Vítima de abuso de sexual seguidas vezes pelo então namorado de sua mãe, quanto tinha 11 anos, o arquiteto urbanista Fernando (nome fictício escolhido por ele), hoje com 37 anos, usa psicotrópicos para dormir e faz acompanhamento semanal com psicóloga, há quase duas décadas. Após dois casamentos convencionais frustrados, ele assumiu o relacionamento homoafetivo com um colega de trabalho, 10 anos mais jovem.
Atualmente, Fernando incentiva e participa de grupos de combate ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescente, em uma cidade de Mato Grosso. “É um tema que tentam jogar para baixo do tapete e evitar o debate, porque envergonha a sociedade. Mas é essencial a discussão ampla, geral e irrestrita”, avalia o arquiteto.
Ativista da luta contra abuso de crianças, a psicóloga Rosana Bondespacho Farias possui anos de experiência em atendimento de centenas de casos do gênero e compreende Fernando. “É um crime horrível, que prejudica a vida de uma criança para sempre. A criança que é abusada se torna um adulto infeliz”, decretou Rosana, praticamente explicando a situação do arquiteto Fernando.
Rosana Farias diz que as consequências muitas vezes são irreversíveis, na vida da criança e do adolescente. “Não tem como entender. As nossas crianças e adolescentes são prioridades e devem ser protegidas de todas as maneiras”, justificou Rosana Farias, para a reportagem do portal de notícias Cuiabano News.
Servidora concursada da Prefeitura de Nova Ubiratã (481 quilômetros ao norte de Cuiabá), Rosana Farias considera crucial o engajamento de toda sociedade e do poder público, neste 18 de Maio – Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
“É indispensável que todas as pessoas de bem venham participar. Principalmente o Ministério Público, o Poder Judiciário, profissionais da assistência social e da psicologia, imprensa e organizações de bases populares”, ponderou Bondespacho Farias. Ela classifica como “assustador” o número de casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, no país.
“A criança ou adolescente que sofre abuso se torna adulto que não compreende bem a vida. Vira uma pessoa que vai levar essa marca para sempre. A sociedade precisa combater o mal terrível. É silencioso, porque acontece no interior dos lares. Aliás, crianças e adolescentes geralmente são vítimas de pessoas muito próximas. Talvez parentes ou amigos da família”, argumentou a profissional da Psicologia.
“E não são somente meninas que são abusadas, mas também meninos. Muitas crianças não têm coragem de falar, então, o caso fica no interior da família. As crianças sofrem coação, são chantageadas emocionalmente, para manter o silêncio! O pedófilo diz: ‘não conte a ninguém, senão vai fazer mal para a família’. A culpa nunca é da criança e, sim, sempre é culpa é do pedófilo; do adulto que sente desejo por criança e coloca em prática”, complementou Rosana Farias, em entrevista.
Data de luta
Maio Laranja é o nome dado ao mês de combate ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescente. E 18 de maio é considerado o Dia Nacional desta luta. A data foi escolhida após o bárbaro caso da menina Araceli, de 8 anos, que sofreu abusos sexuais e foi assassinada, no mesmo dia, em 1973, em São Paulo (SP).
Segundo lugar no ranking de países com maior número de ocorrências de exploração sexual infantil, o Brasil somou cerca de 500 mil casos somente em 2018. Os dados alarmantes, divulgados pela organização internacional Freedom Fund, reforçam a importância combater e se evitar a naturalização dos crimes sexuais contra crianças e adolescentes, em todo o país.
“Muitas vezes a vítima é culpabilizada pela violência sofrida. Se não falarmos sobre isso, não haverá mudança”, afirma Rosana.