Narra meu pai sobre sua infância, o que cheguei na minha, a vivenciar alguma coisa.

O isolamento que vivia a Cuiabá de outrora, com falta de distrações, não havia televisão, boate nem shows de grandes artistas nacionais, geraram hábitos sociais que hoje estão completamente desaparecidos, esmagados pelo corre-corre do ritmo trepidante da vida contemporânea que empolga a Cidade Verde.

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A vida social naquele tempo era feita de visitas para servir de pretexto para se consolidarem ainda mais velhas amizades, nos aniversários, na Páscoa, no Natal, nos nascimentos nos casamentos e nos falecimentos. Fiz inúmeras com meus pais.

A demonstração de solidariedade nas horas difíceis, constituíam uma tônica da nossa gente.

No final do ano as famílias faziam suas viagens de férias, com destino ao Rio de Janeiro, a são Paulo ou às estações de águas etc.

Os que iam viajar tinham o costume de irem as casas dos amigos ou parentes levar-lhes suas despedidas. Estes por gentileza se sentiam obrigados a irem ao porto levar seu abraço aqueles que embarcavam na Iguatemi na Eolo, na Guaporé ou na cidade de Corumbá que eram as lanchas que faziam a linha Cuiabá Corumbá.

E lá permaneciam no porto até que a embarcação fazia a curva, após a ponte Julio Muller, iniciando a viagem, passando pelo porto soltando três apitos e dirigindo-se águas abaixo.

Em meio aos acordes de uma banda de música, provocando lágrimas nos rostos da mães, noivas ou de esposas que acenavam com lenços brancos, a embarcação singrava as calmas águas do Rio Cuiabá com destino a Corumbá.

Dessas vagarosas embarcações, a que mais emoção provocava na partida era a Iguatemi, de propriedade dos Irmãos Boabaid devido ao som de seu apito, que era a própria imagem sonora da saudade que já começavam a sentir os que iam e os que ficavam.

Quando o viajante regressava, aqueles a quem eles fizeram visitas por ocasião da partida, sentiam moralmente obrigados a lhe fazer uma visita de boas-vindas. É aí, com longos papos que o conterrâneo contava as novas das grandes metrópoles. Aí ficavam sabendo detalhes da queda do Presidente Washington Luís das providencias do governo provisório, da política adotada por Getúlio Vargas e da atuação de nossos Senadores e Deputados Federais.

Minha querida Cuiabá, terra de histórias.

*EDUARDO GARGAGLIONE PÓVOAS é odontólogo em Cuiabá; pós-graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

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