CRISTHIANE ATHAYDE
Considere acordar um dia e descobrir que seu nome de batismo foi apenas um rascunho temporário da sua identidade. Parece estranho? Pois Cuiabá viveu isso. Nossa capital, que acaba de completar 306 anos, não nasceu “Cuiabá” – ela encontrou seu verdadeiro nome ao longo do caminho.
Como uma criança que testa diferentes apelidos até encontrar aquele que ressoa com sua alma, nossa cidade já foi Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. Antes disso, era simplesmente o Arraial, no Coxipó. E ainda mais primitivamente, apenas um ponto indefinido às margens de um rio, onde bandeirantes sedentos por ouro encontraram mais do que procuravam: encontraram um futuro.
Há algo profundamente cuiabano nessa capacidade de se refazer – um DNA que compartilhamos, ainda que despercebidamente, em todo empreendimento nascido nesta terra. O que seria de nós se tivéssemos permanecido presos à nossa primeira versão? Essa pergunta ecoa quando observo marcas locais que, assim como a minha, evoluíram sem perder sua essência. Exatamente como nossa capital.
Lido diariamente com histórias de empresários que enfrentam o mesmo dilema que nossa cidade enfrentou: o nome que escolhi representa quem realmente sou? A marca que criei comunica o valor que entrego? E mais importante: essa identidade está protegida no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) para os próximos anos, décadas, séculos?
Poucas pessoas sabem ou recordam, mas Cuiabá recebeu seu nome atual oficialmente apenas 99 anos após sua fundação, quando foi elevada à categoria de cidade em 1818. Imagine se alguém tivesse tentado se apropriar do nome “Cuiabá” nesse meio tempo? Você provavelmente deve estar pensando: “minha empresa nunca vai demorar cerca de um século para se estabelecer”. E está certo.
Na era digital, uma marca não tem 99 anos para encontrar sua identidade – tem pouco mais de 99 milissegundos. O tempo de um deslize de dedo é o que sua marca tem para demonstrar seu valor. Tanto que, em meu dia a dia, vejo empresários descobrindo que o nome perfeito já foi registrado por outra pessoa. Ou pior: usaram sua marca por anos sem proteção, e agora enfrentam a montanha-russa emocional de precisar reinventá-la.
A verdade é que marcas, como cidades, são organismos vivos. Respeitamos tanto a tradição de Cuiabá que às vezes esquecemos que ela precisou se reinventar para se tornar o que é hoje. A nossa amada metrópole do Centro-Oeste nasceu a partir de um simples acampamento de garimpo. O que era apenas uma busca por ouro se eternizou em uma identidade cultural singular, uma maneira diferente de ver e sentir o Brasil.
Talvez você perceba que o nome escolhido há cinco anos já não comporta seu crescimento. Ou que aquele logo criado pelo sobrinho do vizinho, embora carinhoso, não comunica a seriedade esperada. Ou talvez – e me deparo com isso com frequência alarmante – detecte outro empreendedor usando um nome semelhante ao seu, o que gera confusão no mercado.
Lembre-se: os bandeirantes não procuravam por Cuiabá – procuravam ouro. Encontraram ambos. E você, empreendedor, o que realmente busca? Quando aprofundamos as conversas sobre propriedade intelectual, reconhecemos que por trás da procura pelo registro de marca existe um desejo mais profundo: deixar um legado que permaneça através dos séculos.
A cada novo aniversário de Cuiabá, celebramos uma ideia que sobreviveu a impérios, repúblicas, ditaduras e democracias – um simples nome de um local de extração que moldou a identidade de quase 700 mil pessoas. O que sua marca poderia se tornar se você lhe desse a proteção necessária para prosperar pelos próximos anos? Qual seria a versão 2.0, 3.0 ou 306.0 do seu negócio?
Enquanto Cuiabá sopra suas 306 velas, convido você a refletir sobre sua própria jornada empresarial. Se nossa cidade pôde passar de “Arraial” para “Vila Real” para “Cuiabá”, mantendo sua essência enquanto crescia, sua marca também pode evoluir sem perder seu DNA. A questão é: sua marca está blindada para crescer pelos próximos 306 anos? Ou será apenas uma inscrição temporária às margens do rio da história empresarial cuiabana?
Afinal, o verdadeiro ouro da nossa capital sempre esteve na sua capacidade de progredir com autenticidade. Exatamente como as marcas fortes, as que fazem a diferença. E a sua, em qual margem do rio está?
(*) CRISTHIANE ATHAYDE é empresária e diretora da Intelivo Ativos Intelectuais.
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