Agora são 22h15min do dia 06 de setembro; neste momento,as poucas cabeças pensantes da nação tupiniquim refletem sobre as consequências das manifestações do 7 de setembro de 2021.A independência do Brasil, como se pode ver na pintura “O Grito do Ipiranga”, 1888, ou seja, 66 anos após o fato histórico, de Pedro Américo, foi um acontecimento sem participação popular; mais tarde, pai (Dom João VI) e filho (Dom Pedro I), com as “bençãos” e dois milhões de libras esterlinas da Inglaterra, fazem um “combinado” e o nosso país fica independente de Portugal, mas dependente da Inglaterra. Quase duzentos anos depois, as elites, que sempre comandaram essa terra, querem, mais uma vez, assim como na Proclamação da República, preservar seu status quo e para isso usam o artifício do nacionalismo ufânico: uma onda verde amarelanazifascista quer repetir o Golpe de 1964.
O presidente “Capetão”, de cérebro diminuto, vocabulário chulo e postura insipiente, em clara queda livre nas pesquisas, aposta no “nós contra eles”; no outro extremo, o PT, incapaz de fazer autocrítica, insiste na candidatura do “sapo barbudo”, como diria Leonel Brizola. A verdade é simples: tanto de um lado quando do outro, vê-se a materialização do “homem-massa” ( do madrilenoJosé Ortega y Gasset que o resume como violento, soberbo e ignorante), presente não só entre “os bestializados” da República mas também entre aqueles que estão no ápice da pirâmide social e intelectual brasileira.
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No momento em que escrevoeste opúsculo, teço ilações sobre o 7 de setembro e as falácias propaladas pelo“malvado favorito” do Planalto e seusminions:garantir a liberdade de expressão (leia-se: garantir a impunidade para a disseminação de fakes News); o bordão “supremo e o povo” (entenda-se: pelo fim do STF); pela liberdade individual (subentenda-se: não à vacinação e ao uso de máscaras); voto impresso já (compreenda-se: se o Bozo perder a eleição, houve fraude). Resumindo todas essas estultices em uma única: a terra é plana.
Polarização semelhante vivemos em 64, materializada em diversos acontecimentos; porém, dois espelham bem essa dicotomia: o Comício da Central do Brasil (13 de março, no Rio de Janeiro), no qual o presidente Goulart, entre outras coisas, encaminhava um projeto de Reforma Agrária e a Marcha da Família com Deus pela Liberdade (19 de março, também no Rio de Janeiro), cuja proposta era de “salvar” o Brasil dos comunistas. A primeira, reuniu, mais ou menos, 150 mil pessoas; já a segunda algo em torno de 400 mil pessoas. As condições materiais para o golpe e para a implantação da Ditadura estavam consolidadas.
Amanhã, se e quando este artigo estiver nos principais sites de Mato Grosso, a mesma conjuntura que propiciou o Golpe de 64 poderá, infelizmente, estar se repetindo. Isso pode ser constado em declarações do Ministro da Defesa, General Braga Neto, e em manifestações das elites agrárias e industriais de alguns estados brasileiros. Em 1964, o Congresso Nacional, amedrontado, cedeu ao autoritarismo; hoje, Senado e Câmara olham para o próprio umbigo e pensam na manutençãodo seu establishment e o STF, acuado e desgastado pelos privilégios e opulência, tentanegociar uma trégua com os bolsonaristas. Ambos erram não apenas pela timidez institucional como tambémcovardia jurídico-política.
Que a censura, que a tortura e que o medo não pairem sobre nossa gente jamais, mesmo por que quem já viveu o regime de exceção não merece vivê-lo novamentee quem nunca o vivenciou, nem imagina as agruras que o espera.Portanto, Ditadura, nunca mais!
*SÉRGIO EDUARDO CINTRA é professor de Linguagens e de Redação em Mato Grosso. Foi vereador em Cuiabá e Diretor Executivo da Funec.
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