Apesar das dificuldades da pandemia, o Flamengo terá em 2021 o maior faturamento de sua história, na casa dos R$ 980 milhões, e com expectativa de superávit de R$ 137 milhões. O valor é acima do previsto e supera a temporada 2019. Se chegar às finais da Copa do Brasil e da Libertadoes, a chance é grande de alcançar a marca de R$ 1 bilhão. Mas o pensamento é que há margem para um grande crescimento.

Vários fatores contribuíram para o bom resultado conseguido pelo clube, entre eles o recebimento neste ano das cotas de TV do Brasileiro de 2020 (que acabou em fevereiro), a gestão rígida, o trabalho em conjunto entre as pastas, novas fontes de receita e dos valores de patrocínio, além, claro, de vendas importantes como a de Gerson e Muniz. As transferências ultrapassaram em R$ 100 milhões o que era previsto no orçamento original.

– A receita será maior do que em 2019, ano em que ganhamos tudo. E não batemos no teto. O esforço que fizemos na pandemia mostra o potencial que o clube tem. Como fizemos? Com gestão. A pandemia desencadeou um enorme trabalho de equipe, controle de custos e aumento de receita. É um resultado digno de se comemorar, mas temos que seguir alertas e trabalhando duro. Temos projetos para aumentar significativamente, não estamos satisfeitos – disse Rodrigo Tostes, vice-presidente de Finanças.

ge entrevistou Rodrigo Tostes e o vice-presidente de Comunicação de Marketing, Gustavo Oliveira, para entender o caminho que o Flamengo percorreu para chegar a este resultado.

Marketing teve receita 80% maior do que 2019 e o clube tem projetos para aumentar o faturamento, como o banco digital, FlaTV+ e a internacionalização da marca.

– Compensamos uma perda de cerca de R$ 120 milhões em bilheteria, sócio-torcedor e estádio com várias outras ações, sejam elas de inovação, marketing ou esportivo. Compensamos e passamos desse valor com essa gestão de custos e aumento de receita – disse Tostes.

Rodrigo Tostes e Gustavo Oliveira comemoram título do Flamengo - Divulgação
Rodrigo Tostes e Gustavo Oliveira comemoram título do Flamengo – Divulgação

Endividamento volta ao patamar pré-pandemia

– Nós estamos com um endividamento menor do que o de 2019, mesmo com os dois anos de pandemia. Em 2019 era de R$ 338 milhões, em 2020, R$ 440 milhões, e agora vamos ficar em R$ 335 milhões – revelou o VP de Finanças.

Novas receitas impulsionam

– O Flamengo passou a assumir riscos. O Carioca foi um ótimo exemplo. Decidimos criar a plataforma de streaming para vender aos nossos clientes. Corremos riscos e encaramos com seriedade. Conseguimos entregar uma receita que não estava prevista. O desempenho esportivo também superou. Teve a receita do Brasileiro (terminou em 2021), da Supercopa, liga de basquete… – disse Tostes.

Vendas geram R$ 100 milhões além da meta. Clube gasta 181 milhões de investimento em atletas (Pedro, Gabigol…)

– Em um ano de pandemia, sem bilheteria e com queda de sócio-torcedor, mantivemos performance esportiva e conseguimos aumentar receita, diminuímos dívida e aumentamos investimento. Com foi feito? Com trabalho em conjunto. Jurídico, futebol, financeiro, marketing… O processo de gestão de custos. Seguramos para não gastar o que não era essencial. No futebol, tivemos de venda bruta (sem descontar a comissão de empresários, por exemplo) um valor de R$ 100 milhões a mais do que o orçamento previa – contou Tostes.

Todas as áreas do clube responsáveis pela receita e na despesa

– Nós trabalhamos muito para colocar a plataforma de streaming no ar. Na chegada do “Mercado Livre”, montamos uma sala de guerra e trabalhamos até de madrugada. O contrato foi assinado pelo Landim às 3h da manhã. Até hoje não sabemos se ele não dormiu ou se ele acordou aquela hora e foi lá assinar. Foi uma dedicação enorme para chegarmos a este número. A previsão de receita para as costas do uniforme era de R$ 4 milhões, e assinamos por R$ 10 milhões. O futebol se envolveu mais, é uma mudança de cultura. Todos têm responsabilidade na receita e na despesa – revelou Tostes.

Chegada de David Luiz só foi possível por causa da mudança de cenário?

– A chegada do David Luiz tem a ver com uma percepção de um horizonte mais seguro no futuro. As receitas que potencializamos nos dão um ambiente mais tranquilo, porque elas são recorrentes (contínuas) – disse Tostes.

