A fim de investigar o impacto das águas mais quentes no continente gelado, em um período de 60 dias, a equipe fará a travessia do Oceano Antártico até a Geleira Denman — considerada aquela com o derretimento mais rápido da Antártida Oriental.
Entre 1996 e 2018, estima-se que a geleira já tenha recuado cerca de 5 km. Os cientistas buscam entender como o aquecimento das águas do mar está afetando essa formação de gelo, já que, caso derreta completamente, o nível global do mar poderá aumentar em até 1,5 metro.
O RSV Nuyina é um verdadeiro gigante dos mares: com 160,3 metros de comprimento e pesando mais de 25 mil toneladas, o navio está em operação desde 2021. Conforme o site australiano ABC News, a embarcação foi desenhada como uma espécie de “disneylândia para cientistas”, porém, seu uso até agora havia sido restrito. Esta é a primeira vez que o imenso quebra-gelo receberá uma equipe de 60 cientistas dedicados à pesquisa sobre o continente gelado.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2025/g/8/0OqajdS0KVHiXszBy5mw/bakaljad.jpg)
Biodiversidade gelada
Durante a viagem de 4 mil km até a geleira, as equipes de pesquisa também estão coletando e analisando a biodiversidade única do Oceano Antártico. Explorando o fundo marinho, os cientistas recolheram espécies raras utilizando um poço úmido especialmente desenvolvido para capturar pequenas e frágeis criaturas sem causar estresse ou machucar os animais.
Entre os achados mais surpreendentes da expedição está o porco-do-mar (Scotoplanes), um animal marinho pertencente à mesma família dos pepinos-do-mar, conhecidos por viver nas profundezas oceânicas, a até 6 mil metros abaixo da superfície.
O que mais impressiona, no entanto, é sua aparência peculiar: com corpos inchados e moles, e pernas curtas e robustas, esse pequeno ser também chama a atenção pela coloração rosa-claro, o que justifica seu nome popular.
Além disso, os pesquisadores conseguiram capturar uma espécie de borboleta-do-mar (Thecosomata), um grupo composto por pequenos caracóis marinhos que flutuam e nadam livremente pelo oceano. Com conchas quase translúcidas, esses animais recebem esse nome porque, ao se moverem pela água, parecem “voar”.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2025/x/t/rbMEEDSoSNgIXbm1srHw/borboletinha.jpg)
“A equipe está extremamente empolgada por ter conseguido capturar essa pequena criatura, observá-la e cuidá-la, para que ela revele todos os segredos que ainda estavam ocultos”, comentou Laura Borreguero, da Parceria do Programa Antártico Australiano (AAPP), em entrevista ao ABC News.
O espécime chegou a pôr ovos em um dos aquários do navio, permitindo aos pesquisadores registrar seu desenvolvimento pela primeira vez na história. A pequena criatura conquistou a simpatia da equipe a bordo, que a batizou carinhosamente de “Clio”.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2025/L/h/t9ibZ8TWCjCNXtdAPXIw/aranhazinha.jpg)
Diversas espécies de aranhas-do-mar também têm sido observadas pela tripulação. O que mais chamou a atenção dos pesquisadores foi o tamanho dessas criaturas, que, segundo eles, eram “do tamanho da sua mão”. Existem mais de 1.300 espécies de aranhas-do-mar, que habitam diferentes profundidades do oceano. Apesar do nome, elas não são aranhas verdadeiras, mas fazem parte de um grupo distinto de artrópodes.
Desbravando os oceanos (não tão) gelados
Os pesquisadores a bordo do RSV Nuyina estão trabalhando 24 horas por dia para aproveitar ao máximo a oportunidade oferecida pela missão. No que diz respeito aos estudos sobre a Geleira Denman, a proximidade da borda da plataforma de gelo possibilitou a coleta de amostras de água do mar nas imediações da geleira.
Essas amostras serão fundamentais para os cientistas entenderem melhor a temperatura da água, a salinidade, os níveis de oxigênio e a presença de metais traços nas áreas ao redor. “Para realmente entendermos quanto calor entra na plataforma de gelo, precisamos estar o mais perto possível para entender esses processos e propriedades do oceano”, disse Borreguero.
As pesquisas já começaram a ser realizadas nos laboratórios a bordo da embarcação, e os resultados preliminares revelam mudanças no sistema de correntes da região. Foi identificado que há uma corrente muito forte contra a plataforma de gelo.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2025/F/P/Sg7nO7SbWd4TVDsEVP7w/equipe.jpg)
Além disso, os pesquisadores observaram águas mais frias do que o esperado em profundidade, enquanto no meio da coluna de água, as temperaturas eram mais altas.
Ainda são necessários mais estudos para compreender como essas mudanças afetam o derretimento da geleira. “É crucial que monitoramos essas alterações para que possamos continuar desafiando e ajustando os modelos climáticos nos quais baseamos nossas estratégias de mitigação e adaptação”, concluiu a pesquisadora.
O vídeo a seguir mostra algumas das criaturas marinhas coletadas pelos cientistas:
(Por Redação Galileu)