Rogério Ceni foi contundente. O técnico, que assumiu o Cruzeiro há menos de um mês, usou palavras fortes após a goleada sofrida para o Grêmio, por 4 a 1, neste domingo, pelo Campeonato Brasileiro, quatro dias após a eliminação na Copa do Brasil para o Internacional.
Envergonhado com a postura da equipe, ele fez cobranças. Falou ainda em mudanças drásticas. Deixou a entender ainda que seu futuro no clube passa por essas modificações.
“A única coisa que eu digo é que, se for para continuar no Cruzeiro, tem que ser de maneira diferente. Se a gente precisar mudar drasticamente a situação, mesmo que a gente apanhe nos próximos jogos, mas a atitude temos que mudar, caso contrário, não faz sentido nem eu ficar aqui, muito menos comparecer após jogo para dar entrevista”, afirma o treinador.
Apesar do pouco tempo no Cruzeiro, Rogério Ceni não tirou sua parcela de responsabilidade.
– Também faço parte de tudo isso, apesar de ter chegado recentemente. Mas já são três semanas de trabalho. Até me sinto envergonhado de vir aqui, para ser sincero. Eu preferia não dar entrevista. Vim por educação, cumprir o meu papel. Eu já perdi na minha vida muitos jogos, mas existem maneiras e maneiras de ser derrotado. A situação já é muito delicada. Eu lamento ter de vir falar, pela situação, com derrota no meio de semana e hoje também.
Entre as mudanças pretendidas estão a maneira de o time jogar e até a saída de alguns jogadores da equipe titular. O treinador disse que não se trata de afastar, mas de dar um tempo para o atleta se recuperar.
– Não é tirar, afastar. Temos que fazer comportamentalmente, talvez fazer para alguns atletas uma intertemporada, parar por uma semana, sem jogo. Modificar a maneira de jogar, por mais que eu goste de um futebol ofensivo e tente privilegiar jogadores de alta qualidade técnica.
Cruzeiro foi goleado pelo Grêmio por 4 a 1 — Foto: Lucas Uebel/Grêmio/Divulgação
Ceni foi duro nas cobranças, mas também preocupado com a repercussão que certas palavras podem causar. Evitou citar culpados. Mas deixou claro que o objetivo do Cruzeiro é escapar do risco de rebaixamento no Campeonato Brasileiro.
“Qualquer resposta que eu dê pode gerar mais problemas para o clube. Temos que nos preocupar com o Cruzeiro neste momento. Já temos problemas suficientes. O importante é parar de sonhar com coisa de Libertadores, ser campeão. Temos que enfrentar a realidade”
– Temos que nos preocupar em tirar o Cruzeiro de uma situação de rebaixamento para começar um ano de 2020 de maneira melhor. Não adianta criticar um ou outro jogador publicamente, não adianta dar declarações que você pode se arrepender, assim como, quando a gente está alegre, não deve prometer muita coisa.
Leia mais trechos da entrevista
Estilo de jogo
– O meu respaldo é meu trabalho, e eu acho que nós tentamos tudo que é possível dentro dessa formação, tentando privilegiar o jogo. Hoje em dia, as pessoas normalmente privilegiam a marcação em detrimento da construção do jogo, talvez tenhamos que mudar. Talvez a maior mudança mais drástica é na maneira de jogar porque só uma mudança de atitude e de mentalidade de jogo é que pode fazer o cruzeiro sair desse momento dessa situação. Então, se preciso for fazer uma intertemporada dentro do campeonato com 20 rodadas para jogar para recuperar alguns jogadores na parte física para colocar um time mais forte em campo fisicamente, nós temos que fazer. Se eu for o treinador, nós temos que fazer.
Respaldo
– Respaldo é uma coisa muito importante, mas, às vezes, as pessoas preferem é que continuem dessa maneira. Eu não consigo dessa maneira, eu perdi muito, mas não nasci para perder. Eu nasci para tomar pancada, duas pancadas seguidas como essa. É a reputação da gente que entre em jogo, independentemente do tempo de trabalho que esteja aqui também entra a reputação do treinador em jogo. Então, nós podemos até sofrer um pouco nesse começo. Mas eu tenho certeza que a melhora em condições de alguns atletas, ficando, mesma que seja uma rodada fora para trabalhar, a gente pode tentar fazer um time mais competitivo, recuperando esses jogadores para o restante da competição.
Diretoria e trabalho
– Eu tenho trabalhado de maneira tranquila no CT, essa questão não envolve, para mim, a parte política, eu acho que a única coisa é que nós tentamos durante cinco partidas fazer como vinha sendo feito, tentando mudar poucas coisas, mas não conseguimos os resultados. Até conseguimos sete pontos dos nove quando chegamos, mas agora temos duas derrotas que são pesadas. Acho que é a segunda vez em cento e tantos jogos como treinador que eu chego a tomar quatro gols. Para mim, não é normal, acaba com meu dia, eu gosto de trabalhar. Mas o futebol é meu lazer, o restante do dia depende do resultado, portanto o dia perde a graça. (Globo Esporte)