Craque se faz em casa, é fato, mas quais são os clubes do Brasil que levam essa filosofia à risca? Historicamente o mercado europeu recorre à América do Sul, e principalmente o Brasil quando o assunto é exportação de talentos no futebol. Não somente, outros polos endinheirados passaram a ver o país com bons olhos. Clubes, então, se especializaram na formação e lapidação desses jovens para poder se manter financeiramente, além do retorno esportivo.

Agora, não só a cultura de utilização da base é diferente de clube para clube, como o momento de pandemia no Brasil obrigou-lhes a reestruturarem-se financeiramente e ajustarem seu calendário com elencos mais recheados.

Hoje em sua primeira participação na Série A do Brasileiro, o Cuiabá renovou seu plantel investindo na contratação de 19 jogadores para a a competição. Como resultado, não aproveitou nenhum jogador oriundo da base e se figura como a única equipe sem nenhum prata da casa da competição. Dos 31 jogadores que formam o elenco profissional, todos vieram de fora. Com a exceção do Dourado, Atlético Goianiense e Fortaleza são os que menos aproveitam revelações da casa, com quatro jogadores, cada. Por outro lado, Inter, Corinthians e Grêmio com 21 jogadores formados nos próprios clubes são os que mais utilizam atletas da base.

Com o advento da Série A, o Cuiabá decidiu investir mais nas categorias inferiores construindo um CT novo em Cuiabá. A diretoria terá um grupo somente para tratar da base. O objetivo é bem claro: formar profissionais.

O Espião Estatístico estudou as carreiras na base de todos jogadores relacionados pelos clubes no primeiro turno do Brasileirão 2021 e compilou as três últimas passagens de cada atleta em seu processo de formação.

Quem usa mais?

Santos, São Paulo, Fluminense… muitas são as famosas categorias de base no Brasil. Historicamente produtora de bons talentos e marcadas por vendas de alto cacife para o exterior.

Em 2021, no entanto, outros três clubes dividiram a liderança entre os que mais utilizaram no campeonato jogadores “formados em casa”, ou seja, com passagens nas categorias de base da agremiação no processo de formação, no primeiro turno do Brasileirão.

Brenno foi uma das joias do Grêmio que assumiu a titularidade e ganhou destaque nacional na temporada — Foto: Liamara Polli/AP; Pool / Getty

Brenno foi uma das joias do Grêmio que assumiu a titularidade e ganhou destaque nacional na temporada — Foto: Liamara Polli/AP; Pool / Getty

Recordista em valor de vendas de atletas formados em casa nos últimos anos, o Grêmio se tornou referência em lapidação e utilização dos jovens talentos.

O maior rival, Internacional, também contou com plantel recheado de pratas da casa, crias do Celeiro de Ases. Destaque para Daniel, vindo das categorias de base, esperou 7 anos pela oportunidade – conquistada – de ser titular do Colorado.

Além do Corinthians, que colocou em prática a filosofia de contenção de gastos no primeiro semestre e só em julho se reforçou – entre eles, Willian, formado no clube, que não entra na lista por ainda não ter sido relacionado.

Palmeiras, antes marcado pela não utilização das categorias de base, passou reestruturação no departamento e colhe frutos, figurando no G-8 do ranking.

Patrick de Paula, Gabriel Menino, Danilo e Renan são alguns dos destaques utilizados por Abel Ferreira.

Wesley e Liziero, dois jogadores com passagem pelas categorias de base de Palmeiras e São Paulo — Foto: Marcos Ribolli

Wesley e Liziero, dois jogadores com passagem pelas categorias de base de Palmeiras e São Paulo — Foto: Marcos Ribolli

Chama atenção também a situação do Cuiabá, equipe que não conta com nenhum atleta formado em casa utilizado na competição. Em sua primeira Série A da história, o elenco todo foi formado por contratações.

Para quem produzem?

Optar ou não pela utilização dos jovens atletas produzidos na base dos clubes impacta diretamente no elenco adversário no Brasil.

Clubes como Internacional, Corinthians e São Paulo que se destacam na temporada pela presença das pratas da casa também figuram entre os maiores produtores de jogador para outros elencos.

Necessidade da venda, má avaliação do ativo do clube, ou tantas outras nuances na formação de um atleta no Brasil são o que fazem com que muitas das equipes acabem formando jogadores para outras.

Como é natural no futebol, atletas seguem os rumos em sua carreira e passam a figurar na lista daqueles que atuam no Brasileirão, mas não pela equipe em que foi formado.

Pedro foi uma das tantas crias de Xerém que tiveram oportunidadade de jogar na Europa antes de retornar ao Brasil — Foto: André Durão / ge

Pedro foi uma das tantas crias de Xerém que tiveram oportunidadade de jogar na Europa antes de retornar ao Brasil — Foto: André Durão / ge

Os casos de Pedro, Gerson e agora Kennedy são demonstrações de que o poderio financeiro como o do Flamengo possibilita que o clube recompre jovens valores que foram negociados ao exterior por valores menores do que receberam os formadores.

Não à toa criou-se o meme na internet de que “craque, o Flamengo faz em Xerém”.

Entre os grandes, o crescimento do Athletico-PR nas duas listas também impressiona. O projeto de base do clube vem conquistando resultados impressionantes, permitindo ao Furacão equacionar suas contas e contar com times melhores durante as temporadas – mais de R$300 milhões em vendas com a geração campeã da Copa do Brasil e Sul-Americana.

levantamento conseguiu constatar relação entre as dimensões dos clubes e o quanto as categorias de base impactam diretamente no campeonato.

Critério

O levantamento do Espião Estatístico usou como base as informações fornecidas junto à plataforma Rede do Futebol, que contabiliza contratos e vínculos junto à CBF.

Sendo assim, para que não haja confusão entre termos usados quando o assunto é a formação de atletas, vale:

Time que se profissionalizou: Equipe que fez o primeiro jogo como profissional – que seja um segundo em campo, mas não apenas relacionado, constando no sistema da Rede do Futebol.

3 últimos times de passagem na base: Registro profissional na CBF, constando no sistema da Rede do Futebol. Não precisa ter feito jogos oficiais – para efeito comprobatório, a RdF só considera jogos sub-17 ou mais velhos. Se o atleta passou pelo clube antes, mas não está registrado como tal, não entrou na lista.

Base: A categoria sub-23 ainda é de formação, então atuações no Brasileirão de Aspirantes entram como passagem na base

*A equipe do Espião Estatístico é formada por: Guilherme Maniaudet, Guilherme Marçal, Leandro Silva, Mateus Pinheiro, Roberto Maleson e Valmir Storti. (Com informações do GE)