O Mixto tratou de responder ao que considera uma ‘acusação infundada e incabível’ ao clube, por parte da Federação Mato-grossense de Futebol. A coordenadoria de marketing e relações institucionais da FMF teria afirmado que “o Mixto usa a pandemia para evitar o rebaixamento”, fato que obrigou o Alvinegro a se manifestar em uma carta aberta esta semana.
O Alvinegro ainda diz repudiar ‘a utilização sensacionalista e ilícita da afirmação de que o clube se aproveita de mortes’ e ainda exige uma retratação por parte da FMF. Sobre essa questão, a FMF se posicionou através de sua Coordenadoria de Marketing (veja mais abaixo).
Confira a carta divulgada pelo Mixto:
“Na tarde do dia 9 de junho, o Mixto Esporte Clube, Alvinegro da Vargas, foi citado em nota publicada pela FMF, afirmando com leviandade que o o clube ‘quer tirar proveito de uma situação delicada’. Tal alegação segundo consta foi em resposta ao artigo de opinião publicado pelo médico anestesista Conselheiro Dr. Marcio Alencar, um dos vários profissionais que estão na linha de frente ao combate da pandemia.
Dados técnicos e pesquisas de estudiosos da UFMT chamam a atenção para ampla transmissão da Covid-19, sua taxa de mortalidade e demonstra preocupação quanto ao risco de vida das pessoas, trazendo o debate para o futebol mato-grossense.
Debate este que a FMF insiste em não participar, não quer dialogar com os clubes. Ainda atacou de forma imoral o clube, bem como o profissional médico. Não é de hoje que a atual gestão da FMF vem atacando o Mixto. Em maio de 2019, o clube relatou irregularidades na convocação da prestação de contas do ano de 2018, após afirmar e ameaçar o Mixto. Além disso, a instituição já acionou seu departamento jurídico para possíveis ações cabíveis na esfera civil e criminal. Em nota publicada, teve que voltar atrás e marcar nova assembleia de prestação de contas.
Para a surpresa geral, quatro dias após o Mixto protocolar a denúncia de irregularidade, a FMF decidiu remarcar a assembleia geral.
Aliás, críticas não são bem recebidas na atual gestão, a qual ao invés de procurar os clubes para diálogo ou trabalhar de forma construtiva, prefere agir unilateralmente e de forma egoísta atacando e tentando prejudicar o contraponto. Enquanto outras federações se reúnem com os clubes por mais de uma vez, inclusive até já cancelaram o estadual, a FMF não ouve seus filiados.
Não adianta dizer que utilizou recursos da CBF para ajudar clube, pois o valor seria usado para benefício próprio da FMF, conforme foi dito no início de abril.
Somente depois de pressão de vários presidentes de clubes, que a FMF resolveu mudar a destinação para ratear aos clubes. O Mixto não está questionando o não rebaixamento. Nós estamos rebaixados. O descenso ocorreu. Porém, vamos nos levantar juntos com a força de milhares de apaixonados pelo Alvinegro da Vargas. Erramos muito, pagamos pelo passado recente de más gestões, mas a vontade e força de mudar sempre vão existir enquanto o canto da torcida soar.
Estamos aprendendo e mudando. Já começamos no dia 2 de junho, quando o Presidente do Conselho Deliberativo convocou reunião para tratar de comissão eleitoral e novas chapas para nova gestão. A reunião acontecerá segunda-feira, dia 15 de junho na forma de teleconferência. Tudo isso enquanto clubes com melhor estrutura estão falando em fechar as portas com a crise atual.
E a FMF, quando fez reunião para tratar do momento delicado que vivemos? Não ouve seus clubes filiados e nada faz para debater o futuro do futebol. E quando é criticada, age de forma imoral atacando levianamente quem propõem o diálogo e o debate por um futebol melhor.
O Mixto Esporte Clube repudia veemente a nota publicada, que se diz profissional, porém, não soube dialogar tecnicamente aos desafios propostos pelo profissional da saúde, nem mesmo soube separar o que é um artigo opinativo, de um requerimento.
O Alvinegro da Vargas também se solidariza com o médico Márcio Alencar e com todos os profissionais da saúde que estão na linha de frente na guerra contra o vírus, tentando trazer soluções e ideias para vencer o vírus.
Por fim, repudia a utilização sensacionalista e ilícita da nota em dizer que o clube se aproveita de mortes, o que deve e cabe retratação da FMF. Servimos da presente para convocar clubes, torcedores, amantes do futebol mato-grossense a debater junto o futuro do nosso Futebol”.
