Geólogos da Universidade Curtin descobriram uma cratera de impacto que parece ser a mais antiga do mundo em uma área de deserto no noroeste da Austrália. Essas formações geológicas, resultantes da colisão de um asteroide ou meteoro com a superfície de um planeta ou lua, são extremamente raras: há apenas 128 crateras conhecidas no mundo. A descoberta foi anunciada em um artigo da revista Nature Communications, publicado nesta quinta-feira (6).

Análises geológicas recentes revelaram que a Cratera do Polo Norte, como foi batizada, pode ter se formado há 3,47 bilhões de anos. Essa descoberta desafia o recorde anterior, que pertencia à Cratera de Yarrabubba, também na Austrália Ocidental e encontrada pela mesma equipe, e tem idade estimada em mais de 1 bilhão de anos.

Os cientistas descobriram a nova cratera durante uma série de expedições feitas em parceria com o Serviço Geológico da Austrália Ocidental (GSWA), iniciadas em maio de 2021. O objetivo era encontrar indícios físicos e científicos que sustentassem uma teoria alternativa proposta pela equipe sobre a formação dos continentes. De acordo com os pesquisadores, a energia necessária para a criação dos continentes teria sido gerada por colisões de meteoritos gigantes.

Mais especificamente, em 2022, os pesquisadores publicaram um artigo na revista Nature sugerindo que um impacto colossal ocorrido há cerca de 3,6 bilhões de anos teria dado origem a uma extensa região de 250 mil quilômetros quadrados na Austrália Ocidental, hoje conhecida como Cráton de Pilbara. Dessa forma, as expedições buscavam encontrar justamente a cratera que comprovasse essa colisão.

Polêmica

As rochas mais antigas já identificadas remontam a 3 bilhões de anos, e estão localizadas nos núcleos de grande parte dos continentes atuais. No entanto, como ainda existem poucas evidências que expliquem sua origem, cientistas elaboraram algumas hipóteses sobre como esse processo pode ter se desdobrado.

Alguns pesquisadores sugerem que essas rochas se formaram sobre jatos de lava ascendentes vindas do núcleo metálico derretido do planeta, de maneira semelhante ao movimento de uma lâmpada de lava. Outros especialistas defendem que sua formação ocorreu por meio da tectônica de placas, com a colisão e sobreposição de rochas. Embora tenham suas diferenças, ambas possuem um ponto de intersecção: a dissipação do calor interno da Terra.

Devido à escassez de registros sobre quedas de meteoritos nos primeiros bilhões de anos da história da Terra, estimada em aproximadamente 4,5 bilhões de anos, a teoria proposta pelos cientistas australianos gerou debates e divergências na comunidade científica.

No estudo inicial, os pesquisadores sugeriram que essas colisões de grande magnitude liberaram uma quantidade extrema de calor, suficiente para derreter as rochas da camada superficial do planeta. Esse processo teria permitido que o manto subjacente originasse extensas massas de material vulcânico denso, que, ao longo do tempo, deram origem à crosta continental.

Jornada até a cratera

As expedições em busca da cratera começaram justamente no Cráton de Pilbara. As primeiras visitas ao lugar revelaram a presença de cones de estilhaçamento, que são formações características de crateras de impacto, em uma região conhecida como Antarctic Creek Member.

Os cones de estilhaçamento — Foto: Chris Kirkland/Curtin University
Os cones de estilhaçamento — Foto: Chris Kirkland/Curtin University

“São essas estruturas lindas e delicadas que se parecem um pouco com uma peteca de badminton invertida com a parte superior arrancada”, explicou Tim Johnson, coautor do estudo, em entrevista à ABC. “A única maneira de formar isso em rochas naturais é por meio do impacto de um grande meteorito”. Foi aí que os pesquisadores se deram conta de que aquela formação rochosa era uma cratera de impacto.

Os cientistas reuniram amostras geológicas para analisar a idade dos cones de estilhaçamento. Em expedições posteriores, a equipe ainda identificou uma espessa camada de basalto no solo, que não apresentava qualquer sinal de deformação por impacto. Com base nesses achados e nos resultados laboratoriais, concluiu-se que a colisão ocorreu na mesma época em que essas rochas se originaram, por volta de 3,5 bilhões de anos atrás.

Embora a descoberta seja importante para o estudo da evolução geológica da Terra, ainda não se pode afirmar os desdobramentos que esse grande impacto teve na formação dos continentes. Pesquisas adicionais devem ser conduzidas para encontrar outras evidências que suportem a teoria da equipe australiana.

“Faremos as várias coisas que fazemos com as rochas em nossos laboratórios para analisá-las em busca de todos os tipos de elementos, isótopos e microestruturas. Vamos realmente destrinchar essa descoberta única”, completou Johnson. “É claro que esperamos que outros possam ir até lá, vê-los por si mesmos e tirar suas próprias conclusões.”

(Por Redação Galileu)