Em nova – e longa – reunião por videoconferência, a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) decidiu montar uma comissão de médicos e elaborar um documento próprio de protocolo médico, batizado como “Jogo Seguro”, para o retorno do futebol no Rio de Janeiro. Ainda sem data para retorno das atividades no estadual, o encontro virtual contou com cerca de 30 pessoas, sendo 20 médicos de clubes e ainda o infectologista Celso Ferreira.
Com as devidas ressalvas de que só vai voltar o futebol a partir do momento que as autoridades – estaduais e federais – permitirem, a Ferj avalia o retorno dos jogos de futebol com os portões fechados no fim de maio. Os médicos discutiram diversos pontos e ações que vão desde os treinos em grupos até o meio de locomoção de funcionários para retorno das atividades nos clubes.
– A confecção desse protocolo Jogo Seguro é uma diretriz responsável e planejada para o retorno. É um trabalho pioneiro no Brasil. E criaremos uma Comissão Temporária na Ferj para o Covid-19 para acompanhamento e consultorias para os diversos casos (clubes) – disse Rubens Lopes, presidente da federação, ao site oficial.
Rubens Lopes coordena grupo de estudo que vai apresentar protocolo médico na reunião de quarta-feira — Foto: Vicente Seda
O chefe do departamento médico do Flamengo, Márcio Tannure, apresentou pontos que elaborou para o clube e fez longa explanação na reunião. Um documento será condensado com diversas sugestões para ser entregue ao presidente da Ferj, Rubens Lopes. Na quarta, outra reunião, agora com presidentes e dirigentes, vai analisar o protocolo e decidir os próximos passos do Carioca.
Christiano Cinelli, chefe do departamento médico do Botafogo, também participou ativamente da reunião e reiterou a importância de o retorno ser baseado no comportamento da pandemia nos próximos dias e até meses. Para ele, no momento, a saúde dos jogadores, comissão, dirigentes e funcionários em geral deve estar em primeiro lugar. O protocolo, que será apresentado à CBF, assim como qualquer resposta à pandemia, pode ser alterado e corrigido a qualquer momento.
Marcos Teixeira, diretor médico do Vasco, foi outro que teve voz no encontro. Ao lembrar ter feito, em conjunto com Flamengo, Fluminense e Botafogo, uma cartilha para o retorno dos treinos, exemplificou que tipo de medidas seriam colocadas em prática caso o “Jogo Seguro” seja aprovado:
– O Vasco confeccionou uma cartilha, ao lado dos outros três grandes do Rio, com uma série de proposições. Elas inclusive foram usadas como sugestões nessa reunião e devem ser tomadas quando houver o retorno dos treinamentos. Ela abrange toda a rotina do atleta. Quando ele chega ao clube, passa por uma triagem, é tirada a temperatura, é feito um questionário sobre os eventuais sintomas respiratórios e os familiares domiciliares. Após, o atleta vai para o estacionamento. Do carro, vai diretamente para o campo, ou seja, não frequenta as instalações do clube. No gramado, existe um espaço individual onde há a hidratação e nutrição. Não haverá contato com outros atletas e comissão técnica. Montamos toda a formatação disso em São Januário em consonância com o documento da Ferj e da CBF.
A intenção da Ferj, a depender da liberação das autoridades – como vem reforçando em todos comunicados -, é conseguir o apoio dos clubes na reunião de quarta para terminar o campeonato com portões fechados – se possível, no fim de maio, seguindo o protocolo médico estabelecido.
Representante dos atletas, o presidente do sindicato dos jogadores no Rio de Janeiro, Alfredo Sampaio, disse que ainda entende essa sugestão como hipótese e não acredita na intenção da Ferj e dos clubes de retornarem sem padrões mínimos de segurança para o ambiente.
– Se a Ferj e os clubes decidirem pelo retorno, vou consultar todos atletas. Em momento algum vou assinar nenhum documento que não esteja de acordo com o desejo dos atletas. Existe a preocupação do pagamento da Globo (última cota do contrato de transmissão). Se as autoridades atestarem que há segurança mínima, talvez possa acontecer de jogar com portões fechados. Mas isso só mediante autorização dos jogadores. Ou então não há chance de voltar. Porque não é questão simples de concordar em jogar ou não, mas é questão de segurança. Não creio que a Ferj e os próprios clubes vão correr o risco de fazer alguma coisa se não tiver segurança mínima – disse Sampaio.
Confira a nota oficial da Ferj:
“Jogo Seguro: protocolo e criação de comissão
Com planejamento seguro, responsável e alinhado com os órgãos governamentais, a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro e os departamentos médicos de America, Bangu, Boavista, Botafogo, Cabofriense, Macaé, Resende, Volta Redonda, Flamengo, Fluminense, Portuguesa, Friburguense, Madureira e Vasco debateram na tarde desta segunda-feira (13/04) a elaboração do protocolo Jogo Seguro para a volta das atividades – apenas quando permitidas pelas autoridades sanitárias.
Antes do compartilhamento de ideias, um Grupo de Trabalho foi formado para compilar as sugestões de todos os responsáveis: Christiano Cinelli (Botafogo), Eduardo Moraes (Boavista), Márcio Tannure (Flamengo), Marcos Teixeira (Vasco) e Celso Ramos Filho (Professor Titular de Doenças Infecciosas da Faculdade de Medicina da UFRJ). O GT apresentará o texto do protocolo na próxima quarta-feira (15/04) para todos os médicos darem a validação. Esse documento será enviado aos órgãos governamentais.
Alguns pontos abordados foram: critérios de inclusão no grupo estabelecido para as atividades, sendo um número necessário; deslocamento do atleta; uniformes e acessórios; formação de corredor de segurança no local de treino; desinfecção e descontaminação; uso de sanitários; cuidados individuais; proibição de abertura de outros locais, como restaurante, cozinha…
– A confecção desse protocolo Jogo Seguro é uma diretriz responsável e planejada para o retorno. É um trabalho pioneiro no Brasil. E criaremos uma Comissão Temporária na FERJ para o COVID-19 para acompanhamento e consultorias para os diversos casos (clubes) – disse o presidente da FERJ, Rubens Lopes”. (Globo Esporte)