Fragmentos de cerâmica datados de 2,3 mil a 1,2 mil anos atrás revelaram as evidências mais antigas de produção de bebidas alcóolicas no Rio Grande do Sul, ainda no Brasil pré-colonial. Os materiais foram achados na Lagoa dos Patos, cujas margens tem montes de terras assentados conhecidos como “cerritos”, construídos por ancestrais de grupos indígenas. A pesquisa foi publicada na revista científica PLOS ONE.
Análises do material encontrado sugerem que as bebidas era feitas com vegetais, como tubérculos, milho doce e palma. A cerâmica também apresentou evidências do processamento de peixes e da preparação de alimentos por meio de aquecimento, armazenamento e, possivelmente, fermentação.
“Esse estudo reforça o poder da arqueologia molecular em revelar informações de artefatos comuns, como cacos de cerâmica, que antes eram inacessíveis por meio de métodos arqueológicos convencionais”, disse André Colonese, da Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha. A equipe internacional de pesquisadores ainda reúne profissionais da Universidade de York, no Reino Unido, e da Universidade Federal de Pelotas, no Brasil.
A crença de que os povos pré-coloniais podem ter se reunido em torno dos montes para celebrar e realizar banquetes é reforçada pela nova descoberta. Esses lugares tinham significado simbólico como marcadores territoriais, monumentos e local de sepultamento.
“Vemos exemplos de tais práticas em todo o mundo, geralmente relacionadas à abundância sazonal de espécies migratórias. Esses eventos oferecem uma excelente oportunidade para atividades sociais, como funerais e casamentos, e têm grande significado cultural”, afirmou Marjolein Admiraal, que realizou a pesquisa no Laboratório de Bioarqueologia (BioArCh) da Universidade de York.
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Os pesquisadores apontam que os cerritos tinham uma importância cultural, e elevá-los acima da erosão os teria protegido das águas altas sazonais. “Além disso, uma mensagem importante do artigo é que a preservação dos Cerritos como patrimônio cultural pampeano exclusivo é de alta prioridade se quisermos aprender com as sociedades passadas como viver de forma sustentável em um ambiente tão dinâmico”, destacou Colonese.
(Por Redação Galileu)