O Espião Estatístico do Globo Esporte analisou a primeira rodada e tirou suas conclusões: Se houvesse justiça no futebol, Fluminense (que empatou com o Santos) e Fortaleza (que perdeu para o Cuiabá) teriam vencido seus jogos na primeira rodada do Brasileirão. Veja análise dos jogos abaixo a partir do indicador de expectativa de gol (xG), que nos diz também sobre a qualidade das chances criadas. Para mais detalhes sobre o indicador, leia a metodologia no final do texto.

Fluminense (2,05) 0-0 (0,12) Santos

 

Este é um exemplo clássico de quando o placar não é condizente com a performance das equipes em campo. O Fluminense finalizou 23 vezes ao gol e produziu o suficiente para marcar 2,05 gols. O atacante Germán Cano sete vezes e foi responsável por produzir 1,20 xG desses 2,05. A maior chance da equipe da casa foi aos 36 minutos do primeiro tempo, em que Cano acabou finalizando para fora de dentro da pequena área. O Santos só finalizou três vezes durante a partida e produziu apenas 0,12 xG.

Simulando dez mil vezes cada finalização da partida, o Fluminense sairia com a vitória em 83% das vezes, empataria em 15% e perderia para o time da Vila Belmiro em 2% das vezes. A equipe carioca passou a ter quase o dobro da probabilidade de vitória calculada antes da partida, mas não conseguiu transformar tudo o que produziu em gol.

Atlético-GO (1,14) 1-1 (1,08) Flamengo

 

Placar condizente com a performance das equipes em campo. O Atlético-GO e o Flamengo produziram expectativas de gol próximas aos gols marcados. Foram 12 finalizações do Dragão, nove de dentro da grande área e três de fora da área, e a melhor chance foi a última, em que Leo Pereira acerta a trave de Hugo.

Já o Flamengo finalizou 14 vezes, uma de dentro da pequena área, oito da grande área e outras cinco de fora da área. Bruno Henrique finalizou quatro vezes e foi responsável por produzir 0,52 xG dos 1,08 do Flamengo.

Palmeiras (2,09) 2-3 (2,26) Ceará

 

Palmeiras finalizou 15 vezes ao gol durante a partida, sendo delas um pênalti, convertido por Gustavo Gómez. O pênalti é o tipo de finalização que tem a maior probabilidade de ser convertido em gol. Dos 958 pênaltis cobrados e coletados pelo Espião Estatístico desde a edição de 2013, 731 viraram gol (ou em 76,3% das vezes).

Ceará, mesmo sem pênalti, produziu mais que o Palmeiras (2,26 xG contra 2,09 xG). O Vozão finalizou 18 vezes, uma de dentro da pequena área, dez vezes de dentro da grande área e somente sete vezes de fora da área. Ainda, a equipe se beneficiou de um gol contra de Jorge de dentro da pequena área adversária.

Coritiba (1,63) 3-0 (0,55) Goiás

 

Superior no placar e na performance, o Coritiba finalizou 17 vezes e produziu o suficiente para marcar 1,63 gol, foi eficiente e fez três. Além de tudo, sofreu pouco das investidas do Goiás, que só finalizou seis vezes durante a partida e as melhores chances aconteceram quando o placar já estava 2 a 0.

Botafogo (1,52) 1-3 (1,73) Corinthians

 

Corinthians resolveu o jogo no primeiro tempo. Durante toda a partida, finalizou 13 vezes, oito delas na primeira etapa e três bolas na rede. Além de tudo, o Corinthians só finalizou três vezes de fora da área.

Na segunda etapa, o Corinthians poupou alguns de seus titulares, o Botafogo fez alterações e começou a ameaçar mais a meta adversária. A linha preta do gráfico acima só começa a subir a partir do minuto 50, quando as melhores chances do Fogão ocorreram. Das 10 finalizações do Botafogo, seis foram de fora da área, mostrando dificuldade da equipe de se aproximar da área adversária para finalizar de melhores locais.

Atlético-MG (1,39) 2-0 (0,68) Internacional

 

Superior no placar e na performance, o Atlético-MG confirmou seu favoritismo contra o Inter no Mineirão. A equipe mineira produziu o suficiente para marcar 1,39 gol contra 0,68 xG do Internacional.

