A ressaca de uma derrota por goleada nunca é fácil de ser superada. Pior ainda quando ela expõe feridas de um dos maiores ídolos da história do clube. Está sendo assim com Cássio, goleiro do Corinthians.
Logo depois do 5 a 1 para o Flamengo, no domingo, Cássio fez um desabafo em entrevista à Globo, na saída de campo. O camisa 12 chegou a dizer que, se estiver atrapalhando, pode ir embora do Corinthians. Também disse se sentir como um “escudo”.
A analogia tem relação com o papel que o goleiro foi assumindo nos últimos tempos, sobretudo neste ano, quando foi fixado como capitão da equipe. Nos momentos ruins – e eles têm sido frequentes em 2020 – é Cássio o escolhido para representar o elenco perante as câmeras.
Foi assim, por exemplo, quando o ge revelou que parte do elenco alvinegro estava insatisfeito com regras impostas pelo técnico Tiago Nunes, em fevereiro. O goleiro também tomou a frente para falar sobre salários atrasados e derrotas da equipe.
As cobranças e ameaças recebidas há pouco mais de um mês, em aeroporto, mexeram com Cássio. Na ocasião, torcedores cercaram o goleiro, apontaram o dedo e gritaram com ele. A esposa do jogador teve que desativar a conta dela em uma rede social por estar sendo ofendida.
Embora já tenho vivido outros momentos de pressão em quase uma década de Corinthians, Cássio vem se sentindo “carregado” dessa vez, tendo que absorver cobranças e críticas que poderiam ser compartilhadas com outros atletas e até dirigentes.
– Ultimamente tem sobrado tudo pra mim, tudo é culpa do Cássio, o time não ganha é culpa do Cássio, o time não faz gol é culpa do Cássio, e antes que falem algo, não acho que sou maior que o Corinthians, não me acho intocável, sou muito grato a tudo que o Corinthians fez para mim – disparou, na saída de campo após a goleada do Flamengo.
Antes da entrevista deste domingo, o capitão corintiano já tinha feito um desabafo no último mês. Em 17 de setembro, ele disse que não precisaria mais provar nada a ninguém. A declaração foi dada após o protesto agressivo no aeroporto.
De lá para cá, o goleiro não só foi mais uma vez muito cobrado pelos torcedores em protesto na porta do CT Joaquim Grava, como também viu seu reserva imediato, Walter, ter uma de suas melhores atuações com a camisa do Corinthians, em duelo contra o Athletico-PR.
Questionamentos de parte da imprensa e da torcida sobre a titularidade de Walter colocaram ainda mais lenha na fogueira.
Pessoas que convivem com Cássio no Corinthians veem o desabafo de domingo como espontâneo e natural após uma goleada. Também alegam que o goleiro jamais demonstrou desejo de deixar o clube, pelo contrário, já disse em mais de uma ocasião que pensa em permanecer por mais anos no Corinthians.
Recentemente, o lateral-direito Fagner chegou a pedir mais respeito com Cássio por sua história e por tudo que representa no clube.
A opinião de Fagner é uma praticamente um consenso dentro do elenco: não há quem questione a importância do goleiro para o Timão. Além desse papel de “escudo”, Cássio é um dos responsáveis por representar o elenco nas discussões com a diretoria. Foi assim, por exemplo, nas negociações para cortar salários dos atletas durante a quarentena.
Na direção do clube não há intenção de negociar o maior ídolo do elenco, cujo contrato vai até o fim de 2022.
Com Cássio como titular, o Timão volta a campo nesta quarta-feira, diante do Vasco, às 21h30 (de Brasília), em São Januário. (Globo Esporte)