Continuando nossa conversa semanal sobre as oportunidades que uma nova ordem econômica mundial podem gerar para o Brasil e para Mato Grosso no contexto da economia verde, finalmente aterrissamos no nosso estado. A pergunta central é: a economia verde é uma oportunidade ou uma ameaça para o nosso modo de vida e de produção? A resposta é clara: temos muitas oportunidades, mas ameaças gigantes no radar.

 

Além da produção de energia limpa através dos biocombustíveis e de energia elétrica a partir de fontes renováveis, a economia verde engloba o desenvolvimento de sistemas alimentares sustentáveis que priorizam a eficiência de recursos, a proteção ambiental e a equidade social. Inovações na agricultura, como agricultura de precisão, agricultura vertical e alternativas de proteína à base de plantas, estão mudando a forma como produzimos e consumimos alimentos. Esses avanços não apenas contribuem para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e conservar os recursos naturais, mas também abrem novas oportunidades para agricultores, fabricantes de alimentos e empreendedores criarem negócios sustentáveis e lucrativos.

 

Enquanto o mundo luta pelo desenvolvimento sustentável e pela transição para uma economia de baixo carbono, um estado que preserva 62% do seu território e que tem uma renda média em crescimento acelerado, porque seu PIB cresce anualmente a uma razão muito maior que sua população, obviamente parece sob a ótica destes argumentos ser um forte concorrente mundial neste novo contexto econômico. Mas, como dizia minha sábia avó, o diabo mora nos detalhes. E é nos detalhes que estão nossas fraquezas.

 

Embora os números globais mostrem uma grande área preservada, infelizmente o uso do nosso território ainda não atende claramente às rígidas normas brasileiras no que tange às regras de exploração de áreas. A falta de identificação dos reais proprietários e de organização da propriedade privada e pública em território mato-grossense leva a casos de desmatamento ilegal, uso ilegal de áreas para atividades agropecuárias e também ao uso não licenciado de riquezas minerais. Esforços recentes das autoridades públicas buscam corrigir estas distorções, mas a longa cultura de impunidade já deixou uma cicatriz em nossa reputação. Reverter este jogo não é fácil, e requer esforço e comprometimento de todos os setores da nossa sociedade.Esta é uma típica agenda onde o governo precisa fazer muitas coisas, e o cidadão precisa deixar de fazer tantas outras para que esta tendência se reverta.

 

Outro fator preocupante é o crescimento da desigualdade social e econômica. Dados mostram que embora a renda média esteja em crescimento, o aumento da pobreza é considerável no país todo,e também em Mato Grosso. A intensificação de programas sociais nas últimas décadas dá uma clara dimensão do drama do crescente número de pessoas que por diversas razões não conseguem mais acessar oportunidades econômicas neste novo contexto, e se não houver uma clara estratégia de reinserção produtiva destes cidadãos eles estarão condenados a uma vida inteira em busca de apoio na caridade estatal ou privada. Obviamente que garantir dignidade e padrões mínimos de vida ao cidadão é papel e dever do estado, mas não há estado que aguente décadas de crescimento econômico menor do que a necessidade de crescimento de renda do cidadão.

 

A urgência desta agenda de conformidade ambiental e social é gigantesca por dois motivos: primeiro, porque é chave para que nosso território seja o berço da produção na economia verde. Mas também para que investidores do mundo todo possam compreender que vindo para Mato Grosso estarão investindo em uma região que o mundo inteiro reconhece como líder em boas práticas socioeconômicas e ambientais, e que seus investimentos estarão protegidos contra represálias ou embargos que, travestidos de preocupação com a sustentabilidade, na verdade atendem a gigantescos interesses comerciais e estratégicos na nova geopolítica mundial.

 

Resumindo, a economia verde oferece uma infinidade de oportunidades para empresas e indivíduos que buscam causar um impacto positivo no meio ambiente e na sociedade, e está em nossas mãos garantir que o futuro que desejamos para nosso estado seja cultivado hoje. E cultivar este futuro depende de toda nossa sociedade.

*GUSTAVO PINTO COELHO DE OLIVEIRA  é empresário e Presidente do Movimento Mato Grosso Competitivo.

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