cessão de imagem”, equivalente a cerca de R$ 9 milhões por mês.

O primeiro clube de folha menor que a do Flu na tabela de classificação aparece apenas na nona colocação: é o Sport, com 24 pontos e um custo mensal de aproximadamente R$ 3 milhões.

Em comum entre eles, seis dos sete concorrentes tricolores – exceto o Atlético-MG – montaram elencos maiores porque se classificaram para a Libertadores este ano. A vaga na principal competição da América do Sul é a meta que o Fluminense busca para 2021, e a diretoria tricolor já planeja aumentar o investimento no futebol na próxima temporada.

A folha salarial do Fluminense foi reduzida já há alguns anos, após o impacto da saída da Unimed/Rio como patrocinadora, mas só nesta temporada a relação “custo-benefício” com a campanha no Brasileiro tem sido mais expressiva. Os gastos reduzidos se devem-se à difícil situação financeira do clube e também à dificuldade de se obter maiores receitas, cenário ainda mais desafiador em razão da pandemia.

Apesar dos valores mais baixos que os concorrentes, a atual gestão, do presidente Mário Bittencourt, ainda encontra dificuldades para manter todos os salários em dia. Na última semana, o clube pagou o restante dos salários de agosto e quitou dois meses de direitos de imagem. Atualmente estão pendentes os vencimentos CLT de setembro e as imagens de agosto e setembro. O atual elenco tricolor é formado, em sua maior parte, por jogadores formados na base e de veteranos medalhões, como Ganso, Nenê, Fred, Hudson e Egídio.

*Colaboraram: Bruno Giufrida, Camila Alves, Eduardo Deconto, Eduardo Moura, Felipe Schmidt, Felipe Zito, Fred Ribeiro e Marcelo Hazan.  (Globo Esporte)