Recentes ataques de piranhas no Lago do Manso, em Chapada dos Guimarães, levaram os moradores/ proprietários de casas de campo na região a fazerem uma campanha por contra própria para comprar peixes predadores da espécie. A alegação de que existe uma superpopulação de piranhas e que Furnas não fez o repovoamento correto dos peixes no Rio Manso, após a construção da hidrelétrica no local há cerca de 20 anos.
A diretoria de Furnas S/A foi convocada pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso, na sessão de terça-feira (16), a prestar esclarecimentos sobre esse aumento de piranhas na região, assim como explicar as ações que vem sendo desenvolvidas para amenizar os impactos ambientais causados pela usina.
Ao G1 Furnas informou que faz o monitoramento desde o ano 2000 e que em todo esse período os estudos não indicaram necessidade de repovoamento. “Ações de repovoamento devem ser avaliadas e autorizadas por órgãos ambientais competentes, pois podem ocasionar impactos como empobrecimento genético das populações, veiculação de doenças (vírus, bactérias, parasitas) e alterações na estrutura da comunidade íctica, além de existir o risco de introdução de espécies exóticas da bacia”, diz trecho da nota. (Leia a nota na íntegra ao final da reportagem)
A campanha “Salve o Manso das piranhas” é mobilizada pelo advogado Ricardo Arruda, que já arrecadou R$ 60 mil para a compra de predadores e tentar fazer o controle de piranhas no Manso. Ele possui uma propriedade na região e conversando com vizinhos que relataram vários ataques da espécie.
Imagens estão circulando no WhatsApp com mensagens de alerta aos banhistas — Foto: Divulgação
Ele protocolou ofícios na Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) e na Assembleia Legislativa pedindo a fiscalização no lago e apuração de indícios de danos ambientais.
Segundo o advogado, a empresa deveria fazer o peixamento – repovoamento de espécies – regularmente para que uma espécie não se sobressaia da outra e evite o desequilíbrio entre as espécies. A possível superpopulação de piranhas no Rio do Manso está gerando ataques contínuos a banhistas e visitantes do local.
Lago do Manso se tornou um dos principais pontos turísticos de MT — Foto: Christiano Antonucci/Secom-MT
Foi anexado aos pedidos um auto de infração aplicado pela Secretaria de Turismo, Cultura e Meio Ambiente de Chapada dos Guimarães, em setembro de 2020. A multa é de R$ 38,4 milhões.
O valor da multa refere-se aos cinco anos que a usina deixou de executar um programa de peixamento anual. De acordo com o detalhado no documento, a empresa deveria ter investido R$ 4.271 milhões por ano, entre 2015 e 2020, e R$ 2.135 milhões na soltura de alevinos anualmente, nesse mesmo período.
O documento diz que a usina descumpriu a regra, não fez o peixamento e nem soltura de alevinos anualmente e omitiram a falta de realização dessas ações.
Se a empresa não recolher a multa, deve ser penalizado com o não recebimento de participação nos lucros ou resultados das empresas Eletrobras e Furnas por seus diretores e conselheiros.
Sobre a multa, Furnas informou que protocolou recurso administrativo e que ainda não pagou o valor, porque contesta a autuação.
A empresa esclarece, ainda, que qualquer ação de repovoamento deve ser avaliada e autorizada por órgãos ambientais competentes, com base em estudos científicos e monitoramento.”
“Depois de 20 anos, estamos sofrendo os impactos ambientes e, se não fizermos algo, em um futuro bem próximo, não vamos poder mais tomar banho, não vai ter turismo. Temos um paraíso aqui maravilhoso”, afirma.
Para tentar minimizar a quantidade de piranhas, o grupo pretende soltar no lago predadores naturais da espécie, como piraputanga, pintado e dourado. A meta é obter R$ 100 mil, com a doação de vizinhos, proprietários de casas perto do Lago de Manso e empresários.