Outro lado
O posicionamento da FMF veio através do coordenador de Marketing e Relações Institucionais da Federação Matogrosssense de Futebol, Humberto Frederico, em uma entrevista à imprensa. Ele lamentou o artigo publicado pelo Médico e conselheiro do Mixto, Dr. Márcio Alencar, em que pede o fim do Estadual 2020. Para Humberto Frederico, o Mixto quer que a Federação tome decisões precipitadas, antecipadamente em relação a qualquer outra entidade esportiva do país, para unicamente beneficiar a equipe que foi rebaixada este ano.
Humberto Frederico afirma que “o futebol não pode chegar neste nível. O Mixto quer tirar proveito de uma situação delicada onde pessoas estão morrendo para se livrar do rebaixamento”. E complementa: “o conselho do Mixto questionou qual o interesse por trás de uma demora de tomar decisão que o futebol necessita. Eu sou quem questiono: qual o interesse na velocidade de decisão que o Mixto afirma ter?”.
No seu entender, um anúncio neste momento de anulação da campeonato, não vai mudar em nada os planos das equipes que ainda estão na competição, e irá beneficiar somente as equipes rebaixadas.
“Sobre a acusação de não agirmos sobre o presente e não prepararmos para o futuro do futebol, quero lembrar que a Federação é a única do país que ajudou todas as equipes da competição financeiramente a rescindirem os contratos com os atletas, e caso a competição volte, já temos condições de bancar a logística de todas as equipes além de termos dinheiro de patrocinadores e televisão para que as equipes possam contratar jogadores em uma possível retomada”, disse.
Humberto lamenta que o Mixto demonstra falta de conhecimento ao afirmar que a FMF tem que estar preocupada em achar soluções para o futebol ao invés de ficar estática. “Praticamente toda semana temos reuniões com as autoridades competentes, como o secretário de Esportes Allan Kardec para falar do futuro do nosso esporte. Depois de quase dez anos sem poder fazer convênios devido a irregularidade nas prestações de contas em anos anteriores, estamos prestes a assinar um TAG com o Governo do Estado e com o TCE-MT, para poder voltar a receber verba pública, falta conhecimento nas palavras do conselheiro mixtense”, concluiu.
Confira o artigo publicado pelo médico Márcio Alencar
“Em um cenário de pandemia e em pleno crescimento no número de infectados pelo Coronavírus, que a Federação Mato-grossense de Futebol (FMF) parece querer jogar com a sorte. Inerte e sem sequer mobilizar-se na busca de uma solução plausível, espera o improvável. Qual o interesse por trás de uma demora em enxergar a realidade atual dos fatos e tomar a decisão que o futebol estadual necessita?
O Coronavírus possui uma família ampla de vírus com esse nome. Atualmente são sete cepas que infectam humanos. A Covid-19 é a mais letal delas.
Basicamente a transmissão ocorre pelo contato da mão contaminada com as mucosas nasal, oral e oftálmica, podendo ainda acontecer através de gotículas lançadas pela tosse, espirros ou mesmo pela fala. É uma doença de alta transmissibilidade, pouco conhecida e sem tratamento eficaz ainda.
Estima-se que a taxa de mortalidade dessa doença gire em torno de 3% a 5%. Em Mato Grosso já são mais de 4 mil casos confirmados da doença e mais de 120 mortes. Com dados assim não deveríamos estar tranquilos. Em estudo divulgado por pesquisadores da UFMT, apontou que as maiores taxas de incidência estão na baixada cuiabana e que o pico da Covid-19 será em setembro. É preciso acreditar na ciência e ter responsabilidade para não pôr em risco a vida.
Está claro que o Campeonato Mato-grossense deve ser anulado. Isso é bom? Claro que não é. Com essa decisão Mixto e Araguaia serão beneficiados com o não rebaixamento. Porém, isso ocorrerá por pura e irrestrita condição causada pela pandemia.
A FMF deveria estar preocupada em buscar soluções para o futebol. Olhando para frente e não ficar estática aguardando posicionamento da CBF ou de autoridades sanitárias.
Em que pese possa haver favorecimento de um não rebaixamento para Mixto e Araguaia por conta da pandemia, entendo que a situação requer a anulação da competição, uma vez que não temos garantia sobre a segurança em saúde de toda a cadeia produtiva envolvida no futebol em um eventual retorno. Principalmente a saúde dos atletas. Tirando o Cuiabá e talvez o União, as demais equipes provavelmente não têm condições financeiras para arcar com novos contratos e muito menos com as despesas caso haja atletas e funcionários infectados.
Sendo assim quem será responsabilizado caso aconteçam infecções em atletas e funcionários? A Federação? Os clubes que aceitarem retornar? A CBF? Ou todos envolvidos?
Precisamos, por hora, preservar a saúde de todos e discutir novos modelos para a sustentabilidade do futebol no estado, buscando aumentar o interesse do público e de investidores.
Márcio Alencar de Sousa, Médico Anestesiologista e conselheiro do Mixto EC”