Um conjunto de pegadas fossilizadas encontradas no interior do Colorado, nos Estados Unidos, pode ter revelado um detalhe raro sobre o comportamento de um dinossauro pescoçudo que viveu há cerca de 150 milhões de anos: ele talvez estivesse mancando no momento em que deixou essas marcas no solo. Pelo menos, é isso que indica um novo estudo, publicado na revista científicaGeomatics em 20 de novembro.
O sítio fica próximo à cidade de Ouray, na região de West Gold Hill, e preserva um rastro deixado por um saurópode, grupo que inclui gigantes como Diplodocus e Camarasaurus.
A trilha, com 95,5 metros de extensão e mais de 130 pegadas, se destaca por formar um círculo, algo incomum no registro dos fósseis. Segundo os pesquisadores, trata-se de uma das trilhas de saurópodes mais contínuas e com curvas mais acentuadas já documentadas até hoje.
“Embora talvez nunca saibamos por que esse dinossauro fez uma curva fechada do tipo, o rastro preservado oferece uma oportunidade extremamente rara de estudar como um saurópode gigante lidava com uma curva acentuada antes de retomar sua direção original de deslocamento”, explica Anthony Romilio, pesquisador do Laboratório de Dinossauros da Universidade de Queensland (Austrália) que participou do estudo, em comunicado.
Drone para decifrar o passado
O tamanho da trilha tornava inviável documentá-la apenas a partir do solo, explica o coautor Paul Murphey, do Museu de História Natural de San Diego, nos EUA. Por isso, os pesquisadores optaram por usar a fotografia aérea feita por drone.
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As imagens aéreas em alta resolução permitiram gerar um modelo 3D milimétrico, que permitiu observar detalhes impossíveis de se captar a olho nu. A partir dessa reconstrução virtual, foi possível identificar mudanças sutis no padrão de caminhada do dinossauro ao longo de toda a volta.
Padrões intrigantes na caminhada
O modelo digital mostra que o animal iniciou seu trajeto caminhando na direção nordeste, percorreu uma curva completa e terminou novamente voltado nessa mesma direção. Dentro desse percurso circular, duas características chamaram a atenção da equipe.
Na variação na largura entre as pegadas esquerda e direita o rastro passa de um padrão mais estreito para um bem mais amplo. Isso indica que dinossauros podem alterar naturalmente a postura ao se moverem, o que pode levar a interpretações enganosas quando se analisam apenas trechos curtos de trilhas fósseis.
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O outro detalhe a ser observado foi a diferença persistente no comprimento dos passos, que revelou uma discrepância de cerca de 10 centímetros entre os passos da perna esquerda e da direita. Para os pesquisadores, isso pode ser resultado de uma leve claudicação, ou talvez uma simples preferência do animal por exercer mais força de um lado que do outro.
O método usado no Colorado demonstra que análises de trilhas longas, especialmente com o auxílio de reconstruções digitais, podem revelar detalhes inéditos sobre locomoção de dinossauros gigantes. Os pesquisadores afirmam que essa técnica pode ser aplicada em outros sítios arqueológicos ao redor do mundo, abrindo caminho para interpretar padrões de movimento antes inacessíveis.
(Por Carina Gonçalves)

