Cuiabá-MT a partir da década de 60 e até meados de 80 concentrou um acentuado fluxo migratório. A expansão da capital para o Norte de Mato Grosso determinou uma concentração local de capital na cidade, resultando em uma maior concentração da população advinda dos movimentos migratórios. Para garantir a sua sobrevivência, parte desse contingente populacional optou pelas invasões de terras públicas, margens de córregos, áreas de nascentes de água, entre outros, como até hoje conhecemos. Assim nasceu o bairro Leblon, entre outros, na sub bacia do Barbado, o qual era alimentada por várias pequenas nascentes, mas estas foram extintas pela ocupação antrópica ao longo desse córrego.
Conforme o engenheiro Noé Rafael da Silva, ex diretor da antiga Sanemat e Sanecap, o córrego do Barbado é um recurso hídrico estritamente urbano que está localizado na parte centro-leste da cidade de Cuiabá, com nascente no Parque Estadual Massairo Okamura, localizado no bairro Morada do Ouro, percorrendo 9.400 metros de extensão até desembocar no rio Cuiabá, no bairro Praeirinho, no Porto, antigo 2º Distrito de Cuiabá.
Fazem parte dessa sub bacia hidrográfica os bairros Morada do Ouro, Morada do Ouro III, Terra Nova, Jardim Aclimação, Bela Vista, Canjica, Bosque da Saúde, Pedregal, Jardim Leblon, Loteamento Dom Bosco, Campo Verde, 21 de abril, Renascer, Castelo Branco, Carumbé, Campus da UFMT, Jardim Europa, Jardim Tropical, Jardim das Américas, Jardim Kenedy, Grande Terceiro, Jardim Califórnia, Praieiro, Praeirinho e Bairro Barbado, confirma o engenheiro.
Hoje, três nascentes permanecem parcialmente preservadas e estão localizadas nesse Parque, no bairro Canjica, próximo ao Centro Político Administrativo – CPA. Este córrego é um dos maiores afluentes da margem esquerda do rio Cuiabá no perímetro urbano da cidade e, necessita de ativa vigilância dos poderes públicos, ambientais e da população em geral. São muitos os bairros que produzem lixo, esgotos, águas servidas que rumam para esse córrego, atingindo o rio Cuiabá. Os moradores precisam se apoderar dessa consciência de vigilância e preservação ambiental para a sua saúde e saúde da cidade. Os vereadores devem se unir e apoiar recursos financeiro ao saneamento básico, investimento este que diminuirá custos para a saúde, ao meio ambiente, bem como, com a despoluição do rio Cuiabá que finaliza no Pantanal.
Vale ressaltar que a partir da construção do Centro Político Administrativo, com a instalação da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT e mais recentemente, outros empreendimentos de expansão urbana tais como Shopping Center Três Américas, o Shopping Pantanal, além de grandes empreendimentos imobiliários instalados ao longo da sub bacia do Barbado, mudou o desenho urbanístico da cidade e transformou este Córrego em um canal de esgoto a céu aberto. Necessário se faz um trabalho de educação ambiental com essa população para a preservação dessas nascentes. Dar conhecimento aos moradores sobre a importância da preservação do córrego para a cidade e para os bairros.
As ocupações irregulares na área de preservação permanente ao longo do córrego Barbado, ocorreram sem que houvesse cumprimento das legislações ambientais e urbanísticas. Além disso, esse córrego também sofreu os mais diferentes tipos de impactos ambientais, haja visto que todo o seu percurso foi canalizado, ponderou o engenheiro.
Fazendo parte da obra da copa 2014, o governo do estado, implantou a avenida Parque do Barbado, a qual é a principal ligação direta entre as avenidas Professora Edna de Albuquerque Affi (das Torres) e Fernando Corrêa da Costa. A via facilitou o acesso à ponte Sérgio Motta que liga Cuiabá a Várzea Grande para moradores de várias regiões de Cuiabá, além de melhorar a mobilidade da região do Coxipó, assim como da cidade industrial.
Também foi construída uma Estação Elevatória de Esgoto – ETE, no final do córrego do Barbado para a adução do esgoto dessa sub bacia até a ETE Engº Zanildo Costa Macedo, conhecida como ETE Dom Aquino, localizada no bairro D. Aquino, na capital. Presume-se que se encontra em funcionamento, tratando parte do esgoto da cidade.
Por fim, devido as ações antrópicas de muito tempo ao longo do córrego do Barbado, sem nenhuma fiscalização, sem nenhum cuidado, fica praticamente impossível qualquer tipo de remoção de edificações para o restabelecimento ambiental original. O que não é bom para a cidade e para o rio Cuiabá. A forma de atenuar os impactos ambientais no córrego do Barbado, seria a construção de 100% da rede coletora de esgoto nessa sub bacia. Daí a necessidade de os governantes priorizarem em seus planejamentos governamentais, o SANEAMENTO. Esgoto tratado é vida. É saúde. É preservação dos rios e das nascentes. O cansaço dos homens, as privações sofridas, o desencanto com os políticos, o avanço da exploração de terras e a luta pelo serviço de saneamento básico, remetem a uma ação mais eficaz dos governantes por uma política pública eficiente do Saneamento Básico”. São obras enterradas que trazem vida.
Na década de 90, novas invasões ocuparam as áreas mais estáveis das vertentes do córrego Barbado, o qual ficou conhecido com o nome de “grilo”.
O nome Barbado, o qual empresta o nome ao referido manancial, ao contrário do que muita gente pensa, não é devido ao peixe Barbado, muito abundante no rio Cuiabá, mas sim ao amigo de Miguel Sutil, João Francisco se refere pela alcunha de “Barbado” que buscavam ouro às margens do córrego da Prainha e demais afluentes do Cuiabá em 1722.
(*) NEILA BARRETO é Jornalista. Mestre em História. Membro da AML e atual presidente do IHGMT.