Começa a tomar corpo entre os grandes bancos, gestores de fundos de investimentos, economistas e grandes empresários,a certeza de que o presidente Bolsonaro está muito propenso a repetir os mesmos trágicos passos de Dilma Rousself,apertando o pé no acelerador da gastança para aumentar sua popularidade. Empolgado com a divulgação recente de pesquisa Datafolha que mostra redução de sua rejeição e aumento daaceitação, graças ao programa de ajuda emergencial, o presidente pode acelerar uma decisãoque ainda estava em estágio embrionário.

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Entendem os atores do mercado financeiro que o presidente, contrariando seu ministro da economia, podeignorar regras de equilíbrio fiscal e o plano de austeridade, correndo o risco de conduzir a economia do país para cenário idêntico ao período de 2014 a 2016, quando o PIB do país caiu 7,2%, a inflação foi a 10,67% e a taxa básica de juros teve de ser elevada a 14,25%.

Os sinais de alerta surgem na indisposição do mercado financeiro para renovar parte da dívida pública federal, alta do dólar que chegou a R$ 5,50, queda do índice Ibovespa, o principal do mercado, e a equipe econômica exigindo que o Banco Central transfira R$ 400 bilhões dos seus lucros cambiais para financiar despesas de capital do Tesouro Nacional. Outro fator de preocupação é o visível enfraquecimento do Ministro Paulo Guedes.

A despeito de esbravejar publicamente contra ministros que defendem o aumento de gastos em obras públicas como forma de alavancar a retomada da atividade econômica e, principalmente, a popularidade do presidente, teve que fazer concessões internas e liberar alguns gastos que sempre tiveram sua feroz resistência.

A atitude do ministro Guedes de trazer a público a guerra fria travada dentro do governo entre expansionistas e fiscalistas irritou todas as cabeças coroadas do Palácio do Planalto e não surtiu os efeitos esperados por Guedes.

Para piorar a situação do ministro, houve a “debandada” de vários e importantes membros de sua equipe. Pediram demissão ao constatarem que oplano liberalizante que envolvia austeridade fiscal,programa de reformas e um ambicioso plano de privatizações nunca contaram com o apoio político necessário para sair do papel e tornarem-se realidade.

Mesmo com a taxa básica de juros (Selic) em 2% ao ano e inflação anual de 1,60%, a queda do indicador Ibovespa e a desvalorização do real frente ao dólar indicam um descolamento da economia brasileira dos mercados mundiais que surfam relativo otimismo com a saída do isolamento social e a retomada das atividades econômicas. Ainda que os fundamentos econômicos sejamsustentáveis, a instabilidade política aumenta a incerteza econômica, refletindo nos indicadores futuros.

A política econômica brasileira é ancorada em três colunas: o câmbio flutuante, metas de inflação e equilíbrio fiscal. Alterar uma dessas colunas de sustentação pode fazer ruir as demais, levando a economia ao mesmo estado caótico que vimos no ciclo recente de forte recessão.

Analistas do mercado e investidores interpretam a movimentação de quebrar a emenda constitucional que estabelece teto de gastos públicos como uma ameaça à política fiscal, com consequente deterioração das contas nacionais.

O presidente Bolsonaro parece já ter feito sua escolha: aumentar gastos com obras públicas e programas sociais que podem melhorar sua popularidade e garantir sua reeleição, deixando para consertar o quadro fiscal mais adiante. Programas como o Pró-Brasil, um PAC repaginado, e o Renda Brasil, que vai substituir o Bolsa Família, estão na plataforma de lançamento.

Faz-nos lembrar o embate de Dilma com seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que insistia num programa de austeridade fiscal e ficou falando sozinho no governo até pedir para sair. Se os investidores se convencerem que a escalada populista vai aumentar os gastos, tendem a migrar investimentos para o dólar, aumentando a pressão sobre o real e, como consequência, voltar a inflação a patamares elevados, forçando o Banco Central a elevar também a taxa básica de juros.

Já vimos esse verdadeiro “déjà-vu” econômico e seus efeitos nefastos, como mais retração do crescimento, mais desemprego, quebra de empresas, queda da renda e aumento da desigualdade social. Ninguém precisa viver esse pesadelo outra vez.

*VIVALDO LOPES DIAS  é professor e economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA e Gestão Financeira Empresarial pela FIA/USP.  

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