O Atlético venceu o Boa por 2 x 1 e terminou sua fase de preparação para a estreia na Libertadores, quarta-feira, contra o Deportivo La Guaira. As redes sociais indicam pressão sobre Cuca. Bastam duas informações para entender o absurdo da cobrança neste início de trabalho: 1. ele tem quatro vitórias e duas derrotas; 2. em sua primeira passagem, perdeu todos os seis primeiros jogos e terminou campeão da Libertadores.

Mesmo que o objetivo do Atlético fosse ganhar o bicampeonato mineiro, a pressão soaria estranha, porque o Atlético é líder. Perdeu o clássico para o Cruzeiro, mas o confronto histórico só vale mais do que o ano para o rival, que precisa voltar à Série A. O Galo tem outros objetivos, como Brasileirão e Libertadores.

Mas pressão sobre treinadores não é novidade, até mesmo em alguns clubes da Europa. Arrigo Sacchi costuma dizer que, se você tiver um inimigo e desejar-lhe muito mal, deseje que seja técnico da Roma. Lá, ninguém resiste. O português Paulo Fonseca é semifinalista da Liga Europa e não sorri.

Abel Ferreira trabalhou com Fonseca no Sporting Braga, o atual palmeirense no time B, o atual romanista na equipe principal. Também sabe bem o que é pressão, apesar de ser o protagonista da maior novidade recente do futebol brasileiro. As pichações no Allianz Parque não trouxeram a surrada expressão “Fora, Abel”. Estava escrito “Acorda, Abel.” Digamos que a torcida do Palmeiras está mais paciente do que foi com Vanderlei Luxemburgo, Roger Machado, Eduardo Baptista, até com Felipão.

O Palmeiras não jogou bem seus últimos três jogos, contra Defensa y Justicia, São Paulo e Botafogo-SP. Oito dias atrás, atuou de maneira excelente contra o Flamengo, na final da Recopa. Perdeu nos pênaltis.

Cobramos os resultadistas, mas raramente elogiamos os derrotados, mesmo jogando bem. Dizemos ser absurdo jogar dia sim, dia não e raros são os que compreendem que a rotina sem treinamentos explica, em parte, as oscilações. O Palmeiras é bipolar, porque ganha a Libertadores e vai mal no Mundial, vence a Copa do Brasil e não está bem no Campeonato Paulista.

Acontece que o Palmeiras é o clube do mundo, empatado com o Manchester City, que mais disputou partidas em 2021. Foram 28 jogos. O City ganhou 25 e perdeu três, o Palmeiras venceu 11 e tem 50% de aproveitamento. Também teve um número de decisões maior. Em janeiro, entrou em campo dez vezes, todas decisivas pelo Brasileiro e Libertadores. Em março, disputou as finais da Copa do Brasil. Em abril, as finais da Recopa e da Supercopa. O cansaço é físico e também mental.

Não se trata de se conformar com a situação, mas de não conseguir extrair mais. Ninguém está contente com os resultados, no Palmeiras. Nem a torcida, nem a diretoria, nem os conselheiros, nem o técnico nem os jogadores. Está claro que a maratona pode levar à eliminação até mesmo na fase de grupos do estadual. Mas é o ônus de disputar tudo, todos os dias.

O terceiro caso é o de Rogério Ceni. Seu antecessor, Domenec Torrent, suportou ser técnico do Flamengo por 23 jogos. Rogério foi campeão brasileiro em sua partida de número 22. Hoje, está no jogo 27. Há casos extremos de treinadores da Europa demitidos rapidamente. Juan Antonio Camacho caiu no Real Madrid depois de seis partidas, em 2004. Era relacionamento, não avaliação técnica. O Real Madrid queria ser campeão da Champions League. Só ganhou dez anos depois de demitir Camacho.

Se dependesse de torcida e parte da direção, Rogério teria sido demitido depois de doze partidas. Marcos Bras abriu os braços em sua proteção e disse que o técnico poderia saltar de avião . O vice-presidente de futebol saltaria atrás e ofereceria o para quedas. Marcos Braz foi brilhante. Os que querem a queda de Rogério Ceni, idiotas da subjetividade. (Globo Esporte)