Venceu, mas ainda não convenceu. O Flamengo chega para a final do Campeonato Carioca pela quarta vez consecutiva com a sensação de que segue sendo um time competitivo, segue sendo melhor que os adversários diretos, e segue em busca de ajustes finos que o façam ser mais encantador sob o comando de Paulo Sousa.
A vitória magra – mais uma – por 1 a 0 sobre o Vasco é daquelas que ajuda a sintetizar a percepção após quase dois meses de trabalho do treinador. Não dá para dizer que o Flamengo jogou mal. Não dá para dizer que o Flamengo sofreu. Mas também não dá para considerar uma grande atuação um jogo de trocação por quase uma hora contra um rival consideravelmente inferior tecnicamente.
A vantagem no confronto fez com que o Flamengo iniciasse o clássico de guarda muito baixa diante de um adversário disposto a arriscar para o tudo ou nada. A displicência nas ações a partir da intermediária ofensiva permitia a recuperação e ligação rápida de um Vasco que soube encontrar espaços entre as duas primeiras linhas rubro-negras para que Nenê levasse perigo.
Números do Flamengo no clássico
Posse de bola: 58%
Finalizações: 21
Escanteios: 9
Passes certos: 389
O meio-campista vascaíno teve três oportunidades com liberdade na entrada da área fazendo valer dos buracos deixados pelos volantes que tinham que dar um passo adiante para cobrir erros na marcação alta do ataque. Até o gol de Willian Arão, o Vasco conseguiu enfrentar o Flamengo graças a um desequilíbrio descrito por Paulo Sousa em entrevista coletiva:
“Nossa intensidade não foi (a ideal), sobretudo a intensidade mental. Os principais protagonistas, como o Arrasca, não estiveram no seu melhor nos primeiros 20 minutos. Muita precipitação, muita perda de bola simples”
– Linhas de passes identificadas sob pressão sem necessidade nenhuma, tínhamos jogadores livres para ter posse e chegar mais perto do gol adversário. E a intensidade seja na mobilidade, seja na transição ofensiva, não foi das melhores.
Sem Éverton Ribeiro por opção do treinador, o Flamengo utilizou pouco a profundidade dada por Rodinei pela direita e teve nas ações de Lázaro em diálogo com Arrascaeta, pela esquerda, seus melhores momentos enquanto o jogo estava empatado. A partir do 1 a 0, o Vasco diminuiu a capacidade de mobilização, de pressão, e foi dominado.
Com Marinho e Vitinho, o Flamengo ganhou velocidade na transição ofensiva e enumerou chances desperdiçadas. Fosse no belo passe de Arrascaeta para Gabi tocar por cima do goleiro para fora, fossem nos chutes da entrada da área de Marinho, o 1 a 0 ficou barato a partir do momento que os vascaínos se viram sem poder de reação.
Faltou ao Flamengo, no entanto, a chamada fome dita por Paulo Sousa tantas vezes. Com ajustes a fazer, o time sobra no Carioca, mas liga alerta para momentos onde apenas vencer a qualquer custo não é suficiente. Os desafios adiante serão de nível mais elevado.
Seja nas finais do Carioca, na Libertadores, no Brasileirão ou na Copa do Brasil, a exigência será maior e esse Flamengo ainda não deixa o torcedor convicto de que está pronto para encará-las no nível de excelência que se espera.