Fernando Diniz foi apresentado nesta segunda-feira como novo técnico do Santos. Na entrevista, ele exaltou o fato de poder dirigir o “time do Pelé” e disse que não pretende pedir muitos reforços. Enfim livre da punição da Fifa, o Peixe poderá voltar a registrar jogadores.

– Não sou de exigir inúmeros jogadores, mas temos que trazer pontuais, com capacidade de vir e ajudar de maneira direta. O elenco me agrada bastante pelos jovens talentosos e também pelos experientes – falou o treinador, que não quis falar das posições carentes:

– Não vou falar de posição. O elenco está sempre aberto a bons jogadores. Sou criterioso mesmo. O Santos, desse tamanho e com essa base, não pode trazer jogador só por vir, sem condição imediata de produzir, e atrapalhar o desenvolvimento dos mais jovens. Temos que trazer quem possa ajudar a dar sustentação da equipe e tirar um pouco dessa carga às vezes exagerada aos garotos.

Sobre o retorno ao Santos, agora como técnico (passou como jogador em 2005), Diniz falou:

– É um prazer poder ser treinador do Santos, clube que já tive a honra de passar como jogador. É o time do Pelé, o que já faz o time estar entre os maiores do mundo. Eu me entregarei com toda força que eu tenho para poder ajudar o Santos. Quero agradecer ao presidente. A gente teve uma sintonia muito grande. A minha conversa com ele foi a base, o fio condutor para que a gente tivesse um acerto.

A estreia do treinador no comando do Peixe será nesta terça-feira, às 19h15, contra o Boca Juniors, na Vila Belmiro, pela quarta rodada do Grupo C da Copa Libertadores da América. O Santos é o terceiro colocado, com três pontos, atrás do time argentino (6) e o equatoriano Barcelona de Guayaquil (9).

No último domingo, Diniz observou a vitória por 2 a 0 sobre o São Bento, em jogo que evitou a queda do Santos no Campeonato Paulista. Agora, a missão é recuperar o time na Libertadores. E Diniz crê que tem as peças necessárias para iniciar bem o trabalho.

– Muitos jovens, com alguns mais experientes que dão sustentação. Muitos jogadores bons. Vamos trabalhar internamente para conscientizar o jogador do que é o mundo do futebol. Muito agressivo, com muita exposição. Filtrando o de fora para nos fortalecer e vencer tudo isso. Minha chegada é importante para ver o que são capazes na minha opinião. Ontem (domingo) foi um dia especial para os jovens, testados em um dos jogos mais importantes da história. Responderam bem – disse o técnico.

Veja outros tópicos da entrevista:

Mais sobre reforços

– Poucos e bons reforços. Santos não precisa de muitos, precisa de qualidade. A partida de ontem, e vou ressaltar de novo, teve muita maturidade. Ganho emocional… Os mais jovens viveram isso pela primeira vez e responderam bem. Brasileiro é logo, tem Libertadores e Copa do Brasil, e precisamos de consistência. Não existe fórmula, mas precisamos de uma unidade e trabalho coletivo. Precisamos de muito trabalho, tático e emocional, e isso vai levar um certo tempo. Mas time tem demonstrado boas partidas mesmo sem resultado. Bons jogos contra Palmeiras, Red Bull, Boca, The Strongest… Vamos procurar otimizar o que vem sendo feito em busca de temporada positiva.

– Espero um grande trabalho, um passo adiante do que tenho feito na minha carreira. Minha vontade é se dar bem, se respeitar. Não é uma esperança, é expectativa. Tenho confiança de parceria forte com diretoria e elenco. Comissão, jogadores e diretoria são os trabalhadores. Imprensa avalia como acha pertinente, com respeito sempre, e temos que entregar vitórias ao torcedor. Torcedor quase sempre tem razão. Temos que entregar aquilo que torcedor espera: vitórias e bom futebol.

Fernando Diniz, novo técnico do Santos — Foto: Ivan Storti/Santos FC

Fernando Diniz, novo técnico do Santos — Foto: Ivan Storti/Santos FC

Estilo de jogo

– A gente bate no estilo de jogo, mas futebol não se resume à tática. Boas relações, coragem, confiança e principalmente solidariedade aos jovens de maneira coletiva. Base do sistema é o jeito coletivo de jogar e marcar. Vamos colocar isso desde o começo, de ser uma unidade. Sendo time coletivamente forte, individualidades vão poder mostrar talento. Tento melhorar sempre e acredito muito no trabalho iniciado hoje.