Receita de R$ 1 bilhão

– Não vamos ficar satisfeitos quando chegarmos a R$ 1 bilhão, queremos muito mais ainda. Por isso temos os projetos do banco digital, FlaTV+, internacionalização, que nos dá a chance de receita em moeda forte, e edital do Maracanã, que também vemos como um potencial enorme de receita – afirmou Tostes.

AUMENTO DA RECEITA COM PATROCÍNIOS E FLATV+

Vice-presidente de Comunicação de Marketing do clube, Gustavo Oliveira explica os desafios e as soluções da pasta ao longo desta temporada.

Aumento de 80% da receita de marketing em relação a 2019/ parceria com a comunicação

– O sócio-torcedor e bilheteria, que estão dentro do marketing, foram muito ruins. Perdemos muito dinheiro. Se não fosse a pandemia, a gente ia arrecadar mais R$ 120 milhões, R$ 130 milhões. Mas como crescemos? Foi mais em cima de patrocínio. Fizemos um trabalho de estruturação como um todo, do marketing com a comunicação – diz Gustavo Oliveira.

A FlaTV está muito mais forte, as redes sociais estão muito mais fortes. Aumentamos o engajamento, e isso é dinheiro também, além do relacionamento com o torcedor. Aumenta o valor das nossas propriedades. Hoje, qualquer espaço da camisa é vendido junto com espaço nas redes sociais e na FlaTV. O valor aumenta.

Parceria com BRB e redes sociais

– Alavancamos o espaço master. O BRB é uma parceria, não é apenas um patrocínio. Os ativos ganharam mais valor As redes sociais também dão dinheiro. O faturamento é bastante razável, virou um produto vendido. Nós trabalhamos unidos, todas as pastas. Falamos sobre o financeiro, sobre o marketing, relações exteriores… sempre sob o comando do presidente Landim. É o que acontece e que tem dado certo – disse o VP.

David Luiz em sua apresentação no Flamengo - Marcelo Cortes/Flamengo
David Luiz em sua apresentação no Flamengo – Marcelo Cortes/Flamengo

Participação do patrocinador na apresentação de David Luiz

– Esse tipo de ação que fizemos (camisa chegando dentro de uma caixa de encomenda) com o David Luiz vai acontecer sempre. Fizemos um processo de cotas do futebol. A Ambev, por exemplo, participa de transmissão em pré e pós-jogos. Ainda estamos saindo da pandemia, mas conseguimos alavancar. Estamos colhendo agora o que começamos a investir em 2019. Ano que vem teremos números melhores ainda – disse Gustavo Oliveira.

Projeto de fan token

– Foi bom para os dois lados. Estão junto com o Flamengo, a maior torcida do mundo, nossas redes sociais, FlaTV… Não é só venda de token. Eles fazem uma remuneração boa conosco. O engajamento é forte. Esse vai ser um produto importante. Camisa do feminino, masculino… Já entra uma parte do dinheiro esse ano, mas o grosso será nos próximos anos. Acreditamos que ainda esse teremos a nossa moeda. É um contrato de quatro anos e meio que será importante para o clube. Não temos pressa de sermos os primeiros, mas queremos fazer muito bem feito, do tamanho do Flamengo – afirmou Gustavo Oliveira.

Lançamento da FlaTV+ e o preço da mensalidade

– Devemos lançar ainda em outubro a FlaTV+, uma espécie de TV por assinatura para quem quer saber ainda mais do Flamengo. A FlaTV normal segue, é a terceira maior do mundo entre os clubes. A FlaTV+ terá mais programas, mais entrevistas, mais tempo do treino… Para quem quer acompanhar tudo, é a assinatura ideal. Vai ficar entre R$ 15 e R$ 20, e o sócio vai pagar a metade. Com o tempo o projeto vai crescer – revelou o VP de Comunicação de Marketing.

Número de sócios-torcedores começa a aumentar

– Os resultados de campo influenciam diretamente, e já estamos sentindo uma movimentação positiva. A curva de compra começa a crescer. Caiu na pandemia, estabilizou e agora voltou a crescer. Tem uma expectativa de crescimento. Mudamos os planos, demos propriedades novas. As pessoas começam a ver que vale a pena. Nesse jogo da Libertadores (contra o Barcelona), a maioria vai ser de sócios-torcedores. É um bom negócio ser sócio. A expectativa é boa – declarou Gustavo Oliveira.

Expectativa de voltar a faturar com bilheteria

– Sobre a receita de bilheteria, ainda temos limitação de carga de público, e isso deve continuar por um período. A operação é bem mais cara. Segurança, controle… Ainda neste momento não vai refletir em um faturamento importante como será no futuro. Mas o produto futebol é muito mais importante. O futebol com a torcida é muito mais valioso, ela faz parte do espetáculo. Com a vacinação avançado, acredito que vamos normalizar. (Globo Esporte)