Após a compra dos alevinos, que são os peixes recém saídos do ovo, o grupo está planejando um festival de pesca de piranhas para incentivar a pesca da espécie e tentar frear a reprodução excedente.
De acordo com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), o lago é um ambiente de ecossistema lêntico, nos quais a água apresenta pouco ou nenhum fluxo, é propício ao desenvolvimento de peixes como a piranha e orienta os turistas e moradores que frequentam o local a não jogarem comida para os peixes.
Abaixo a nota de Furnas na íntegra:
FURNAS realiza monitoramentos dos peixes no reservatório do APM Manso, em atendimento à licença de operação do empreendimento, desde o ano de 2000. Em todo o período de monitoramento os estudos não indicaram necessidade de repovoamento.
Em novembro de 2020, a empresa iniciou um novo ciclo de monitoramento dos peixes e da pesca na região, que poderá contribuir para o melhor conhecimento sobre a biologia e ecologia dos peixes e, eventualmente, recomendar medidas apropriadas para a proteção dos mesmos e conservação do ambiente.
Ações de repovoamento devem ser avaliadas e autorizadas por órgãos ambientais competentes, pois podem ocasionar impactos como empobrecimento genético das populações, veiculação de doenças (vírus, bactérias, parasitas) e alterações na estrutura da comunidade íctica, além de existir o risco de introdução de espécies exóticas da bacia.
A partir das análises dos dados do monitoramento, é possível verificar que as piranhas figuram entre as principais espécies da região, sendo a pirambeba (Serrasalmus marginatus) a principal espécie de piranha do reservatório. Esta espécie é nativa da região, possuindo hábito alimentar preferencialmente carnívoro, e costuma viver em pequenos cardumes, assim como caçar em bando. Normalmente, utiliza as regiões mais rasas e junto as margens no ambiente onde vive para se reproduzir, geralmente fazendo ninho e exercendo proteção a prole.
O verão, período em que o reservatório é mais utilizado para fins de turismo, coincide com a época reprodutiva da espécie, que é sedentária e torna-se agressiva por tomar conta da prole nos ninhos próximos às margens. O hábito de jogar restos de comida na água serve de atrativo para esses peixes e aumenta a sua proliferação, tornando-se algo que deve ser evitado pelos frequentadores.
Veja a nota da Sema
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) esclarece que o lago do Manso, por ser um ambiente de ecossistema lêntico, nos quais a água apresenta pouco ou nenhum fluxo, é propício ao desenvolvimento de peixes como a piranha. Estes peixes normalmente são atraídos por sons de frutas e sementes que caem de árvores e batem na água. Eventualmente, poderão haver ataques a pessoas ou animais e, para que isso ocorra a piranha precisa de um chamariz.
Diante deste cenário, a Secretaria orienta a população que evite hábitos como jogar comida, entrar na água com qualquer lesão não cicatrizada no corpo (segundo relatos, a piranha percebe uma gota de sangue em aproximadamente 200 litros de água), pois são ações que poderiam atrair a atenção desses peixes.
Outra recomendação, é realizar o cercamento de quiosques que ficam dentro da água com sombrites ou outro tipo de tela que permita a passagem da água e impeça o trânsito de qualquer tipo de peixe.
Soltura de peixes apenas com autorização
Conforme o decreto 337/2019, que disciplina o procedimento de licenciamento ambiental para cultivo de espécies de peixes, a soltura de alevinos em corpos hídricos no Estado de Mato Grosso, visando o peixamento de rios e lagos só poderá ser feita com autorização emitida pela Sema-MT com três meses de antecedência.
O interessado deve protocolar a Solicitação Prévia de Peixamento junto à Coordenadoria de Fauna e Recursos Pesqueiros da Sema com três meses de antecedência. “Os alevinos devem ser de espécies oriundas da mesma bacia hidrográfica onde será feito o peixamento e produzidos em estabelecimento licenciado para a produção de alevinos”, dispõe o artigo 4º.
O processo de soltura deve ser acompanhado por um responsável técnico acompanhado de ART.