Instituições internacionais que monitoram a economia mundial, como Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial, grandes bancos de investimentos emitiram recentemente relatórios indicando que a principal consequência da fratricida medida do governo americano de aumentar estratosfericamente as tarifas de comércio exterior será a desaceleração da economia mundial em 2025 e 2026.

Os organismos econômicos internacionais, grandes bancos, universidades e analistas financeiros não chegam a afirmar que o mundo viverá uma recessão, mas uma forte redução do ritmo esperado para a economia global, resultado da desaceleração do comércio mundial e da quebra das cadeias globais de suprimentos.
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“A retração da atividade econômica mundial virá da desaceleração do comércio internacional”, avalia Vivaldo Lopes.  (Foto: Marcello Casal Júnior / Agência Brasil)

Outro efeito colateral do tsunâmico aumento das tarifas imposto pela gestão americana sobre todos os países será o aumento da inflação no próprio Estados Unidos e nas economias mais relevantes.

A construção do sistema de comércio internacional vigente foi liderada pelos Estados Unidos e deu-se ao longo de muitos anos. Seu início foi logo após a segunda guerra mundial. Levou décadas para chegar ao nível de integração. Essa integração das economias permite que um produto de alta complexidade, concebido em um país, seja fabricado em uma unidade industrial de outro país, com peças produzidos em diversos outros e comercializado pelo mundo afora.

Assim, sem que isso esteja escrito em nenhum tratado internacional, os EUA tornaram-se uma espécie de banco central do mundo com moeda estável, aceita mundialmente como dinheiro de trocas comerciais e reserva de valor.

A China, por sua vez, estabeleceu-se como a grande “fábrica do mundo”. Processa os bens resultantes das inovações tecnológicas, contando com mão de obra abundante e barata, sem preocupações com garantias trabalhistas, programas de proteção social ou um sistema nacional de seguridade previdenciária decente. Desde 2001, quando a China foi aceita na Organização Mundial do Comércio (OMC) e um intricado sistema de subsídios estatais, e parcerias com as maiores corporações industriais dos Estados Unidos e Europa, o modelo exportador chinês permitiu a expansão acelerada da sua indústria com sucessivos saltos tecnológicos que propiciaram chegar à produção de carros elétricos, painéis solares, baterias, microprocessadores, smartfones e avançados softwares de inteligência artificial.

Os produtos industrializados na China inundaram o mundo, derrubaram concorrentes que pareciam imbatíveis, devastaram antigas regiões industriais e até mesmo ajudaram a deslocar poderes políticos em diversos lugares do mundo.

Apesar de representar 19% do PIB global, a China é responsável por 34% da produção industrial mundial.

O avanço chinês no comércio internacional e na produção industrial causa incômodos geopolíticos tanto aos EUA como aos países da União Europeia. Já em sua primeira passagem pela presidência, Donald Trump impôs tarifas seletivas à China, na tentativa de realocar indústrias em território americano, ao mesmo tempo que ofertava generosos subsídios a setores estratégicos como veículos elétricos, microprocessadores, semicondutores, medicamentos, aeroespacial.

Em seu segundo mandato à frente da Casa Branca, Trump decidiu declarar guerra comercial ao mundo, ignorando todas as possiblidades de cerco estratégico à China, em possível aliança com a União Europeia. Partiu para uma aventura mercantilista sem lógica e sem rumo, edificando uma muralha protecionista em torno dos EUA numa busca obsessiva de superávits comerciais.

A retração da atividade econômica mundial virá da desaceleração do comércio internacional, segundo relatório divulgado na semana passada pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), agência da ONU para o comércio exterior. Os confrontos tarifários e geoeconômicos provocarão interrupção das cadeias produtivas globais e do fluxo de comércio mundial.

A maioria expressiva dos analistas, agentes financeiros e grandes bancos de investimentos trabalham com o cenário de forte redução da economia mundial, elevando os riscos de uma recessão. Apontamentos indicam que há risco inclusive dos EUA enfrentarem período de estagflação, situação de crescimento baixo com inflação alta. O mercado financeiro mundial vê-se diante de uma cena quase inimaginável: a estabilidade, previsibilidade e segurança da moeda americana estão sendo questionadas e investidores estão exigindo prêmios maiores (juros) para aquisição dos títulos de longo prazo do Tesouro Americano.

O crescimento da China ficará abaixo dos 5% estimados inicialmente. A União Europeia também crescerá menos, afetada pelo insano pacote de aumento tarifário decretado unilateralmente pela administração americana.

Os efeitos da retração forçada das três maiores economias do planeta serão irradiados para todos os demais países, especialmente as economias emergentes, como Brasil, Índia, Rússia, África do Sul, Argentina, cujos efeitos serão mais ou intensos conforme suas características específicas.

Mesmo que Donald Trump faça um recuo forçado em sua insana política aduaneira/comercial, o ecosistema do comércio mundial não será o mesmo devido ao alto nível de  desconfiança autoinduzida pelo governo americano.

*VIVALDO LOPES DIAS   é professor e economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em  MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP. Autor do livro “Mato Grosso, Território de Oportunidades”.  

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Vivaldo Lopes é economista e professor.   (Fotos: Luiz Antônio Alves / Secom-Cuiabá)