Análise do elenco

– Tenho estudado o elenco, sim. Conheço alguns jogadores. Olhei com mais profundidade desde que começamos a negociar. Gosto muito do que vi. Elenco forte, sim. Sobre o Kaiky, é um jogador precoce, com futuro brilhante pela frente.

Filosofia de jogo e tática

– Essa filosofia me acompanha desde 2009. Nunca é proibido mudar. É só olhar todos os trabalhos. Implantamos de maneira paulatina. Não será com pouco treino que os jogadores farão tudo que só o tempo pode ajudar a fazer. Mas aos poucos implantamos a ideia. Acredito muito nesse modelo, de imposição. Futebol mais coletivo, corajoso e com inteligência tática, sabendo ler o adversário. O dia que não der para sair jogando mesmo depois de muito treino, usaremos a bola longa.

Fernando Diniz, novo técnico do Santos — Foto: Ivan Storti/Santos FC

Fernando Diniz, novo técnico do Santos — Foto: Ivan Storti/Santos FC

Estilo de jogo x resultado

– Essa é uma discussão que não tem muito sentido para mim. Quem joga bem tem mais vontade de ganhar. O Audax teve mais chances naquela ocasião, mas não ganhou. Não é diminuindo a chance de ganhar que vamos ter mais chance de resultado. Não é lógico para mim. Tudo tem que ter resultado. Quando não vem, fica mais difícil. Mas é a maneira que eu gosto, minha maneira de viver. Futebol é se expressar também, não está desconectado da minha vida. Procuro exprimir no trabalho o que enxergo para a vida. Inteligência, coragem, futebol coletivo. Força coletiva para brilho pessoal. É uma maneira muito particular de ver futebol, coloco tudo que sei como ser humano para minhas equipes melhorarem quem joga e assiste.

Defensores x críticos de Diniz. Pressiona?

– Não sou movido ao que acontece fora de mim. Vivi uma vida de jogador para aprender a ser técnico. Quando eu jogava, o de fora e até internamente me produziam angústia e sofrimento. Como técnico, mudou bastante. Sou muito seguro do que faço, olho internamente e tenho convicção. Temos muitos elementos para seguir o caminho. Não podemos ficar vulneráveis a opiniões, por mais profundas que possam ser, acabam sendo superficiais. Se eu trabalho no Santos, me alimento de tudo o dia inteiro, conheço os jogadores, assisto adversários, assisto e reassisto nossos jogos. Não posso pegar opinião de quem vê o jogo uma vez só, perdendo o melhor da festa.

– Ninguém consegue destrinchar o jogo assistindo uma vez só. Geralmente de forma superficial e quase todas elas medidas pelo resultado. E o resultado pode enganar. Engana mais quando se ganha não jogando bem. Ganhar jogando mal pode gerar uma conta difícil de recuperar. Temos que treinar bem, jogar bem e que resultados sejam consequência dessa entrega profunda para que o Santos possa evoluir e fazer grande temporada. Temos que controlar os meios. A partida pode ser a mesma, mas comentários são diferentes pelo resultado.

– Já sugeri isso: se as pessoas assistirem o jogo e tirarem os gols, e as pessoas não souberem quem venceu, comentários serão diferentes. Poderia até ser um estudo acadêmico. A análise pode mudar e ser mais técnica, mais fria. Se oscilarmos ao sabor do que acontece no fim do jogo, vamos para um caminho que, para mim, não é melhor. Quando conseguimos impor ideia, com protagonismo, agressividade e imposição, tendemos a ganhar. Mas temos que aumentar chance de jogar. Existe um pensamento infantilizado às vezes de garantias de quem vai ganhar. Por isso que é emocionante e excitante. O que vamos fazer é aumentar ao máximo a chance de ganhar os jogos.

Calendário do futebol brasileiro

– Sou crítico do calendário, que pelo covid ficou pior. Realidade está aí e temos que lidar. Temos que impor as ideias ao máximo para facilitar entendimento, que os jogadores tenham prazer de jogar, competir e aumentar a chance de ganhar os jogos.  (Globo Esporte)