O Galo finalizou 15 vezes: oito de fora da área, seis de dentro da grande área (de onde saíram os dois gols de Hulk) e uma de dentro da pequena área. Já o Inter finalizou apenas seis vezes: uma de dentro da pequena área (a melhor chance da equipe na partida com Edenílson), duas da grande área e três de fora.

Fortaleza (1,78) 0-1 (0,31) Cuiabá

 

Performance influenciada pelo gol marcado cedo pelo Cuiabá. Atrás do placar e dentro de casa, o Fortaleza foi em busca do empate e finalizou 21 vezes durante toda a partida: dez finalizações foram bloqueadas pelos jogadores de linha de Cuiabá e outras cinco foram defendidas por Walter, corroborando a boa atuação defensiva da equipe visitante. O Cuiabá finalizou nove vezes durante o jogo, sete de fora da área.

São Paulo (1,40) 4-0 (0,14) Athletico-PR

 

Resultado condizente com a performance. O São Paulo produziu dez vezes mais que o Furacão (1,40 xG contra apenas 0,14 xG do Athletico-PR). Foram 18 finalizações do Tricolor, 11 de fora da área, seis da grande área e uma da pequena área. Calleri foi responsável por produzir 0,80 xG dos 1,40 xG do São Paulo. O Athletico-PR finalizou apenas cinco vezes ao gol, quatro de fora da área.

Avaí (1,03) 1-0 (0,34) América-MG

 

 — Foto: Espião Estatístico

— Foto: Espião Estatístico

Até os 40 minutos do primeiro tempo, poucas chances haviam sido criadas, como mostram as duas linhas acima no gráfico. Após a expulsão de Marlon, o Avaí se impôs e conseguiu marcar. Foram 12 finalizações ao todo da equipe da casa, metade de dentro da área e outra metade de fora.

Já o Coelho, antes da expulsão, finalizou três vezes ao gol. Depois de ficar com um jogador a menos, foram apenas mais duas. O Avaí pouco sofreu das chances produzidas pela equipe visitante.

Juventude (0,90) 2-2 (0,79) Bragantino

 

Além da igualdade no placar, em termos de performance as duas equipes produziram expectativas de gol semelhantes. Foram 11 finalizações do Juventude (seis de dentro da grande área e cinco de fora da área), além do gol contra de Renan contra 13 finalizações do Bragantino (seis de dentro da grande área e sete de fora da área).

Você poderá encontrar gráficos e análises de demais jogos no Twitter do Espião Estatístico.

Metodologia

 

O indicador de “Gols Esperados” ou “Expectativa de Gols” (xG) é uma métrica consolidada na análise de dados que tem como referência mais de 83 mil finalizações cadastradas pelo Espião Estatístico em mais de 3,3 mil jogos de Brasileirões desde a edição de 2013. São consideradas a distância e o ângulo da finalização em relação ao gol, a parte do corpo utilizada para concluir, se a finalização foi feita de primeira ou foi ajeitada , se o chute foi feito com a perna boa ou ruim do jogador, assim como a origem do lance (se a partir de um cruzamento, falta direta, de uma roubada de bola, etc). Também são levados em conta o valor de mercado das equipes em cada temporada a partir de dados do site Transfermarkt, o tempo de jogo e a diferença no placar no momento de cada finalização.

Como exemplo, de cada cem finalizações da meia-lua, apenas sete viram gol. Então, uma finalização da meia-lua tem expectativa de gol (xG) de cerca de 0,07. Cada posição do campo tem uma expectativa diferente de uma finalização virar gol, que cresce se for um contra-ataque por haver menos adversários para evitar a conclusão da jogada. Cada finalização de cada equipe recebe um valor e é somada ao longo da partida para se chegar ao xG total de uma equipe em cada jogo.

Sendo assim, conseguimos identificar quem são jogadores e equipes que acabam performando acima ou abaixo do que se esperava em uma partida ou até mesmo em um campeonato. Vale lembrar de que o futebol é o esporte em que o acerto é mais raro (neste caso o gol) e isso faz com que nem sempre o placar final de um jogo seja condizente com a performance das equipes em campo.

*Economista parceiro da equipe do Espião Estatístico  (GE)