O primeiro esqueleto completo de dinossauro já identificado foi finalmente estudado em detalhes, graças ao paleontólogo britânico David Norman, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Suas descobertas foram publicadas em 18 de agosto no Zoological Journal of the Linnean Society.
O espécime, um celidossauro que viveu há 193 milhões de anos, foi encontrado mais de 160 anos atrás, na Costa Jurássica, sudoeste da Grã-Bretanha. À época, o esqueleto foi enviado a ninguém menos que Richard Owen, importante naturalista britânico que criou a palavra “dinossauro“. O especialista estudou a anatomia geral do celidossauro e publicou dois artigos sobre o assunto, mas muitos detalhes foram deixados de lado e o primeiro esqueleto completo de um dinossauro ficou esquecido — até agora.
Três anos atrás, Norman “redescobriu” o celidossauro e desde então vem estudando-o profundamente. Sua análise permitiu não apenas reconstruir a aparência do animal em vida, mas revelou que ele é um dos primeiros ancestrais dos anquilossauros, conhecidos como os “tanques blindados” do período Cretáceo tardio (entre 100 milhões e 66 milhões de anos atrás).
Estudando sua evolução
Por mais de um século, os dinossauros foram classificados principalmente de acordo com a forma de seus ossos do quadril: eles eram saurísquios (“quadris de lagarto”) ou ornitísquios (“quadris de pássaro”). No entanto, em 2017, Norman e um grupo de alunos argumentaram que esses agrupamentos de famílias de dinossauros precisavam ser reorganizados, redefinidos e renomeados.
Em um estudo publicado na Nature, os pesquisadores sugeriram que dinossauros com quadris de pássaros e dinossauros com quadris de lagarto, como o tiranossauro, evoluíram de um ancestral comum, contradizendo mais de um século da teoria evolutiva dos dinossauros. Outro fato que emergiu de seu trabalho sobre as relações dos dinossauros foi que os primeiros ornitísquios conhecidos apareceram pela primeira vez no período Jurássico inferior (entre 201 milhões e 174 milhões de anos atrás).
“O celidossauro é um desses dinossauros e representa uma espécie que apareceu no, ou perto do, ‘nascimento’ evolutivo dos ornitísquios”, explicou Norman, em uma reportagem compartilhada no site da Universidade de Cambridge. “Dado esse contexto, o que realmente se sabia sobre o celidossauro? A resposta é: incrivelmente pouco!”
O cientista descobriu que esses animais tinham chifres na parte de trás do crânio, além de ossos que nunca foram encontrados em nenhum outro dinossauro. “Também fica claro pela textura áspera dos ossos do crânio que era, em vida, coberto por escamas córneas endurecidas, um pouco como as escamas da superfície do crânio de tartarugas vivas”, explicou Norman. “Na verdade, todo o seu corpo era protegido por uma pele que continha uma série de espinhos e placas ósseas em forma de cravo.”
De acordo com o cientista, depois que a anatomia do animal foi compreendida, ele pôde localizar a espécie na árvore genealógica dos dinossauros. Por muitas décadas, o celidossauro foi considerado um dos primeiros membros do grupo que incluía os estegossauros e os anquilossauros. A pesquisa de Norman, entretanto, indica que o scelidossauro era um ancestral apenas dos anquilossauros.
“É uma pena que um dinossauro tão importante, descoberto em um momento tão crítico no estudo inicial dos dinossauros, nunca tenha sido descrito corretamente. Agora, finalmente, ele foi descrito em detalhes, o que forneceu muitos insights novos e inesperados sobre a biologia dos primeiros dinossauros e suas relações subjacentes”, observou Norman. “Parece uma pena que o trabalho não tenha sido feito antes, mas, como dizem, ‘antes tarde do que nunca’.”
(REDAÇÃO GALILEU)