Após a denúncia de assédio sexual e moral feitas pela ex-diretora da mulher e de operações do Náutico, Tatiana Roma, contra o atual superintendente financeiro, Errisson Rosendo de Melo – afastado de suas atividades por iniciativa própria -, o ge conversou com outras duas ex-funcionárias do clube que também afirmam ter sido vítimas de episódios semelhantes por parte do irmão do atual presidente executivo, Edno Melo. Tanto de natureza sexual quanto moral.

Os casos teriam ocorrido há três anos, no primeiro semestre de 2018, que corresponde ao início do primeiro ano da gestão de Edno Melo – o relato de Tatiana Roma ocorreu, segundo ela, entre maio de 2020 e julho deste ano.

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Em um dos casos, Errisson teria atrelado o pagamento das multas rescisórias e o depósito do FGTS da funcionária ouvida pela reportagem, que pediu anonimato, à condição de lhe apresentar a filha.

– Ele dava beijo de cumprimento no rosto da minha filha quase chegando no canto da boca. Minha filha ficava horrorizada. Sou torcedora do Náutico e minhas filhas sempre frequentaram o clube – disse a ex-funcionária.

Segundo ela, a situação piorou após a sua saída do clube.

“Ele me ligou dizendo para ir no clube receber minha rescisão. Chegando lá, ele ficou em uma sala conversando com mais dois homens. Quando perguntei quando receberia minha rescisão ele disse: “’Depende. Cadê a sua filha? Quando você vai me apresentar a sua filha?’ Disse para ele ter vergonha porque ele era um homem casado. Os dois homens ficaram rindo e eu saí da sala.”

– Ele pedia para eu ligar determinado dia para saber se tinha dinheiro e quando eu ligava ele continuava com o mesmo assunto, perguntando: ‘Cadê a sua filha?’. Depois que foi feita a transferência, isso se repetiu com o FGTS. As guias estavam prontas e ele disse que só iria fazer o depósito quando eu apresentasse minha filha a ele. Como se eu tivesse a obrigação de oferecer a minha filha. É até vergonhoso falar. Até que deixei de ligar. E pouco mais de seis meses depois, o FGTS foi depositado – acrescentou.

A ex-funcionária também relatou constrangimentos morais proferidos por Errisson Melo. “Era taxada de burra, de incompetente. E quando tinha visitantes no clube ele ficava me oferecendo para eles. Falava: ‘Ela tá só, o que tu acha?’ Como se eu estivesse em exposição em uma vitrine.”

A ex-funcionária explicou que não procurou ajuda na época porque pensava que era um caso isolado e que soube de outras mulheres que também comentaram problemas semelhantes só após a sua saída do Náutico. De toda forma, ela não pensa em levar o caso à Justiça.

– Não procurei ajuda porque achei que era só comigo. Não sabia que tinham outros casos. Só soube depois que eu já tinha saído. Não quero levar esse caso para a Justiça. Só estou falando agora porque quero ajudar a Tati, mas se houver uma denúncia coletiva, de outras mulheres, não vou me opor.

Outra denúncia

A outra mulher ouvida pelo ge disse ter sofrido assédio moral de Errisson Melo, mas não sexual. Segundo Janire Mello, seu trabalho no Náutico era terceirizado e voltado para a venda de cadeiras cativas nos Aflitos. O problema começou quando um sócio se desentendeu com ela na secretaria do clube.

– Fui socorrer uma funcionária porque esse sócio estava a destratando. Tentei ajudar e ele também me destratou. Nisso veio Edno (Melo, presidente) conversou com o sócio e disse que eu estava errada. E depois veio outra funcionária e disse para eu subir porque Errisson queria conversar comigo. Disse que não iria subir porque não tinha nada que falar com ele. E aí começou a pressão dizendo que ele era irmão do ‘dono’ – iniciou Janire.

“Ele desceu, foi na secretaria e mandou me chamar. Quando cheguei lá, ele já foi gritando comigo, me destratando. Eu disse que se ele tivesse alguma queixa que fizesse a quem tinha me contratado. Aí ele começou a me humilhar, colocando o dedo no meu rosto. Cheguei a pensar que ele iria me bater. Depois disso fiquei nervosa e chorando muito”, afirmou.

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– Eu fiquei do lado de fora atendendo os sócios. Era muito constrangedor porque eu não podia entrar, não podia beber água, nem com as demais meninas eu podia conversar. Passava a maior parte do tempo em pé. E ele, junto com outros funcionários, passava, olhava para mim e ficava rindo. Até que saí porque a situação ficou insuportável.

Janire disse que após o episódio precisou de acompanhamento psicológico. E que não denunciou o assédio na época por medo.

– Eu fiquei com problemas psicológicos por causa dessa situação. Chorava todos os dias, tive muitas crises e tive que fazer acompanhamento psicológico e tomar remédio controlado. Foi todo um transtorno por causa disso. Fui desencorajada a denunciar porque poderia acontecer alguma coisa comigo. Porque ele era um homem influente, diziam que conhecia muita gente que era melhor deixar para lá porque nunca mais poderia conseguir trabalho – concluiu.

ge tentou ouvir o advogado de Errisson Melo, Luiz Gaião, a respeito das novas denúncias. Ele alegou desconhecer os fatos e que qualquer pronunciamento só será feito “após a publicação da matéria.” (GE)