Sessenta dia após o anúncio oficial, Tiago Nunes foi apresentado pela diretoria do Corinthians na tarde desta segunda-feira, no CT Joaquim Grava, e falou sobre o que quer para a equipe em 2020.

Apontado como um técnico de conceitos modernos e princípios ofensivos, o treinador de 39 anos afirmou que buscará um time com futebol mais bonito nesta temporada.

– Durante minha trajetória, experimentei diversos modelos de jogo. Eu me formei como treinador tendo a oportunidade de vivenciar quase todas as ideias. Mas o que mais me agrada é ter mais a bola, ser propositivo, que privilegia a condição técnica, até mais vistoso de ver – disse o técnico.

– Mas sou ciente de que esse modelo só se desenvolve com o passar dos treinamentos, aí você vai vendo se encaixa com os jogadores, os adversários. A minha ideia é fazer a equipe propositiva, mas não impede no decorrer da temporada encontrar uma outra ideia que vai nos levar à vitória de uma maneira mais fácil – completou Tiago Nunes.

Tiago Nunes explicou durante a entrevista coletiva que o volante Ralf, de 35 anos, não está nos planos do clube. O meia Jadson, em mesma condição, também deve deixar o elenco, assim como Renê Júnior.

O técnico elogiou a busca da diretoria por reforços. Até o momento, o meia-atacante Luan, o lateral-esquerdo Sidcley, o atacante Davó e o volante Cantillo foram contratados.

– Desde o momento em que aceitei dirigir o Corinthians em 2020, a gente manteve contatos diários, principalmente com o Duílio (Monteiro Alves, diretor), para que a gente construísse as ideias em termos de comissão, organização de clube e construção do plantel. Tivemos reuniões, fiz indicações de atletas, mais de um por posição, até para ter plano A, B, C. Essa participação foi conjunta, direção fez o máximo de esforço. Sabemos que o mercado é difícil, existe muito leilão e os atletas acabam se valorizando.

Tiago chega com um contrato inicial de uma temporada, mesma duração da atual gestão do presidente Andrés Sanchez.

– É um primeiro passo num novo ciclo, uma nova temporada, um sonho que se realiza, pelo fato que todo mundo que se apaixona pelo futebol pensa em jogar ou estar próximo dos principais clubes do mundo. Hoje fazer parte de uma posição tão importante, ser treinador do Corinthians, um dos maiores do mundo, é motivo de honra e prazer. Espero corresponder à altura a expectativa que torcedores e dirigentes depositam. Espero que possamos usar esse ciclo para que seja um meio, não um fim, um meio de inspiração para todos que estão envolvidos nessa temporada – afirmou.

Tiago Nunes na apresentação ao Corinthians — Foto: Marcelo Braga

Tiago Nunes na apresentação ao Corinthians — Foto: Marcelo Braga

Veja mais trechos da coletiva:

Sobre o uso da base

– Vejo com bons olhos. Uma das conversas que tivemos com a direção é que tenhamos uma linha de sucessão de expoentes técnicos. Que fique claro os jogadores de maior projeção. Para que a gente não fique sempre no achismo, “eu acho que aquele é bom, aquele não é”. Assim, independentemente da minha presença, o clube tem quem são os maiores expoentes, aqueles com maior capacidade para serem aproveitados. Precisamos alinhar bem, afinar isso, para saber os atletas com maiores condições de estarem à disposição da equipe principal.

Jogo da Pré-Libertadores

– É um jogo duro. Se tratando de jogo eliminatório, o emocional pesa muito. Os sul-americanos equilibram pela gana. Estamos encarando com seriedade e sabemos que esse período inicial é importante. Precisamos acelerar esse processo, encontrar um time.

Calendário apertado

– O tempo é complicado não só para o Corinthians, mas todos do cenário nacional tem essa complicação. Corinthians e Inter vão sofrer mais porque têm muitos jogos. Precisamos estar muito fortes em todas as competições, se você abandona o Paulista pode cair cedo e não brigar pelo título, que é um dos nossos objetivos. Hoje já vamos iniciar trabalho com bola, compartilhar ideias com jogadores, para acelerar o máximo possível.

Elenco atual

– Confio muito no potencial técnico dos jogadores que estão aqui. Existe uma base de trabalho de muito tempo, que não pode ser descartada. Estamos buscando contratações pontuais para agregar qualidade aos jogadores que estão aqui, acostumados com pressão, calendário cheio.

