A volta do futebol foi tema de debate da Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19 na manhã desta quarta-feira, na Câmara dos Deputados. Virtualmente, a audiência pública contou com as participações de deputados, representantes da CBF, de clubes da Série A, da imprensa esportiva e de torcidas organizadas.
A comissão, presidida pelo deputado e médico carioca Luiz Antônio Teixeira (PP-RJ), foi instalada no dia 11 de fevereiro e já realizou 76 reuniões sobre os impactos da Covid-19 nos mais diversos setores da sociedade. O requerimento para tratar o futebol na audiência desta quarta foi proposto pelo deputado e ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT-SP).
Comissão de combate à Covid-19 na Câmara dos Deputados — Foto: Reprodução/TV Câmara
O primeiro convidado a falar na reunião desta quarta foi o secretário-geral da CBF, Walter Feldman. No discurso, Feldman defendeu a retomada do futebol em meio à pandemia e classificou como ‘sucesso’ a experiência até agora.
– Tivemos alguns casos relevantes, como o do Goiás e do CSA, mas todos foram tratados com muita responsabilidade, com a suspensão dos jogos ou com a decisão de que os plantéis disponíveis eram possíveis para a partida. Fizemos ajustes necessários, mas o resultado é positivo e nos dá segurança para prosseguir – argumentou Feldman.
Pedro Geromel, zagueiro do Grêmio, em teste para Covid-19 — Foto: Lucas Uebel/DVG/Grêmio
Diretor-médico da CBF e coordenador do protocolo nacional da entidade, Jorge Pagura traçou um panorama geral e trouxe números da volta do futebol no país. Segundo o médico, de cerca de 4.200 testes PCR-RT (mais indicado para identificar o vírus ativo no corpo) realizados até agora, 116 tiveram diagnóstico positivo.
– Na primeira rodada de testes, antes do Campeonato Brasileiro, foram 74 positivos, cerca de 5,7% do total de testes. Na testagem seguinte, caímos para 1,8% de positivos, cerca de 26 atletas. E agora na última, foram 16 positivos, indicando uma queda de 5,7% para menos de 1% em um intervalo de 15 dias – detalhou Pagura.
Jorge Pagura, diretor médico da CBF — Foto: Lucas Figueiredo/CBF
De acordo com Jorge Pagura, os testes e acompanhamentos foram realizados nos 60 clubes das Séries A, B e C do Brasileirão. Até agora, apenas Goiás, CSA-AL, Imperatriz-MA e Ypiranga-RS, onde houveram surtos de Covid-19, foram responsáveis deles representaram mais de 50% dos resultados positivos até agora.
– Os resultados iniciais são altamente positivos. Mostram diminuição acentuada em três rodadas, de 5% para menos de 1%. Hoje temos uma situação controlada, mas não podemos deixar que descontrole – completou Pagura.
Jornalistas e Organizadas criticam volta
Além da CBF, representantes da ala médica de Flamengo e Corinthians e todos os deputados presentes na comissão falaram a favor da volta do futebol, desde que respeitados os protocolos de saúde.
Falaram contra o retorno de representantes da imprensa e das torcidas organizadas e o discurso mais enfático foi feito pelo jornalista Juca Kfouri.
– Estou participando de uma reunião como se estivéssemos em uma audiência na Finlândia, vendo as coisas serem tratadas como se estivéssemos sendo exemplo e não o epicentro da Covid-19 na América do Sul – criticou Juca.
Jornalista Juca Kfouri — Foto: Pedro França/Agência Senado
– Uma única morte por causa de um jogo de futebol justifica que não haja futebol. Isso é uma posição de cuidado com a vida. Futebol não é atividade essencial – completou.
Além dele, Alex Sandro Gomes, presidente da Associação Nacional das Torcidas Organizadas, também se posicionou contrário à volta do futebol em meio à pandemia.
– Torcedor se aglutina para prestigiar o clube do coração, principalmente nos centros periféricos. Será que alguém pensou nisso? Temos que levar em consideração que futebol sem torcedor não é futebol. Futebol em tempos de pandemia não pode ser alegria, não pode trazer alegria. O reflexo, sobretudo na periferia, é enorme – defendeu Alex Sandro.
Flamengo pede debate por volta de público
O Flamengo foi o clube mais representado na audiência pública. Participaram virtualmente o presidente do clube, Rodolfo Landim, e o médico Marcio Tannure. Os dois usaram a palavra para defender o protocolo de prevenção adotado pelo Rubro-Negro e pedir o início de um debate pela volta do público nos estádios.
Márcio Tannure, à esquerda, e Rodolfo Landim, à direita de Bolsonaro, em encontro em Brasília — Foto: Divulgação
– Fiquei muito orgulhoso de todo o trabalho que foi feito. Demonstramos que podemos fazer uma atividade segura e acho que agora é hora de partir para a próxima discussão, que é sobre a volta da torcida aos estádios, sempre com a profunda discussão com as autoridades de saúde para que isso possa ocorrer – disse Landim.
Na opinião do médico do clube, Marcio Tannure, essa volta do público deveria ser feita de forma regionalizada, de acordo com a situação epidemiológica de cada estado.
– A gente vem acompanhando os números e entende que, se em outros estados está aumentando, aqui no Rio está diminuindo. Com distanciamento, uso de máscara, álcool em gel e tudo isso, dá para aumentar a segurança e usar o esporte para mostrar como pode ser esse ‘novo normal’ – defendeu Tannure. (Globo Esporte)