O açaí é uma fruta que ganhou o mundo. Nativo da amazônia e amplamente cultivada pelos indígenas que vivem nesse bioma, o açaí ganhou ao longo dos últimos anos um enorme valor comercial e a extração do fruto na floresta passou a se transformar em um negócio. O extrativismo vegetal, que compreende na retirada de produtos vegetais sem a destruição do meio ambiente, se tornou a principal forma de obtenção do açaí. Veja a lista dos frutos no final da reportagem.
Um estudo publicado neste mês na Revista Científica ANAP Brasil por pesquisadores da Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat) mostra o tamanho do potencial que outras frutas, nativas de Mato Grosso, podem ter para o extrativismo vegetal e para a economia do estado.
Ao todo, a pesquisa “Diversidade botânica de Mato Grosso: Catalogando espécies arbóreas e palmeiras de valor extrativista” lista 43 espécies que poderiam muito bem alcançar o mesmo status do famoso açaí amazônico.
Lista de frutos
O trabalho, que revisita e analisa as espécies vegetais extrativistas ou com potencial para exploração sustentável, revela que Mato Grosso abriga 43 espécies significativas distribuídas em 34 gêneros e 19 famílias botânicas, mas enfrenta desafios em sua exploração.
O estudo identificou que as espécies de potencial extrativista estão amplamente distribuídas nos três biomas do estado: Amazônia, Cerrado e Pantanal. Espécies como Anacardium occidentale L. (caju), Annona crassiflora Mart. (araticum), Byrsonima crassifolia L. Kunth (murici), Garcinia brasiliensis Mart. (bacupari), Genipa americana L. (jenipapo) e Hymenaea courbaril L. (jatobá) ocorrem em todos os biomas mato-grossenses. No entanto, apesar dessa rica diversidade, apenas dez dessas espécies estão formalmente reconhecidas em listas de comercialização extrativista no estado.
A pesquisa revela que o potencial extrativista de Mato Grosso está subutilizado, com uma ausência de reservas extrativistas nos biomas Cerrado e Pantanal. Este cenário sugere que há um grande potencial não explorado que poderia ser aproveitado de forma sustentável, beneficiando tanto o meio ambiente quanto as comunidades locais.
Diversidade e Potencial
Entre as famílias botânicas de destaque, a Arecaceae (palmeiras) lidera com dez espécies, refletindo sua importância econômica em produtos como ceras, alimentos e tecelagem. A família Myrtaceae, com suas propriedades fitoterápicas e cosméticas, e a Fabaceae, conhecida por suas aplicações farmacológicas e madeireiras, também destacam-se. Anacardiaceae, que inclui o caju, é importante tanto para alimentação quanto para a indústria farmacêutica e cosmética.
Seis das 43 espécies estudadas estão presentes em todos os biomas do estado, demonstrando a ampla distribuição e potencial dessas plantas. Por exemplo, o caju (A. occidentale) é amplamente valorizado por seus frutos e castanhas, enquanto o araticum (A. crassiflora) e o murici (B. crassifolia) são apreciados tanto localmente quanto comercialmente por suas qualidades nutricionais e aplicabilidades industriais.
Desafios e Oportunidades
A pesquisa aponta para a necessidade urgente de mais reservas extrativistas, especialmente no Cerrado e Pantanal, onde atualmente não existem. A criação dessas reservas não só ajudaria na proteção e exploração sustentável das espécies, mas também proporcionaria suporte às comunidades tradicionais que dependem desses recursos para sua subsistência e geração de renda.
O estudo destaca que, embora algumas espécies já sejam utilizadas a nível local, a falta de uma cadeia comercial bem estabelecida e o conhecimento científico limitado sobre a biologia dessas plantas ainda são obstáculos significativos. Para maximizar o potencial extrativista, é essencial o desenvolvimento de planos de manejo e a implementação de incentivos que promovam a exploração sustentável e o fortalecimento das cadeias produtivas.
Criação de reservas extrativistas
A riqueza botânica de Mato Grosso oferece um vasto potencial extrativista que ainda está longe de ser plenamente explorado. O fortalecimento das reservas extrativistas e a promoção de práticas sustentáveis são passos cruciais para o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental. A criação de novas reservas pode não apenas proteger a biodiversidade local, mas também contribuir para a mitigação das mudanças climáticas e o fortalecimento das economias regionais, beneficiando as comunidades tradicionais e o meio ambiente.
A valorização das espécies extrativistas e a implementação de estratégias sustentáveis representam uma oportunidade promissora para transformar o potencial verde de Mato Grosso em um motor de crescimento econômico e proteção ambiental.
Lista dos frutos com potencial de comercialização:
Macaúba
Cajuí – Cajuzinho do Cerrado
Caju
Araticum, Panã
Biribá
Tucumã
Babaçu, Cocão do Acre
Pupunha
Castanha-dopará/Castanha-do-brasil
Urucum
Murici
Murici
Pequi
Copaíba
Carnaúba
Baru, Cumbaru
Cagaita
Araçá-boi
Açaí
Açaí
Bacupari
Bacupari
Jenipapo
Mangaba
Borracha
Jatobá
Jatobá
Erva-mate
Jaracatiá, Mamãozinho
Buriti
Camu-camu
Cambuí
Bacaba
Abiu
Araçá-pera
Araçá
Jurubeba
Taperebá, Cajá
Chichá
Gueroba
Veludo
Pitomba
Jaracatiá, mamão-domato
Apenas dez dessas espécies estão formalmente reconhecidas em listas de comercialização –
Reprodução/VGN