Desde a fundação da República habituou-se no Brasil a terceirizar decisões do interesse da sociedade. Um marechal com diarreia foi tirado da cama pra carregar uma espada e saiu na rua do Rio de Janeiro pra derrotar o Império. Foi uma caricatura de terceirização.

 

Em 1930, Minas, Rio Grande do Sul e Paraíba comandaram uma revolução. O que se queria era acabar com a República Velha, também conhecida como monopólio de Minas e de São Paulo, na condução do Brasil. Foi outra terceirização.

Leia Também:

– Dante de Oliveira

– Brasil doente

– Eleitor pessimista quer ética

– A cara do futuro – conceito – 1

-Ditadura digital, etec…

-Vírus educativo

-O vírus do mundo moderno

-44 anos depois

-Bastidores do Senado

-Ruído nos impostos

-2020

-Quem elege quem?

-1 milhão de anos

-Perfil do prefeito de 2020

-Aeroporto Geodésico

-Mundo novo, novo mundo

-Tempo e não-tempo

-Mão de obra já era!

-O futuro da Amazônia

-O CPA de Cuiabá e Brasília

-VLT: não há o que discutir

-O saldo das queimadas

-Centro-Oeste e Amazônia

-Dante, Mauro, desafios
-Procura-se líderes
-Amadurecimento…
-Questões da ferrovia

-Índios e meio ambiente

-Silêncio mortal

Em 1964, outra terceirização. Apoiado por massas de milhares de pessoas nas ruas das principais capitais o país, o Exército derrubou o presidente João Goulart.

 

Em 1984 a emenda das Diretas Já levou milhões de pessoas às praças públicas pedindo eleições diretas em 1985 e o fim do regime militar. E ficou nisso, na medida em que a emenda não passou. O fim do regime militar foi terceirizado ao PMDB, OAB, CNBB e Associação Brasileira de Imprensa. Nada de povo!

 

Em 1994 o país delegou ao presidente Fernando Henrique Cardoso a terceirização de recuperar um país completamente falido. Em 2002 terceirizou ao Partido dos Trabalhadores, mesmo sob forte desconfiança, a responsabilidade de conduzir o país. No governo, fez o que quis e a sociedade manteve a terceirização mesmo sabendo que caminhava pro suicídio que viria nos anos seguintes e ainda dura até hoje.

 

Neste momento o país navega em águas muito turvas. Uma separação entre esquerda e direita, sem que nenhuma das duas realmente é o que diz ser.

 

Ambas são vertentes da velha política que desejam o poder pelo poder. No Brasil, o discurso público vendido à sociedade fala em coletividade, desenvolvimento, etc. Mas na verdade quer-se é a tomada do poder pelo poder. Desde o Império o poder sempre foi tomado e usado pelas elites de todas as naturezas do país pra elas progredirem.

 

Só que neste momento, a decadência moral da política é absoluta!

 

Não existe mais a possibilidade de sair uma candidatura presidencial pra as eleições de 2022, vinda dos meios políticos, hoje completamente sucateados. O governo Bolsonaro sonha com a sua reeleição e outros grupos também. Não perguntaram se a sociedade os deseja.

 

A única saída seria se a chamada sociedade organizada, liderada por instituições privadas, fizesse um movimento dizendo o que deseja. Começaram nas três últimas semanas alguns ensaios de economistas de prestígio, de partidos de esquerda e de governadores iniciando conversas.  É pouco. Muito pouco!

 

É tal o grau de destruição do Estado brasileiro e da economia, que jamais poderia sair de qualquer partido político uma palavra sequer sobre o futuro do Brasil. Qualquer movimento eleitoral pra 2022 teria que vir de uma ampla coalização da sociedade na direção do que efetivamente ela precisa. Jamais de dentro do Estado ou vinda da política, dos políticos e dos partidos políticos. Esses estão mortos na mesa de necropsia.

 

A conclusão é que o país não pode mais terceirizar-se para os tradicionais dirigentes políticos que vieram desde o Império até agora. Uma nova terceirização em 2022, no mundo veloz de hoje será o fim do Brasil como país moderno.

*ONOFRE RIBEIRO DA SILVA  é jornalista,  escritor e analista político em Mato Grosso.

E-MAIL:         onofreribeiro@onofreribeiro.com.br   

SITE:              www.onofreribeiro.com.br