Um ex-pistoleiro foi preso em Sergipe suspeito de participar de uma chacina, em 2004, na fazenda do ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro, em Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá. À época, quatro pessoas foram mortas. O ex-pistoleiro, investigado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Cuiabá, estava foragido há 17 anos.
De acordo com a Polícia Civil, haviam dois mandados de prisão decretados pela 1ª Vara Criminal de Várzea Grande contra Édio Gomes Júnior, sendo um deles por envolvimento na chacina, crime pelo qual responde a processo na Justiça.
O G1 tenta localizar a defesa de Édio.
O advogado de Arcanjo, Paulo Fabrini, disse que quando o crime ocorreu na fazenda, o ex-bricheiro estava preso no Uruguaio em sistema de isolamento e não tinha contato com ninguém.
“A fazenda estava arrendada para a administração de terceiros. João Arcanjo nunca foi indiciado e muito meno denunciado por este crime. Édio trabalhou com Arcanjo até 2002 como motorista da casa. Não existe o menor indício de participação de João Arcanjo neste crime”, explicou.
A prisão de Édio ocorreu na praia de Atalaia Nova, em Barra dos Coqueiros (SE), após troca de informações entre a DHPP e a Polícia Civil de Sergipe.
Segundo a polícia, o foragido estava morando no município há cerca de quatro anos e se apresentava com documentos falsos. Aos policiais, ele confessou que usava a documentação para fugir da polícia.
Ele foi encaminhado ao Cope e, após autorização judicial, será transferido para Mato Grosso.
Chacina
A chacina ocorreu em março de 2004, na fazenda São João, localizada às margens da BR-163, próxima ao Trevo do Lagarto, em Várzea Grande.
Durante as investigações, foram identificados oito envolvidos no crime, todos funcionários da propriedade do ex-bicheiro. Os suspeitos foram indiciados por homicídio qualificado – cometido por motivo fútil, uso de meio cruel e sem chance de defesa -, ocultação de cadáver e formação de quadrilha.
O Ministério Público Estadual ofereceu denúncia à Justiça ainda em 2004.
As vítimas, Pedro Francisco da Silva, José Pereira de Almeida, Itamar Batista Barcelos e Areli Manoel de Oliveira foram mortas pelos funcionários da fazenda.
Segundo a polícia, uma vítima foi morta a tiros e três delas foram amarradas e torturadas, antes de serem mortas por afogamento.
As versões constam na reprodução da chacina, realizada pela Polícia Civil em maio de 2004 a pedido do Ministério Público, da qual participaram dois dos investigados. Os dois envolvidos confirmaram que as vítimas foram amarradas e jogadas no lago em que pescavam e que demoraram pelo menos 20 minutos para morrer.
Depois de mortas, as vítimas tiveram os corpos jogados em uma área à margem da estrada da localidade de Capão das Antas, em diferentes pontos, a fim de dificultar o trabalho investigativo da polícia.
O inquérito conduzido pela equipe do delegado Wylton Massao Ohara, à época, apurou que as quatro vítimas foram à fazenda para pescar em um dos tanques de peixe da propriedade, na manhã do sábado de 20 de março.
Conforme a investigação, os amigos teriam ido ao local na intenção de pescar para consumo de suas famílias, quando foram surpreendidos pelos seguranças da fazenda e mortos.
Ainda de acordo com a polícia, como os quatro não retornaram para casa, no dia seguinte, as famílias procuraram a polícia e teve início a busca pelas vítimas. Ainda no domingo, a Polícia Militar localizou as quatro bicicletas próximas à cerca da fazenda. Após diversas buscas, os corpos foram localizados em uma área fora da fazenda, onde foram jogados a fim de ocultar o crime e dificultar a investigação.
Conforme depoimentos prestados à DHPP durante as investigações, um dos funcionários confirmou que ele e outros dois seguranças da fazenda encontraram os quatro rapazes no final da tarde do sábado, pescando no tanque de piscicultura e atiraram contra as vítimas. Uma delas correu para o mato para se esconder, mas foi morta com um disparo no abdômen feito por um dos seguranças.
A polícia informou que as outras três vítimas foram rendidas e então o segurança, que foi preso em Sergipe, teria ligado para o gerente da fazenda dizendo que “três capivaras estavam presas e uma estava morta e que aguardavam a faca para arrancar o coro das que estavam vivas”.