Não muito depois que a pandemia do coronavírus começou, o Goiás foi atingido pela suspensão de repasses e também pela não renovação de patrocínios importantes. Nas contas preliminares do presidente Marcelo Almeida, cerca de R$ 1 milhão seria desperdiçado. A análise é do jornalista Rodrigo Capelo, do Globo Esporte.
A paralisação dos campeonatos ainda afeta o clube em duas vertentes: pagamentos da Globo pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro ainda não começaram, e as bilheterias devem ser fortemente atingidas pelo provável recomeço com portões fechados.
Ou seja, o clube esmeraldino passa por um período desafiador, bem como todos os outros clubes de futebol no Brasil. A boa notícia é que, diferente da maioria, o Goiás estava razoavelmente tranquilo até 2019.
Não são todos os dirigentes que, como Marcelo Almeida, podem olhar para o gráfico abaixo e encontrar um faturamento duas vezes maior do que o endividamento. Em outras palavras, a soma de todas as receitas na temporada supera a quantidade de compromissos.
A má notícia é que transferências de jogadores renderam menos. Na verdade, quase nada. Michael teve seus direitos vendidos para o Flamengo somente em janeiro de 2020, portanto não foi contabilizado.
A boa notícia é que a participação da torcida aumentou. Bilheterias subiram R$ 5 milhões, mensalidades de associados aumentaram R$ 2 milhões, e assim o que se entende nesta análise por “torcida e estádio” compensou o decréscimo na venda de jogadores.
Os direitos de transmissão também elevaram. O Goiás se beneficiou da nova fórmula de distribuição do dinheiro da tevê. Ainda que não tenha um pay-per-view forte, o equilíbrio das cotas aberta e fechada é positivo para clubes do porte financeiro esmeraldino.
Há uma particularidade que ajuda a entender o endividamento, já mudando de assunto. O Goiás é um dos poucos clubes que, nos últimos anos, acumulou uma “poupança”. O dinheiro entrou na renegociação mais recente dos direitos de transmissão, em 2016, e vem sendo usado para investimentos no futebol e para manter a casa em ordem.
- R$ 38 milhões em caixa e aplicações financeiras em 2016
- R$ 31 milhões em caixa e aplicações financeiras em 2017
- R$ 19 milhões em caixa e aplicações financeiras em 2018
- R$ 10 milhões em caixa e aplicações financeiras em 2019
Reservas financeiras são palavras raras no futebol. E elas se tornam especialmente úteis no momento em que um imprevisto de escala global, como a pandemia do coronavírus, atinge todo mundo.
A maior parte do endividamento esmeraldino está equacionada pelo Profut, parcelamento do governo federal que permitiu esticar em até 20 anos os pagamentos de impostos não pagos no passado.
O Goiás não é um clube que pega dinheiro emprestado com banco, nem que compra por valores altos os direitos de jogadores.
Com alguma preocupação no longo prazo, só a parte trabalhista. O clube terminou 2019 com perda estimada em R$ 15 milhões nas ações judiciais movidas por ex-jogadores e ex-funcionários. A diretoria acredita que precisará pagar este valor, mas ainda não há uma data prevista para o pagamento, porque as ações ainda estão rolando.
Pelo menos superficialmente, o torcedor esmeraldino tinha dois motivos para ficar de olho nas finanças até 2019: primeiro, a poupança acumulada anos atrás está se esgotando; e, segundo, as receitas precisam continuar a crescer com consistência para que gastos com futebol aumentem e deem estabilidade ao time na primeira divisão.
De todo modo, a percepção não deve fugir do contexto no qual o Goiás está inserido. Numa hora em que a maioria dos clubes brasileiros está hiper-endividada e acuada pela interrupção do fluxo de receitas, tendo em vista que ninguém poderia ter previsto ou se prevenido para uma pandemia, sair dessa com poucos problemas ficará de bom tamanho. (Rodrigo Capelo/Globo Esporte)