Os políticos experientes acreditam, sim, nas pesquisas eleitorais. Às vezes, publicamente fingem não crer, quando elas lhes são desfavoráveis, para manter o eleitorado aceso e enganado.
É o que acontece atualmente, quando uma parte dos bolsonaristas se dedica a informar aos eleitores, pelas mídias sociais, que os resultados apresentados nas pesquisas atuais são fraudados.
Mas, no entorno do Presidente existe um grupo mais esclarecido, que usa os dados dessas pesquisas para calibrar o discurso. Este pessoal trabalha com a possibilidade de em junho ou julho o Jair Bolsonaro igualar-se ao Lula na preferência dos votos, o que parece possível.
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Mas, sabendo que existe o risco de perder as eleições, o bolsonarismo militante resolveu criar um seguro que garanta mais um mandato (ou vários) para o “mito”. Da mesma forma que convencem os eleitores mais radicais da falsidade das pesquisas, agora faze-os acreditar que as urnas eletrônicas, com a conivência da Justiça Eleitoral, serão manipuladas para dar a vitória ao Lula, em outubro.
Claro que os políticos que foram eleitos e reeleitos por estas mesmas urnas, sabem muito bem que elas são confiáveis. Mas o que importa para os radicais é botar na cabeça dos eleitores que é possível manipular a eleição. O objetivo é deixar o povo de sobreaviso para reagir contra eventual derrota, invocando fraude na eleição.
A menos de cinco meses das eleições, estamos vivendo uma situação de grande instabilidade política. Nesta hora os olhares se dirigem ao Exército Nacional, indagando qual será a atitude de seus generais diante de uma sugestão do Presidente, em caso de insucesso eleitoral, para apoiarem uma prorrogação excepcional do mandato.
Os discursos dos comandantes (por enquanto) tentam mostrar compromisso com a democracia, mas não convencem totalmente os mais desconfiados, embora nos últimos trinta e tantos anos as forças armadas tenham sido democraticamente exemplares.
Nós sabemos que o Exército não gosta do Lula, o que é perfeitamente normal, afinal o ex-presidente tem mesmo algumas ideias bizarras, tais como elogiar os governos da Venezuela e Cuba e, mais recentemente, igualar Putin e Zelenski na culpa pela invasão da Ucrânia.
Mas ele (o Exército) como instituição, está aí para garantir a manutenção da democracia, independentemente de o Comandante em Chefe, ser de esquerda ou de direita.
Nesta semana o Ministério da Defesa – aquele que manda nos militares – criou uma série de picuinhas com o TSE, sinalizando que está comprando pelo valor de face o discurso do Bolsonaro. Fez uma série de questionamentos à Justiça Eleitoral, mostrando clara intenção, não de colaborar com a melhoria do sistema, mas de espalhar desconfianças infundadas urdidas pelo Presidente.
Assim, ficamos de orelha em pé, com medo de que a única força efetivamente capaz de evitar a instalação de eventual ditadura, possa escutar o canto da sereia e botar o Brasil no brejo. Não dá para desconsiderar que os militares ocupam mais de oito mil cargos em vários escalões do governo e que estão empolgados com o capitão.
Isto, todavia, não garante -por enquanto- que a cúpula dos fardados vá apoiar algum movimento golpista. Nossa esperança é que os generais da cozinha do Presidente que comem na sua mão, não representem a média do pensamento das Forças Armadas Nacionais.
*RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor em Mato Grosso.
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