Mato Grosso é conhecido por sua beleza e por ser morada de um povo gentil e hospitaleiro. A cultura local é rica e cheia de histórias marcantes e, graças aos pais que passam toda a tradição do estado aos filhos, tem se mantido viva aos longo dos anos.
O Alcides Ribeiro dos Santos tem 56 anos, mora em Varginha, distrito de Santo Antônio do Leverger, e produz viola de cocho desde a infância. Herdou a habilidade do pai, também artesão.
Alcides conta que seu pai, Cateano Ribeiro, fazia o instrumento desde os 8 anos e também aprendeu com o pai dele. Só parou de trabalhar aos 84 anos, quando adoeceu. Caetano partiu aos 88 anos, mas deixou viva a memória cultural de sua cidade.
Alcides trabalhou em uma loja de tintas durante 16 anos, mas sentiu que precisava se dedicar mais ao artesanato e, aos 30 anos, decidiu deixar as vendas para fazer as violas.
O artesão, com o aprendizado passado pelo pai, não deixou a tradição se encerrar e fez questão de ensinar seus filhos desde pequenos. “Eles cresceram me vendo fazer a viola e também aprenderam. Todos sabem o básico de como fazer o instrumento”, relatou com felicidade.
Hoje, os filhos de Alcides seguem caminhos distintos ao do pai e do avô, mas, aos fins de semana, visitam o distrito para ajudar na confecção das violas, pois a procura pelo instrumento tem crescido. São feitos aproximadamente 30 instrumentos por mês.
O artesão segue com a missão de manter a cultura viva. O neto Miguel, de 8 anos, já acompanha o avô nos trabalhos, o que enche seu coração de alegria por poder deixar o legado da família para seus descendentes.
“Meu neto me ajuda na fabricação, pede pra eu tirar fotos dele fazendo a viola. Se Deus quiser, ele será meu substituto. Ele gosta do trabalho”, conta.
Alcides segue o legado do pai, que ensinava a comunidade a fazer a viola, mas vai além. Viaja por todo Brasil para ministrar oficinas e palestras.
“Eu fico muito feliz com esse trabalho, eu não só tiro meu sustento dele, como posso conhecer outros lugares do país, conhecer pessoas, ensinar como fazer a viola e contar um pouco da nossa cultura pra quem quiser ouvir”, relatou.
O artesão criou também o Museu da Viola de Cocho, que funciona na casa dele, no município que fica a 35 km de Cuiabá. Lá estão os artesanatos produzidos por ele e pelo pai, assim como pinturas e retratos que mostram a tradição deixada por seus antepassados.
Dança Dos Mascarados: herança cultural de Poconé.
Em uma cidadezinha aconchegante e calorosa, chamada Poconé, a 104 km de Cuiabá, vive João Benedito da Silva, de 64 anos, que abraçou a missão de manter viva a Dança dos Mascarados. A tradição é passada de pai para filho e somente os homens dançam.
João Benedito começou a dançar com apenas 8 anos. Também aprendeu com o pai, Felipe Marques da Silva, que se apresentava desde os 18 anos e parou de dançar aos 55 anos.
O interesse do João pela dança surgiu justamente ao acompanhar o pai e sentir que aquele também era seu lugar.
“Meu pai tinha que ensaiar para um apresentação e me levou junto. Naquele dia, um dos dançarinos faltou e papai pediu para o coordenador do grupo me deixar dançar. Foi assim que eu comecei”, contou, saudoso.
O dançarino teve dois filhos e também ensinou ambos a dançar. Hoje, é o neto de 14 anos que segue os passos dele e integra o grupo Dançarinos Mascarados de Poconé. O outro neto, de 1 ano e meio de vida, deve ser o próximo.
“Assim que ele tiver idade, eu já começo a ensinar ele a dançar”, promete.
João também se tornou presidente da Associação dos Mascarados de Poconé e ensina crianças com idade entre 5 e 12 anos a dança de seu povo.