Na semana passada a consultoria econômica Tendências, uma das maiores e mais respeitadas do país no segmento de análise econômica, divulgou denso estudo com projeções de crescimento do PIB dos 27 estados em 2022. Mato Grosso aparece como o estado que terá o maior desempenho, com crescimento estimado em 5,6%, seguido de Mato Grosso do Sul, 4,6% e Goiás 3,1%. Nesta semana, o IBGE divulgou pesquisa de desemprego do último trimestremóvel (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua-PNAD-C), mostrando que Mato Grosso, pelo segundo semestre seguido, é o segundo o estado brasileiro com a menor taxa de desemprego (4,4%), atrás apenas de Santa Catarina (3,6%).

 

A força motriz para essa excepcional performance foi o setor agropecuário. Alavancado pela expansão da produção de soja, milho, algodão, carnes e impulsionado pela forte demanda internacional de commodities agrícolas, alta de preços dos alimentos no mercado doméstico e pela acelerada industrialização de etanol de milho.

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A forte expansão econômica é a principal característica da economia de Mato Grosso nas últimas três décadas. O estado transformou em vantagem competitiva suas condições  climáticas (solo, clima, água, baixa ocorrência de intempéries naturais). Aliou pesquisas públicas, produzidas pelas universidades e Embrapa, à pesquisa privada e se transformou em uma potência mundial do setor agrícola, tendo como base a exportaçãode soja, milho, algodão, carnes e madeiras.

 

Nesse lapso temporal (1992-2022) houve forte expansão da produção agropecuária, elevação da produtividade agrícola, crescimento do Valor Bruto da Produção e aumento da rentabilidade dos negócios agropecuários. O estado aumentou sua participação relativa no PIB nacional de 0,5% (1994) para 2,0%(2020).A participação na balança comercial do país passou a ter a relevância que não tinha antes, com o aumento exponencial das exportações.

 

Ainda que tardiamente, o estado avança na transição de economia primária agroexportadora para a posição de economia também industrial, tendo como carro chefe o processamento de alimentos, industrialização do etanol de milho. A produção de celulose é outro segmento industrial que apresenta grande potencial para crescimento.

 

A expansão da infraestrutura logística com investimentos do governo estadual, privatizações de vários trechos rodoviários, avanço da Ferrovia Vicente Vuolo para as áreas centrais de produção agropecuária, chegada da tecnologia 5G em regiões agrícolas são movimentos que contribuem significativamente para acelerar a transição para uma nova matriz econômica estadual.

 

Todavia, a agenda social não caminhou na mesma velocidade de cruzeiro da agenda econômica. No mesmo período (1994-2022), a renda do trabalho cresceu em níveis bem inferiores que o crescimento do PIB. A quantidade de famílias em situação de fragilidade social aumentou no mesmo período.

Estudo da Fundação Getúlio Vargas-FGV Social, com base na PNAD-C, demonstrou que 20,24% da população de Mato Grosso (aproximadamente 708 mil pessoas) viveu em situação de pobreza durante o ano de 2021. Para definir pobreza, o estudo utiliza o conceito de pessoa que tem renda mensal de até R$ 497,00. Dados divulgados pela Secretaria Estadual de Assistência Social e Cidadania (Setasc), mostram que, em abril de 2022, 139.207 milfamílias (aproximadamente 408 mil pessoas) encontravam-se em situação de pobreza e extrema pobreza no estado.

 

O aquecimento da atividade econômica e aumento do emprego ajudaram a reduzir os níveis de pobreza do ano passado para este ano. Mesmo com a redução, a quantidade é elevada e preocupante.

 

Os dados econômicos e sociais confirmam a necessidade de a agenda social ser tão prioritária quanto a econômica. Colocar foco na agenda social é o mapa do caminho para reduzir a pobreza no estado e garantir que o crescimento seja sustentado e transforme-se em desenvolvimento econômico e social.

 

As tendências indicam que o novo ciclo de desenvolvimento de Mato Grosso terá como principal turbina propulsora a industrialização de alimentos e da sua produção agropecuária. A transição para uma economia industrial e de serviços não significa abandonar a vocação natural do estado, que é a produção agropecuária competitiva, com alta eficiência, produtividade e rentabilidade. Ao contrário, uma nova matriz econômica deve integrar e sincronizar o agronegócio, agricultura familiar, indústria, comércio e serviços no mesmo ambiente de negócios, promovendo resultados na eficiência econômica, proteção social e sustentabilidade ambiental.

 

*VIVALDO LOPES DIAS   é professor e economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em  MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP  

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