Dom Bosco grande fundador da obra dos Salesianos no mundo teve cinco sonhos proféticos e deixou várias pistas sobre o local onde deveria realizar o trabalho missionário dos salesianos na América do Sul.

Segundo ele: “Entre os graus 15 e 20 havia uma enseada bastante longa e bastante larga, que partia de um ponto onde se formava um lago. Disse então uma voz repetidamente: Quando se vierem a escavar as minas escondidas no meio destes montes, aparecerá aqui a terra prometida, de onde jorrará leite e mel. Será uma riqueza inconcebível.”

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Essas Memórias Biográficas de São João Bosco de 1883 foram escritas por seu assistente, padre Lemoyne. Dom Bosco nasceu em 1815 e faleceu em 1888.

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Por causa desses sonhos visionários, a curiosidade e o misticismo têm ocupado a imaginação de fiéis e místicos de todo mundo. Onde estaria a Terra Prometida, a Canaã que sonhara Dom Bosco?

A Argentina, Uruguai e Brasil entraram na disputa para provar que esse lugar santo localizava-se em seus domínios já que os mesmos estariam entre as ditas paralelas 15 e 20.

Sabiam seus líderes religiosos e políticos que por trás desse sonho, tinha um ambicioso projeto de evangelização a ser bancado pela rica Igreja Salesiana Italiana.

Dom Luiz Lasagna Bispo Titular de Trípoli foi designado por Dom Bosco para ser o Superior das missões salesianas nesses países da América do Sul.

Com esse intuito, em 1882 , D. Luiz viaja para o Brasil afim de analisar melhores condições para a implantação de novos núcleos do trabalho evangelizador dos Salesianos.

Na sua bagagem de vinda já existiam várias cartas do Arcebispo de Mato Grosso, Dom Carlos D’Amour (1878-1921) para que o projeto de implantação inicial fosse em Mato Grosso, sob o argumento de que aqui seria o local geográfico do famoso sonho de Dom Bosco.

O próprio D’Amour esteve presente na visita de Lasagna em São Paulo para fazer essa defesa e acertou a ida de Dom L. Lasagna para Mato Grosso.

Um dos argumentos de Dom Carlos era também outro trecho do sonho de Dom Bosco que falava da catequização dos índios:

“E Dom Bosco concluiu a narrativa do sonho dizendo: com a doçura de S. Francisco de Sales os salesianos atrairão para Jesus Cristo as populações da América. Sera coisa muito difícil moralizar os primeiros selvagens, mas os seus filhos obedecerão com toda facilidade as e à palavra dos missionários e com eles fundaram colônias; a civilização tomara lugar da barbarie e muitos selvagens virão fazer parte do redil de Cristo”.

No dia 18 de junho de 1894, vindo do Uruguai pela Bacia Platina com 5 outros padres, o coordenador geral das obras dos Salesianos na América do Sul aportou no Rio Cuiabá diante de uma multidão que o aguardava em festa.

De pronto em Mato Grosso, no mesmo ano, Lasagna já deixou determinado que a missão assumisse a colônia dos Bororos de Teresa Cristina. E em 1895, após os Salesianos adquirirem uma chácara nas margens da Prainha em uma região de morraria, fundou o Liceu de Artes e Ofícios São Gonçalo, com 208 crianças matriculadas. Iniciou-se a grande obra Salesiana em Mato Grosso.

No mesmo local fundou também uma capelinha em louvor a N. Sra. Auxiliadora que mais tarde, em 1912, transformou-se na atual igreja de mesma denominação.

Anos depois 1902, toda a gestão dos índios Bororos e Xavantes do Estado foi passada ao comando dos salesianos que fundaram a Colônia de Meruri entre Gal. Carneiro, Primavera do Leste e Poxoréu.

Com essas ações concretas, seis anos após a morte de Dom Bosco, em 1888, Cuiabá se tornou sede da Missão Salesiana no Estado e se credenciou para participar do concorrido e disputado título da terra do leite e mel.

A julgar pelos investimentos e ações dos salesianos em Cuiabá e Mato Grosso acredito que até os próprios italianos acreditaram nisso de fato. A questão de ser o centro da América do Sul e ter inúmeras etnias indígenas ainda sem “pacificação”, certamente pesou nesse reconhecimento.

Ajudou muito nessa divulgação os inúmeros de cartões postais que circularam na Itália e Europa com fotos desses “selvagens”, veja fotos abaixo.

Dom Aquino Corrêa e Padre Firmo, ambos salesianos, afirmaram por diversas vezes que o lugar da profecia era Cuiabá.

Padre Firmo chegou a afirmar inclusive que o grande lago, sonhado por Dom Bosco era o Lago do Manso. E assim ficamos conhecidos no Brasil e até fora do país por muito tempo.

Com a fundação de Brasília em 1960 Juscelino Kubitscheck, Lúcio Costa e Niemayer numa jogada de marketing estratégica para justificar a escolha do local da construção de Brasília em Goiás usaram também esse argumento levando essa marca para a capital brasileira.

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Para consolidar essa intenção construiu ainda uma catedral em louvor a Dom Bosco e definiu o santo como padroeiro oficial da nova capital federal em 1962. Fama que permanece até os dias atuais.

Aos poucos esse posto de terra do leite e mel foi caindo no esquecimento cuiabano e hoje pouco se ouve falar sobre o tema.

Apesar de não haver um consenso sobre o local exato das profecias e com a licença poética, religiosa e algumas boas evidências históricas, tomo a liberdade de no dia do aniversário de Cuiabá e em sua homenagem, reclamar de volta o nosso título de direito de Terra do Leite e Mel.

Acho inclusive sustentável o título, por todos os aspectos, científicos, semânticos e ambientais. Vocês não acham?

*SUELME EVANGELISTA FERNANDES  é mestre em História e mestre em Antropologia; foi secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano de Cuiabá; e secretário de Estado de Agricultura Familiar de Mato Grosso. É suplente de deputado estadual em Mato Grosso.

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