Qual o sentido da vida? Esta é uma pergunta recorrente na reflexão filosófica. Mas, primeiro, é preciso considerar que o sentido da vida é só pra quem sente. E aquele que sente tem como pressuposto estar vivo; vivo não no sentido biológico, mas espiritual, que seja ao mesmo tempo imanente e transcendente.
Como se tornar um ser autônomo? Realizar os planos de vida numa singularidade separada do todo e ao mesmo tempo legitimar-se nesse todo?
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Não há exemplo maior dessa possibilidade que o prazer.
Explico. A representação de um objeto está interiorizada na pessoa pelo prazer. Sentir ou não certo prazer ao estar frente a frente com um objeto dependerá certamente da densidade e qualidade dessa representação interiorizada na mente. Daí nasce a aversão, inclusive.
Contudo, se se ficasse nisso, em torno da representação de quem se apresenta, atraído ou avesso ao objeto, ter-se-ia um juízo tão somente empírico. Adverte Kant, “Pois não posso ligar a priori um determinado sentimento (de prazer ou desprazer) a uma representação, a não ser onde o fundamento seja um princípio a priori determinante da vontade na razão” (Crítica da Faculdade de Julgar).
Essa é a dimensão da alma (para aquilo que ultrapassa o físico, o biológico) direcionada a um tal sentimento de prazer no contato com um determinado objeto.
Não há como negar, portanto, que no entendimento do sentido da vida, o prazer ocupa um lugar de destaque, visto que, como já escrito acima, o sentido da vida é descortinado e considerado para aquele que sente, que realiza plano de vida, que está “vivo” num mundo que aparenta ser inflexível (considerando, aqui, sua natureza).
O mundo está aí, posto e determinado, a espera dos vivos, que o preencherão, dando-lhe sentido.
O morto de vida, que vegeta por sobre essas terras quentes ou geladas, não planeja nada e nada lhe indica prazer. Realmente, neste nível de realidade vivente, o sentido da vida é nascer, sobreviver e morrer.
É inquilino que não paga aluguel e nem reforma o ambiente, entregando-se às telhas, que o tempo fez ruína, que o derruba no mesmo piso dantes pisoteado pelos pés que nada calçou.
Na comunhão da vida “é preciso entender que não há mais lugar específico” (Eduardo Wolf). Não se pode recolher-se sem ser notado. O prazer da vida é precedido de audácia e coragem.
Então, qual o sentido da vida? Com exatidão, apreendido e estudado, delimitado objetivamente, seria muita, mas muita, mesmo, pretensão descortina-lo em tão breves reflexões. Mas de algo se afigura bastante possível, passa pelo prazer. Prazer moralmente superior àquele considerado como sinônimo de gozo ou volúpia; prazer erigido sob um forte fundamente intelectual e espiritual, carregado de valores transcendentes.
Nas palavras de Sêneca: “Aquilo que foi doloroso suportar torna-se agradável depois de suportado; é natural sentir prazer no final do próprio sofrimento”.
E de Augusto dos Anjos: “Ah! Dentro de toda a alma existe a prova de que a dor como um dartro se renova, quando o prazer barbaramente a ataca…”.
É por aí…
*GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO (Saíto) é formado em Filosofia e Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); é membro da Academia Mato-Grossense de Magistrados (AMA), da Academia de Direito Constitucional (MT), poeta, professor universitário e juiz de Direito na Comarca de Cuiabá. E é autor da página Bedelho Filosófico (Face, Insta e You Tube).
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