Todos os dias, a enfermeira Gheysa Galvão Silveira deixa seus dois filhos, de 6 e 2 anos de idade com a sogra, que é do grupo de risco da Covid-19, e vai para a Unidade de Saúde da Família (USF) do bairro Jardim Independência para trabalhar. O clínico geral da unidade está afastado das atividades porque também faz parte do grupo de risco da doença, causada pelo novo coronavírus. Com isso, é Gheysa quem tem atendido aos pacientes, fazendo a verificação dos sinais vitais e sintomas das pessoas e fazendo a classificação de risco, entre casos leves e moderados, definindo os que precisam de encaminhamento para uma policlínica ou não, seja por Covid-19 ou outras enfermidades.

“Todo dia é uma luta e um desafio. Mas a gente escolheu essa profissão por amor e, agora, tem que encarar pelo amor e pela dor. Estamos todos os dias enfrentando. Nosso intuito é a prevenção, para não chegar à atenção secundária. A gente tenta fazer a nossa parte, que é a prevenção, tratando diretamente aqui no centro de saúde para não estar indo pacientes procurar diretamente as policlínicas”, afirma Gheysa.

Segundo ela, mais do que fazer os trabalhos de rotina na unidade de saúde, ela e os demais servidores têm aumentado sua dedicação às pessoas da comunidade, atuando na prevenção e na orientação. Gheysa explica que muitos colegas estão afastados por serem do grupo de risco, mas continuam trabalhando de casa, a exemplo dos agentes comunitários de saúde, que disponibilizaram seu contato pessoal para se comunicar com a população. “Antes a gente fazia palestras aqui na unidade, fazia as visitas de casa em casa, agora estamos fazendo atendimento pelo WhatsApp, até mesmo aos finais de semana”, relata a enfermeira.

Quando chega em casa, a servidora pública conta que faz um procedimento minucioso de higiene pessoal e limpeza das roupas e sapatos, o que leva cerca de 1 hora. Ela coloca a roupa para lavar, deixa o calçado de molho na água sanitária, lava o cabelo, toma um banho demorado. Somente depois de todo esse ritual é que ela vai abraçar os filhos, que antes eram acostumados a correr ao encontro da mãe logo que ela chegava em casa. O mais velho, de 6 anos, já entende um pouco a situação. O menorzinho, de 2 anos, ainda fica confuso por ter que esperar tanto para pular no colo da mãe.

O que incomoda Gheysa não são os cuidados redobrados que precisa ter diante desta pandemia de Covid-19. Ela conta que o que mais a entristece é ver parentes, conhecidos e pessoas em geral que ainda não se conscientizaram da gravidade do momento e da necessidade de que cada um faça a sua parte para evitar o contágio pelo coronavírus.

“As pessoas deveriam ter mais consciência da situação que temos vivido. Muitos acham que é apenas um vírus normal, acham que quarentena é férias, vão para a casa dos outros, fazem festa, ainda tiram foto e mandam nos grupos. As pessoas não estão se prevenindo e, por causa disso, acho que ainda vai demorar para essa pandemia passar”, opina.

Para essas pessoas e para todos os cidadãos cuiabanos, a enfermeira Gheysa, que tem 12 anos de experiência, deixa um recado: “Se cuidem. Quem puder, fique em casa porque não é um vírus normal, como a gente sempre viu, como a gripe e o resfriado, como dizem. É para ter todo o cuidado, todo o isolamento. Principalmente os profissionais da ponta serem valorizados porque é neste momento que a gente precisa de união e valorização”.