Papo com o grupo

– A primeira conversa com todos foi agora, mas eu já havia ligado para muitos deles. Falamos sobre futebol e sobre a vida. O jogo é uma extensão do que a gente vive no dia a dia. Me preocupo como o atleta está vindo para o CT, a capacidade mental para ele render o máximo possível. Falei para ele para termos humildade, os mais novos ouvirem, e os mais experientes terem capacidade de saber que o ciclo deles não se encerrou, é sempre possível ouvir. A compreensão foi rápida, alguns líderes falaram dos desejos do grupo, os caras se conhecem. Eu vim para ser um facilitador.

Cobrança para jogar para frente

– Toda comparação é ruim, porque alguém sai perdendo. Passamos por várias fazes, existiram várias formas. O melhor modelo é aquele que vence de forma equilibrada. Eu tenho uma vertente de sempre buscar vencer o jogo, mas entendo que tem jogos que nem sempre você consegue ser ofensivo como deseja. Às vezes deixar a bola para o adversário e jogar no contra-ataque, por que não? Como o Corinthians fez com maestria… Eu não vejo pressão nisso, acredito naquilo que os jogadores podem produzir crendo na filosofia de jogo. Vamos passar por desafios no ano, enfrentar adversários duros, vencer e perder. Não tenho uma equipe titular, isso vai acontecendo com o passar dos jogos, e teremos bastante. Tomara que eles se encontrem o mais rápido possível.

Paulistão

– Isso acontece em todos os estados, o estadual normalmente não é valorizado, mas acaba sendo valorizado no final do ano. Há uma diferença do campeonato do Paraná e o de São Paulo. Lá se permite usar os mais jovens, já que o nível técnico é mais baixo. Aqui não, é praticamente um mini-campeonato Brasileiro, com times de Série A e B. Mas ao mesmo tempo é um primeiro semestre de preparação, você tem um termômetro de como seu time vai se portar nas principais competições. É bom competir com os melhores.

Sidcley e Michael

– Eu não trabalhei diretamente com o Sidcley, mas tenho relação boa com ele. À exemplo do Michael, estava numa lista com outros nomes. A direção está fazendo o máximo de esforço para esgotar as primeiras opções. Estou bem contente pelo que vem sendo feito, vamos conseguir completar o elenco com jogadores de qualidade.

Danilo Avelar será zagueiro

– Construí com o Avelar a ideia de ele disputar a posição como zagueiro. Já existia essa conversa. Liguei para ele e perguntei para ele. Ele já faria parte do plantel de qualquer forma. Perguntei em que momento de vida ele estava e como via essa possibilidade de jogar de zagueiro. Por mais que ele tenha característica para jogar de defensor, ele está há muitos anos como lateral. Mas ele topou o desafio. Vamos usar Sidcley e Lucas Piton na lateral, aí fica a disputa sadia com todos os defensores ali. Ele tem um facilitador que é ser canhoto.

Sobre Cantillo

– Cantillo é um organizador de jogo, box to box, joga de área a área, ele não tem muitos gols na carreira, mas um alto índice de assistências. Para um time que quer ser vertical, ele vai muito ao encontro disso. Esperamos que ele entregue o mesmo do Junior, sendo um dos maiores passadores da liga, dando ritmo, num jogo em que haja mais posse de bola, aproximação com os atacantes.

Escalação de Pedrinho

– Pedrinho tem condição de jogar dos dois lados, tem qualidade técnica para isso. Ele tem dificuldade no confronto, no choque, é um jogador que precisa estar bem mentalmente e ocupar os espaços para fugir desse choque. Ainda não defini como ele vai jogar. Ele tem qualidade para jogar nas duas, mas pode fazer composição com dois meias ou vir de fora. Depende de como ele vai se encaixar.

Qualidade de Luan

– É daqueles atletas que costumamos falar que o futebol está carente, criativo, com potencial de assistência, gols, bola parada. Recentemente foi eleito o melhor da América. Ele tem idade compatível para entregar alta performance. Em 2018 ele teve muitas lesões, mas no ano que passou teve menos, conseguiu ter uma rotina de jogos, e entregou ótimos números. Conversei com amigos do Grêmio e eles foram unânimes em dizer que fisicamente ele estaria inteiro. A minha responsabilidade é criar um cenário favorável para ele jogar bem, acredito muito que ele vai entregar essa performance numa grande temporada. Ele é um atleta que teve uma lesão que o incomodou há um tempo, mas vem curado disso há mais de um semestre. Pelo departamento médico que temos, esperamos que ele possa iniciar a temporada sem problemas. (Globo Esporte)