Dirigentes do Forte Futebol obtiveram na segunda-feira a promessa de que receberão adiantamento de potenciais investidores da liga. O pagamento depende da assinatura dos documentos com o fundo americano Serengeti e a gestora curitibana Life Capital Partners (LCP).

Caso o negócio seja concretizado, a expectativa é executar os depósitos em até cinco dias. Clubes receberão valores entre R$ 4 milhões e R$ 44 milhões, a depender dos critérios estabelecidos pelo grupo. Assim, vários clubes, incluindo o Cuiabá EC, que faz parte desse grupo, podem receber uma gorda quantia para não migrar para a concorrente Libra, que quer ter o domínio das principais agremiações e assim ter o direito de organizar o Campeonato Brasileiro das séries A e B. De acordo com a planilha, o Dourado tem a proposta de receber R$ 11 milhões para mudar de lado.

A antecipação corresponde a 40% do que clubes do Campeonato Brasileiro e 20% do que membros da Série B têm a receber na primeira parcela do negócio, que por sua vez corresponde à metade de tudo o que as investidoras prometeram pagar para se tornarem sócias da liga.

Veja os valores prometidos pelo FF

O dinheiro da antecipação será desembolsado pela XP, assessora técnica do Forte Futebol e responsável por organizar a captação dos investidores. Posteriormente, a empresa será ressarcida por Serengeti e LCP.

O motivo alegado para a antecipação ser feita pela XP é a demora de trâmites burocráticos, como obter a liberação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para a entrada de estrangeiros.

O prazo para o pagamento coincide com a próxima janela de transferências, que ficará aberta entre 3 de julho e 2 de agosto. Nos bastidores, entende-se que o adiantamento servirá de estímulo para que dirigentes concluam seus processos internos e assinem a papelada.

Dirigentes se reúnem em fundação da Liga Forte Futebol — Foto: Divulgação

Dirigentes se reúnem em fundação da Liga Forte Futebol — Foto: Divulgação

A assinatura dos documentos definitivos é o último passo da negociação, dada por dirigentes como resolvida há quatro meses. No início de fevereiro, o Forte Futebol anunciou o pré-acordo com a Serengeti. Desde então, minutas contratuais vêm sendo redigidas, ao mesmo tempo em que cartolas buscaram aprovações em seus Conselhos Deliberativos.

Hoje, o grupo conta com a aprovação dos órgãos internos de 24 dos 26 clubes que formam o Forte Futebol. Apenas ABC e Internacional ainda não concluíram seus trâmites para concretizar o negócio.

A proposta apresentada por Serengeti e LCP prevê o pagamento de R$ 4,85 bilhões para se tornar sócia da liga de clubes, na hipótese de haver todos os clubes de Séries A e B, ou R$ 2,2 bilhões para o cenário em que apenas participam do negócio de 22 a 35 clubes.

Como ainda não houve solução para o impasse entre dirigentes dos dois blocos que se formaram, do Forte Futebol e da Libra, o acordo atual se enquadra na segunda hipótese, de R$ 2,2 bilhões.

Serengeti é um fundo de investimentos sediado em Nova York, nos Estados Unidos, enquanto a LCP é uma gestora de investimentos paranaense, com sede em Curitiba. As empresas se juntaram para comprar 20% da futura liga de clubes. Se viabilizado, esse investimento terá seu retorno por meio dos ganhos obtidos pela própria liga.

Serengeti/LCPMubadala
Valor integralR$ 4,85 bilhõesR$ 4,75 bilhões
Quantidade necessária para valor integral36 ou mais clubes36 ou mais clubes
Valor intermediárioR$ 2,2 bilhõesR$ 4 bilhões
Quantidade necessária para valor intermediário22 a 35 clubes18 a 35 clubes

Entenda o contexto

A promessa de antecipação da verba surge como reação do Forte Futebol à nova oferta apresentada pelo Mubadala à Libra. Trata-se do fundo de investimentos com origem nos Emirados Árabes que, em paralelo, também pretende se tornar sócio da futura liga de clubes.

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O fundo árabe apresentou na última sexta uma proposta “intermediária” de R$ 4 bilhões, para assinar contrato mesmo sem ter todos os 40 clubes das duas divisões nacionais. Na segunda, o Forte contra-atacou.

O temor em ambos os grupos é perder membros, e o dinheiro tem sido usado como principal argumento para prevenir ou motivar as trocas.

Enquanto a Libra sinaliza com R$ 4 bilhões – muito acima dos R$ 2,2 bilhões oferecidos pela Serengeti no cenário parcial –, assessores do Forte Futebol querem blindar o grupo ao garantir o pagamento mais ágil.

Até hoje, só o Sampaio Corrêa tomou a decisão de deixar o Forte Futebol e aderir à Libra. Como negociações entre os grupos se demonstraram inúteis, a aposta continua a ser pelo esvaziamento do adversário ao tirar membros dele.

Controvérsia jurídica

Outro argumento usado por assessores do Forte Futebol, a fim de evitar a perda de membros do grupo para a concorrência, é a afirmação de que a proposta recém-apresentada pela Mubadala possui uma pegadinha em sua redação. A cláusula que consta da proposta diz o seguinte:

– 2.3. Caso a adesão à LIBRA e à Transação seja realizada por, no mínimo, 18 (dezoito) e, no máximo, 33 (trinta e três) clubes das Séries A e B (incluindo necessariamente 7 (sete) dos 10 (dez) primeiros clubes listados no Anexo II), e a LIBRA passe a participar da organização apenas da Série A do Campeonato Brasileiro de Futebol (“Cenário Alternativo”), o Preço de Aquisição corresponderá a R$ 4.000.000.000,00 (quatro bilhões de reais).

O trecho sublinhado pela reportagem contém a parte que motivou controvérsia. Na interpretação de dirigentes do Forte Futebol, o Mubadala está impondo, como condição para o pagamento de R$ 4 bilhões, que a CBF passe a organização do Campeonato Brasileiro à Libra.

Na hipótese de haver dois blocos comerciais, em vez de uma liga com todos os clubes, isto abriria o precedente para que a CBF continuasse a organizar o Brasileirão. Logo, aos olhos desses dirigentes, seria impossível garantir que a responsabilidade fosse transferida a um grupo.

A interpretação dada a este trecho é diferente entre representantes da Libra. Eles alegam que o intuito deste trecho da proposta é garantir que o grupo possa participar da organização do campeonato nacional, de modo a viabilizar a exploração de seus direitos de transmissão – o que é diferente de deter ou controlar todo o torneio, em substituição à CBF.

Quem é quem

São membros da Libra: Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Grêmio, Guarani, Ituano, Mirassol, Novorizontino, Palmeiras, Ponte Preta, Bragantino, Sampaio Corrêa, Santos, São Paulo, Vasco e Vitória.

São membros do Forte: ABC, Athletico, Atlético-MG, América-MG, Atlético-GO, Avaí, Brusque, Chapecoense, Coritiba, Ceará, Criciúma, CRB, CSA, Cuiabá, Figueirense, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Internacional, Juventude, Londrina, Náutico, Operário-PR, Sport, Vila Nova e Tombense. (GE)