Mais uma cidade da América do Sul implantou o sistema de Veículo Leve sobre Trilhos. Cuenca, localizada na Cordilheira dos Andes, com cerca de 600 mil habitantes (menor que Cuiabá) inaugurou este ano, em meio à crise do COVID-19, a primeira linha do VLT com pouco mais de 20 km com o preço da passagem cobrado de R$ 4,30.
Cuenca é a capital da província de Azuay, situada na serra, os “Highlands” do Equador, com 2.550 metros acima do nível do mar.O seu centro histórico foi declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1999. É um renomado polo de produção dos Chapéus-Panamá.
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A preocupação maior do governo municipal foicom a poluição gerada pelos carros e os ônibus a diesel. A fumaça preta dos ônibus poluentes afeta diretamente os pedestres e causam doenças gravíssimas que levam à morte.
Para o engenheiro civil formado pela USP, Guilherme Chalhoub Dourado, Diretor de Mobilidade Urbana de Cuenca, “o Equador é um exportador de petróleo, o que faz com que os combustíveis sejam muito baratos no país. Com 20 dólares uma pessoa paga o combustível para o mês inteiro. Então, a sensação que as pessoas têm é de que o carro tem um custo muito baixo, o que acaba estimulando o uso exagerado dos carros e uma certa despreocupação com a poluição do ar”.
Diferentemente do que acontece na atual gestão do governo de Mato Grosso, onde não existe transparência em nada, falta diálogo, despreocupação com o meio ambiente e total descaso com a saúde dos pedestres que engolem esses gases tóxicos diariamente, lá em Cuenca houve um amplo debate com a sociedade sobre a mobilidade urbana. Foram formadas várias comissões: tecnológica, financeira, jurídica e técnica, especialmente organizadas para encontrar soluções de consenso. E encontraram. A sociedade foi respeitada.
O Diretor de Mobilidade Urbana,Guilherme Dourado, está desenvolvendo uma campanha na administração municipal de Cuenca para inverteressa pirâmide da mobilidade e colocar o pedestre em primeiro lugar. O brilhante engenheiro brasileiroafirmou: “estamos iniciando algumas iniciativas dentro do conceito de ruas completas, utilizando recursos do urbanismo tático. Fizemos uma experiência-piloto de “Supermanzana (Superquadras)” quando fechamos a parte mais central da cidade e oferecemos uma série de atividades voltadas ao pedestre. Estamos trabalhando em um Plano de Mobilidade Sustentável 2020-2030 que deve ficar pronto até o final deste ano e que inclui todos os itens em direção a uma cidade mais humana.”
É um exemplo bem próximo. Um bom exemplo de como podemos respeitar a população e modernizar a infraestrutura de mobilidade ao mesmo tempo. No caso equatoriano, respeitaram a populaçãoincorporando-a no processo de planejamento e tendo ela como o eixo desse planejamento, sua saúde, seu conforto, sua segurança.
Mato Grosso precisa de um planejamento democrático e moderno, que seja respeitado e cumprido com transparência. Isso se torna mais importante agora que vamos iniciar a saída da pandemia, quando chegar a vacina. Precisamos dinamizar a economia, recuperar o tempo perdido, sem perder mais ninguém. Chegou o momento de pensar no presente, com oportunidades de emprego e renda, especialmente para as pessoas que mais foram penalizadas na pandemia. Pensar no futuro, com sustentabilidade, com saúde e com participação social é agir no agora.
É por isso que a retomada do VLT é um eixo essencial desse processo. Deixaremos de desperdiçar recursos, poderemos impulsionar programas integrados a ele, como a mobilidade urbana, o turismo e a integração com outros tipos de transporte. Tudo urgente.
Sigamos o exemplo de Cuenca, no Equador. VLT Já!
*VICENTE VUOLO é economista, cientista político e coordenador do Movimento Pró VLT Cuiabá-Várzea Grande.
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